Hoje escrevo sobre a endometriose com uma certeza no meu coração. Todas as doenças são uma sirene activada pelo corpo, colocando um sinal de alerta máxima com uma mensagem fundamental: precisas parar e olhar para o teu corpo, para a tua vida, para as tuas emoções e para os teus hábitos.
Perceber o corpo e a mente
Escrevo este artigo na Índia, onde me encontro sozinha, curiosamente na altura em que estou a menstruar. Antigamente nem saia de casa quando estava com o período, tudo parava – trabalho, vida social, e acima de tudo, o corpo – que parava com tanta dor e, com o choque de uma dor que me fez sentir muitas vezes que ia morrer, ao ponto de efetivamente desmaiar.
Mas hoje o meu dia começou às 6h da manhã e já fiz Yoga duas vezes, meditação, subi e desci escadas, entre outras coisas…
Fui diagnosticada com o grau máximo – IV, aos 23/24 anos de idade. Mas foi aos 18 que tudo começou. Foram precisos 5 anos para descobrir a doença que me levava a gritar de dor, que me levava a tremer, e que me levava a apagar, quando o choque era demasiado grande para eu permanecer consciente.
Atualmente agradeço muito esta sirene que soou todos os alarmes do meu corpo. Na verdade, se não fosse ela, não estaria na Índia pela quarta vez consecutiva, a fazer o meu master degree em Meditação.
A endometriose levou-me a fazer algo muito importante – escutar-me, respeitar-me, amar-me e a estudar o motor do nosso corpo, a mente. Nós esquecemo-nos do quanto ela é poderosa e capaz de criar doença…
Tudo começa aqui – os pensamentos, pensamentos que geram emoções, emoções que geram comportamentos, comportamentos que geram vícios, conflitos e, quando nos damos conta, não temos qualquer controlo sobre o nosso corpo, a nossa vida…
Não fazemos o que gostamos, passamos a vida mais preocupados com o que os outros pensam, do que com o que nós precisamos, e assim num loop automático e inconsciente, vamos alimentando os nossos órgãos internos, as células e moléculas com o veneno do stress prolongado, com a raiva, com a tristeza e o vazio de quem não se sabe respeitar nem ouvir o seu corpo.
Claro que isto leva a que existam muitos gritos internos, que não se exteriorizam, até que um dia, o corpo físico expressa através da dor, esse grito que não foi dado, que foi reprimido e ignorado. As doenças são gritos de dor da nossa alma.
Aquilo que acredito ao dia de hoje? Tenho 36 anos, passaram 12 desde que fui diagnosticada e pelo meio fui submetida a duas operações, passei por tratamentos hormonais violentos… Mas a solução era sempre a mesma: tomar a pílula contínua para não menstruar.
Não me consegui convencer com esta “solução”, fui atrás de respostas, de alternativas, e fiz descobertas lindas que me trouxeram inclusive para o meu propósito de vida – professora de meditação, autora, facilitadora de retiros, dinamizadora de palestras e workshops.
As respostas que procurava
Como cheguei até aqui? Decidi que se este corpo funciona como um todo, era preciso procurar soluções que cuidassem desse todo. Foi então que descobri:
Meditação e Yoga
O calmante natural que me trouxe a serenidade que precisava para atingir primeiro que tudo uma saúde mental.
Homeopatia
As minhas referências são o Dr. Amândio Dias e Lisa Joanes.
Dieta macrobiótica
A minha referência é a Daniela Ricardo, do projecto aBiofamily, que escreve também para o Simply Flow.
Acupuntura
A minha referência é Raquel Costa Frade que se especializou mesmo em endometriose.
Estes pilares em conjunto – alimentação a partir da comida (macrobiótica), alimentação a partir da mente (yoga e meditação) e tratamentos naturais para o meu corpo físico (homeopatia e acupuntura), – permitiram-me perceber que é preciso termos uma visão holística do ser humano.
Somos seres de emoções, carregados de pensamentos, de memórias, e é preciso urgentemente compreender que a nossa saúde depende da forma como nos sentimos, pensamos e agimos.
Se todos tivéssemos consciência disso, se todos percebêssemos que é urgente oferecer à mente a mesma higiene que oferecemos aos dentes, a partir do hábito de os escovar, e ao corpo, a partir do hábito de tomarmos banho, a maioria de nós não precisaria ficar doente para rever a forma como vive, ou melhor, como sobrevive.
Os conselhos que dou
Para todas as mulheres com esta doença, que me possam estar a ler, peço que antes de desistirem de acreditar, primeiro percebam que há ainda um longo trabalho a fazer:
- Analisem se meio mundo não se encontra à frente de vocês mesmas e se cuidam de toda a gente menos de vocês;
- Observem como se sentem de cada vez que dizem sim a alguém, e esse sim vos desrespeita porque não sentem vontade de o fazer. A endometriose está ligada ao fígado, o fígado está ligado às emoções da raiva que é uma consequência da impotência e frustração. Se desejam libertar a raiva, digam o sim primeiro a vocês mesmas. Vocês devem ocupar o primeiro lugar das vossas vidas;
- Mudem a vossa alimentação, enchemo-nos de produtos altamente inflamatórios como é o caso do glúten, queijo (lácteos no geral), e açúcares. Sejam acompanhadas por especialistas que vos possam dar uma alimentação para limpar o corpo das toxinas que acumulamos ao longo dos anos;
- Usem as terapias complementares para trazer ao vosso corpo físico o equilíbrio que necessita para voltar a viver sem dor.
Há muitas mulheres que me respondem: “Ai Rute, mas é tão difícil fazer todas estas mudanças…”, e eu despeço-me deste artigo, respondendo com uma conclusão muito simples: É muito mais difícil não viver e viver numa dor, que nos mata de dia para dia, primeiro a nível emocional e depois a nível físico.