Ter uma alimentação saudável deve ser um estilo de vida, e não uma forma alimentar imposta, envolta em regras irrealistas difíceis de implementar. Quando assim o é, rapidamente deitamos por terra a motivação que nos fez procurar a mudança em primeiro lugar.
Esquecemos aquilo que realmente nos moveu e damos por nós a afastarmo-nos do foco e a compensar com erros alimentares e excesso de peso na consciência. É verdade! Acontece e eu vejo isso diariamente em consulta.
De qualquer forma, independentemente da forma como se encara a alimentação saudável, uma coisa é certa: é muito mais fácil ter rotinas durante a semana de trabalho, de segunda a sexta, em que a nossa vida está mais programada e as nossas rotinas acabam por ser mais estáveis, do que ao fim de semana, feriados ou períodos de férias (mesmo que curtos).
Parece que fim de semana e dieta são dois conceitos que não combinam.
É verdade que na vida e na alimentação a palavra de ordem deve ser o bom senso e não é por um pequeno desvio na rotina, na escolha alimentar ou nos horários das refeições, que devemos considerar que estamos a deitar por terra todo o nosso esforço em termos uma alimentação mais consciente e equilibrada.
No entanto, a ideia que por vezes se instala de que se fizermos uma alimentação regrada de segunda a quinta será o suficiente para “desbundar” de sexta a domingo é completamente errada.
O nosso metabolismo não usa calendário.
A semana tem 7 dias e não apenas 4 ou 5. Esses 2 ou 3 dias de exagero alimentar, se forem realmente desregrados, vão ter impacto e consequências. Na verdade, eles vão ser contabilizados pelo seu organismo, quer sejam feitos à segunda feira ou ao sábado.
Se pensarmos no consumo alimentar como uma forma de entrada e consumo de energia podíamos até comparar com as nossas poupanças mensais e fazer a analogia simples da conta poupança ao final do mês.
Se eu poupar dinheiro durante a semana, mas gastar de forma desmesurada ao fim de semana, ao final do mês provavelmente não vou conseguir guardar nada extra, ou seja, não poupo nada.
No final das contas, as perguntas que nos colocamos ao fim de um mês de dieta: «Por que razão a balança não colabora? Será que a dieta não funciona comigo? Será a tiroide? Eu tenho sido tão regrada durante a semana!!! Não é justo!»
Reconsidere… avalie não os 5, mas sim os 7 dias da semana. Será que os fins de semana não estão a boicotar os seus resultados? Será que os salgadinhos do filme de sexta feira à noite, os copitos de vinho do jantar de sábado, a ida àquela pizzaria no domingo e aquela bola com creme no passeio com a família não tiveram impacto? Provavelmente sim!
Fazermos dieta a semana toda e depois, ao fim de semana, não conseguirmos resistir ao relaxamento característico dos dias de folga e comermos este mundo e o outro não resulta.
Então, como compensar?
Minimizar o estrago pode ser uma das soluções, não tendo por base o clássico lema de “perdido por 100 perdido por 1000” e assim, em vez de comer sem regras, poderá provar (sem exageros), dividir sobremesa e dizer que não ao segundo copo de vinho para que o estrago não seja total.
Aos fins de semana, quando nos levantamos mais tarde, o facto de existir uma falta de rotinas e ausência de horário fixo para almoçar ou jantar, promove a falta de organização.
Muitas vezes esquecemo-nos daqueles pequenos lanches responsáveis por nos manter saciados ao longo do dia e, quando nos sentamos à mesa para comer, junta-se a fome com a vontade de comer e é muito mais complicado controlar tanto a quantidade, como a qualidade dos alimentos que ingerimos.
Assim, independentemente do dia da semana é importante não esquecer os horários e, eventualmente, porque não considerar a utilização de lembretes no telemóvel ou recorrer a uma das 1001 aplicações disponíveis para o efeito. Fará toda a diferença na hora de controlar o disparate.
Organize-se e vá para o evento do fim de semana de “barriga cheia”. Se chegar ao restaurante saciado, não cairá na tentação de atacar o pãozinho com manteiga, os patês, os enchidos e os queijos da serra que estarão sobre a mesa. Sugiro normalmente comer uma sopa antes de sair de casa para reconfortar o estômago e ajudar a sentir-se mais saciado. Verá que vai fazer toda a diferença!
Para além de todas estas estratégias, pode sempre optar por uma dieta de compensação, um pouco mais rigorosa, com uma duração de 1 a 2 dias, para tentar contrabalançar o estrago.
Pode optar por sumos funcionais, batidos, sopas e saladas, acompanhadas de pequenas refeições ligeiras ao longo do dia. O ideal era partilhar com o seu nutricionista, por forma a que, em conjunto, consigam chegar ao seu plano compensatório eficaz e adequado para momentos de maior estragação.
Muito se fala no “dia da asneira”. Um dia completo a ingerir indiscriminadamente alimentos hipercalóricos, fora do plano, terá um impacto brutal. Pense antes na “refeição da asneira” e guarde-a para momentos que lhe façam verdadeiramente sentido: um dia especial, uma data importante ou uma celebração em particular.
Não precisa de viver numa prisão alimentar, apenas fazer escolhas conscientes e aprender a minimizar o estrago.