Alimentação e Diabetes Mellitus
Este é um tema que me chega ao coração. Não sou diabética, graças a Deus, mas foi a Diabetes que me fez apaixonar pela Nutrição. Trabalhei vários anos num serviço de Endocrinologia e, como tal, muitos dos meus pacientes são diabéticos. 13% dos Portugueses são diabéticos. São números assustadores, que crescem todos os anos, mas felizmente está nas nossas mãos mudar isso. Digo nós como profissionais de saúde e digo nós enquanto pessoas, responsáveis pela nossa saúde e pela nossa alimentação.
A alimentação constitui um pilar essencial dos planos terapêuticos dos doentes diabéticos, em associação com a medicação e com a atividade física. Uma alimentação saudável, baseada no conhecimento científico, é a base da saúde da população e essencial na prevenção da doença. O Diabético deve ser educado no sentido de adotar hábitos alimentares saudáveis, semelhantes aos das pessoas não diabéticas.
Sendo a Diabetes Mellitus, por definição, uma doença em que há alterações do metabolismo dos nutrientes, fundamentalmente dos hidratos de carbono, que resultam em hiperglicémia, a ingestão alimentar do doente diabético deve ser orientada.
O objetivo da terapêutica nutricional é o de obter uma melhoria no equilíbrio da diabetes, melhorar ou, até corrigir alguns dos fatores de risco cardiovascular e reduzir o risco de complicações agudas e tardias. A terapêutica nutricional, no doente diabético, deve ser feita para cada indivíduo, tendo em linha de conta os outros elementos do tratamento como a insulina, os antidiabéticos orais e a atividade física. No entanto, há que ter também em conta a idade, a religião, o nível cultural e sócio-económico.
As refeições principais devem ter hidratos de carbono, proteínas e gorduras. Os hidratos de carbono (arroz, batata, massa, pão…) são os que mais influenciam os níveis de glicose no sangue, por isso, temos de ter atenção às quantidades mas nunca deixar de os ter na constituição do prato.
Existem um conjunto de recomendações alimentares práticas que ajudam o doente diabético a manter a diabetes controlada:
- Fazer uma alimentação fracionada: não fazer intervalos grandes entre as refeições (máximo 3 horas durante o dia e não fazer um jejum noturno maior que as 8 horas).
- Comer devagar e mastigar bem os alimentos.
- Fazer uma alimentação variada.
- Beber pelo menos um litro e meio de água por dia.
- Reduzir a quantidade de sal, utilizando mais ervas aromáticas, limão, vinagre, alho, cebola e louro.
- Preferir os métodos de culinária simples, como os grelhados, cozidos e estufados, evitando os fritos e os refogados.
- Privilegiar o consumo de azeite, sem excesso, em detrimento das outras gorduras.
- Não consumir bebidas alcoólicas em excesso e sempre que consumir tem de ser à refeição.
- Evitar alimentos e bebidas açucaradas: estes devem ser guardados para dias especiais ou festivos e sempre ingeridos às refeições e em pequenas quantidades.
- Distribuir os Hidratos de Carbono complexos ao longo do dia, como o pão, as bolachas, o arroz, a batata, a massa e as leguminosas, para controlar melhor as glicemias.
- Consumir 2 a 3 peças de fruta/dia.
- Comer sempre hortaliças cruas ou cozidas no prato, e tentar começar sempre o almoço e o jantar com uma sopa de legumes.
- Preferir o leite e os laticínios magros.
Cada doente deve ter um plano alimentar flexível que lhe permita, às refeições, a substituição de alguns alimentos por outros que lhes sejam equivalentes, facilitando a adesão a um plano alimentar saudável, diversificado e agradável, sempre adaptado às caraterísticas do doente.
O grande desafio no doente diabético com excesso de peso/obeso é manter a perda de peso a longo prazo. Para tal, o doente deve ter um seguimento continuado e praticar atividade física regularmente.
Atualmente, são sólidas as evidências dos efeitos positivos retirados da atividade física e da prática de exercício regular no contexto da saúde. Como consequência, várias organizações internacionais recomendam a atividade física de uma forma geral, e o exercício planeado em particular, como uma estratégia de intervenção não farmacológica e de modificação do estilo de vida. O recomendado para o exercício físico na DM2 são 150 min/semana de marcha.
* Este texto, como toda a minha motivação profissional, são dedicados ao diabético mais querido do mundo, o meu pai.
Maria Santana Lopes
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