O Dia Mundial da Mulher ainda continua a fazer sentido e ainda tem de ser celebrado. Porque ainda persistem desigualdades entre os géneros e muita pressão sobre as mulheres.
Na minha profissão nunca me senti tratada de forma diferente pelo facto de ser mulher, nem nunca tive de provar mais do que os homens para poder ter oportunidades. Porém, a verdade é que em muitas outras profissões, as mulheres têm de trabalhar mais, têm de se empenhar mais, têm de se reinventar mais, para poderem mostrar que têm tanto valor como os homens. Acresce que, muitas vezes, apesar de terem provado que têm as mesmas capacidades, continuam a não ser remuneradas da mesma forma, o que é absolutamente incompreensível! Se o resultado do trabalho é tão bom ou melhor do que o de alguns homens, porque é que na altura de serem reconhecidas, nomeadamente a nível financeiro, não têm essa mesma valorização? E enquanto esta realidade persistir, vamos continuar a precisar do Dia da Mulher.
A moda das supermulheres.
A maior parte de nós, mulheres, pertencemos à categoria das supermulheres. Só nos falta mesmo uma capa. Acumulamos muitos papéis: o nosso trabalho enquanto profissionais, as nossas carreiras, a gestão da casa, os filhos, a família. Tudo papéis bastante exigentes que, não querendo deixar nenhum para trás, muitas vezes tornam as nossas agendas em verdadeiros exercícios de malabarismo para tentarmos coordenar tudo na perfeição. E, por norma, conseguimos dar conta de tudo. É, precisamente, por esse esforço tão grande para cumprir todos os nossos papéis bem, que digo:
Somos super mulheres!
E, estou a falar de todas as mulheres. Todas! Independentemente do seu nível de escolaridade, da sua condição económica. Em geral, olhamos e vemos que as mulheres estão sempre muito atarefadas, muito apressadas, para conseguirem cumprir tudo aquilo que lhes é exigido.
Em gerações como a dos meus pais, os homens eram ensinados a não fazer nada em casa. Mas, eu, graças a Deus, tive a sorte de ter um pai que nunca compactuou com essa mentalidade machista e sempre fez, absolutamente, tudo em casa. E, quando digo tudo, é mesmo tudo! Até aos dias de hoje. Cresci a perceber que, dentro de casa, os homens e as mulheres são efetivamente iguais. Por isso, nunca tive nenhum companheiro que não tivesse esta mesma atitude porque não me faz sentido. Não me imagino a viver com alguém que não tenha na igualdade, uma normalidade.
Felizmente que com a evolução da mentalidade, vemos cada vez mais homens a participarem e dividirem uma série de tarefas, que até há algum tempo era consideradas apenas das mulheres. Isso dá-nos a esperança de que as coisas, efetivamente estão a mudar.
Um olhar de igual para igual.
Estas supermulheres que somos todas nós, com as nossas super agendas, mais do que recebermos uma flor neste dia, o que queremos é receber respeito, reconhecimento e igualdade de oportunidades. O que nós queremos é um olhar de igual para igual. E, aqui há um outro movimento que também tem de acontecer, que é o das mulheres com as próprias mulheres.
Algumas vezes, o cultivo das diferenças parte das próprias mulheres. São elas que têm uma mentalidade machista e que continuam a achar que não têm tantas competências como alguns homens ou que não podem ter o mesmo grau de reconhecimento. Quantas vezes não acabam, até, por ser críticas e muito duras relativamente às mulheres que têm uma postura mais assertiva, uma energia mais masculina na sua forma de agir? Esta mentalidade também tem de ser urgentemente alterada.
Nós, mulheres, temos de olhar umas para as outras com respeito, consideração e admiração.
Porque esta é uma postura que nos falta adoptar. Deixarmos de ser tão duras umas com as outras e connosco próprias, e darmos mais as mãos no sentido de nos entreajudarmos. Falo deste tema porque é algo que deve acontecer mais entre as mulheres e infelizmente sinto que não acontece tanto como devia. Claro que a minha ambição, o meu sonho, porque sou uma eterna sonhadora, é que exista um dar as mãos entre os homens e as mulheres, sem diferenças, sem níveis, de igual para igual. Tal como eu educo os meus filhos – um rapaz e uma rapariga – da mesma forma, procurando que ele perceba que em casa tem de fazer, exactamente, as mesmas coisas que eu e a irmã fazemos, que tem os mesmos direitos e as mesmas obrigações. Quero que ele cresça assim, a olhar-me olhos nos olhos e não a olhar-me de cima.
Nota Fotografia por Verónica Silva