A depressão e a ansiedade duplicaram nas crianças e nos adolescentes devido ao isolamento social causado pela pandemia. Assim como o sedentarismo, a obesidade e os comportamentos aditivos (com especial destaque as redes sociais e os videojogos). É, por isso, muito importante estarmos atentos aos sinais que as crianças e os adolescentes nos dão diariamente.
A depressão é causada por sentimentos de descrença e de falta de esperança em algo ou alguém. Estes sentimentos limitam a capacidade que a criança ou jovem tem em pensar e encontrar soluções alternativas para um determinado problema e/ou situação.
Sinais aos quais devemos estar atentos:
. Tristeza e perda de esperança
A tristeza corrói-nos por dentro assim como a desilusão (de algo ou de alguém). Por vezes a tristeza, sendo ela tão profunda, faz com que a pessoa desacredite nela e nos outros. Perde a esperança de que a sua situação melhore, que a pessoa que perdeu volte para ela, que seja perdoada por isto ou aquilo, que a pessoa que tanto gosta e está doente melhore, etc…
. Irritabilidade e agressividade
A irritabilidade e a agressividade andam de mãos dadas com a pessoa que sofre de depressão. Como a pessoa não tem a capacidade de agir de forma a encontrar solução para o seu problema, irrita-se mais facilmente e torna-se agressiva (nos atos e nas palavras) por se sentir frustrada em não conseguir reverter a situação na qual se encontra.
. Isolamento
A criança e jovem que sofre de depressão tem tendência a afastar-se dos seus familiares e amigos. Fecha-se numa concha e não demonstra o seu verdadeiro estado de alma. Este isolamento faz com que a pessoa evite o contacto com os outros e, por isso, dificulta uma boa comunicação, apoio e aconselhamento.
. Choro fácil e frequente
O estado depressivo é de tal ordem que basta a pessoa ouvir o seu próprio nome e as lágrimas caem-lhe pelo rosto. A emotividade e a sensibilidade estão descontroladas e andam também de mãos dadas com a pessoa que sofre de depressão. Este choro é uma consequência de várias emoções.
. Insucesso escolar
A desmotivação por não ter os melhores resultados, por não perceber a matéria, por não se identificar com aquele professor e/ou colega de carteira, por ter dificuldade em estudar a partir de casa, por não gostar mesmo daquela matéria, por sentir falta de atividades práticas e em grupos pode levar a um estado depressivo. É importante não exigir mais do que a criança e adolescente consegue dar. É fundamental prestar apoio e decidir juntamente com o aluno qual o caminho a seguir para inverter a situação e ganhar motivação pelos estudos e pela escola.
. Fadiga e falta de energia
É normal que a criança e adolescente, estando num quadro depressivo, tenha falta de energia e se sinta constantemente cansado/a. Isto porque, quando se está triste, quando se está mais em baixo, tem-se menos apetite e por conseguinte alimenta-se mal. Por outro lado, também existem alterações no sono que vão deixar a pessoa mais cansada quando acorda do que quando se deitou.
. Agitação
O facto de não sabermos o que fazer para resolver o nosso problema, sair de um quadro depressivo, ter motivação para agir e fazer acontecer o que gostaríamos que acontecesse, provoca uma certa dose de ansiedade e de agitação. A mente do ser humano só sossega quando tem as coisas controladas e a pessoa vive em paz com as situações e/ou desafios que lhe vão aparecendo diariamente.
. Perda de interesse nas atividades
Se a criança e adolescente evita estar com familiares e amigos, é normal que também perca todo o interesse em fazer as atividades que até então gostava de fazer. A mente está voltada para o problema e não para a festa que vai haver logo à noite em casa da Maria ou do Manuel. É, por isso, fundamental que os pais incentivem os seus filhos a conviverem com os seus amigos, convidando os amigos dos filhos a virem até lá a casa.
. Mudanças no sono e na alimentação
Como referido anteriormente, o sono e a alimentação sofrem alterações quando a pessoa se encontra com uma situação de depressão. Na verdade, não é só o sono e a alimentação que sofrem alterações, o próprio aspecto físico também sofre. Pois a pessoa perde a vontade de se vestir, de se cuidar e até em alguns casos de fazer a sua prática de higiene pessoal diariamente.
. Dores e mau estar físico inexplicáveis
O desconforto é de tal ordem que o corpo sofre com as consequências provocadas pela privação do sono e por uma alimentação desequilibrada. O corpo dá-nos sempre sinais de como está a nossa mente.
. Sentimento de culpa e de inutilidade
A depressão leva uma pessoa a sentir que não tem aptidão para fazer nada, que não é suficientemente boa para merecer algo (um objecto, um trabalho, um amor) e que a culpa de isto ou aquilo acontecer foi sua. Enquanto não trabalhar este estado de alma, a culpa, a pessoa não consegue sair deste quadro depressivo.
. Dificuldade de concentração
Uma pessoa com depressão não consegue concentrar-se no óbvio e ter a destreza de encontrar as soluções para os seus problemas, caso contrário não estaria a viver uma situação de depressão. Perde-se a concentração, a motivação e o foco no que é realmente importante.
. Pensamentos sobre morte e suicídio
Passa pela cabeça da pessoa que se morrer fica o assunto resolvido, que não provoca mais sofrimento aos outros, nem atrapalha mais a vida a ninguém.
Todos estes pensamentos são legítimos, mas é aí que todo o alerta deve ser acionado.
Mas, como?
Primeiramente saiba que, o suicídio é a segunda maior causa de morte na adolescência, sendo que a primeira são os acidentes rodoviários.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), estima-se que o suicídio infojuvenil acontece depois da puberdade, entre os 15 e os 19 anos de idade.
E quais são os fatores que levam uma criança ou adolescente a colocar um ponto final na sua curta, mas marcante história de vida?
- Falta de comunicação com os pais e amigos;
- Relacionamento familiar conflituoso;
- Insucesso escolar e stress académico;
- Morte de um familiar ou amigo próximo;
- o fim de uma relação amorosa;
- Mudança de casa, escola, cidade, país e, em alguns casos, de estrutura familiar (adoção e famílias de acolhimento);
- Bullying e humilhação;
- Rejeição social devido à orientação sexual, etnia, religião, etc.;
- Doenças mentais e doenças físicas;
- Falta de propósito e de objectivos de vida;
- Angústia, frustração, depressão e raiva.
Como podemos ajudar a evitar uma depressão ou um desfecho tão trágico, como o suicídio?
- Ter atenção aos sinais de depressão;
- Ser compreensiva/o e ouvir apenas (sem julgamentos) o que o seu filho tem para lhe contar. De forma alguma, lhe diga o que deve ou não fazer, apenas o faça sentir-se ouvido e entendido por si;
- Encorajar o seu filho a conviver mais com os amigos. É importante não estarem isolados dos amigos e fazerem atividades juntos;
- Garanta uma alimentação saudável e a prática de exercício físico (mesmo que seja em casa). Por exemplo: peça para ele ser o seu personal trainer, assim garante que ele está a fazer algo bom para ele;
- Consulte um pedopsiquiatra para uma melhor recomendação. Cada caso é um caso e deve ser entendido de forma cuidada, única e especial.
Contactos para ter sempre à mão:
Partilho aqui também alguns contactos de instituições de apoio que podem ser úteis a qualquer um de nós e que deve ficar registado, para além da agenda telefónica do telemóvel, num lugar visível e acessível a todos os membros da sua família.
Partilhe toda esta informação com os seus familiares e amigos, porque quem vê caras não vê corações, e esta situação pode estar a ser vivida nas mesmas quatro paredes que você, ou ao virar da esquina.
- SOS VOZ AMIGA (número gratuito), entre as 16h e as 24h – 213 544 545
- CONVERSA AMIGA (número gratuito), entre as 15h e as 22h – 808 237 327 e 210 027 159
- SOS ESTUDANTE, entre as 20h e as 01h – 239 484 020
- TELEFONE DA ESPERANÇA, entre as 20h e as 23h – 222 080 707
- TELEFONE DA AMIZADE, entre as 16h e as 23h – 228 323 535