Tristeza intensa, incapacidade de sentir prazer nas atividades anteriormente prazerosas, falta de vontade e de energia, choro fácil, dificuldade em dormir, perda de apetite. Estes são alguns sintomas que nos indicam que podemos estar perante uma depressão ou a caminho dela. “Conquiste o seu bem-estar – Guia prático para vencer a depressão” é um livro que se destina aos que sentem que já estiveram próximos de entrar em depressão, aos que dela padecem ou padeceram, aos familiares e amigos com pessoas que sofrem de depressão, mas também aqueles que apostam na prevenção da sua saúde mental.
De muito fácil leitura, “Conquiste o seu bem-estar – Guia prático para vencer a depressão” está construído com base num sistema de pergunta-resposta, com várias caixas de resumo da informação a reter, com múltiplas histórias de pacientes baseadas em casos reais e com exercícios práticos apoiados em literatura científica para evitar, melhorar ou ajudar a dissipar os sintomas de depressão.
Depressão, uma doença muito frequente
Cerca de 5% da população mundial sofre de depressão, sendo que esta percentagem aumenta para cerca de 6% após os 60 anos. Durante a adolescência, a prevalência da depressão também está aumentada. Nalguns casos, pode levar ao suicídio. Mais de 700 000 pessoas morrem por suicídio anualmente. Sendo esta a quarta causa de morte em jovens dos 15 aos 29 anos. Em Portugal estes números aumentam. A prevalência anual da depressão em Portugal é de cerca de 7%, sendo que cerca de 17% dos portugueses experienciam ao longo da sua vida uma situação de depressão.
Quando aparece uma depressão
A depressão surge exatamente quando a capacidade de suportar a intensidade da tristeza ultrapassa os limites da superação humana. Isto não depende da força de vontade e muito menos da inteligência. Pode surgir numa miríade de circunstâncias que se relacionam sempre com um encontro daquilo que é nosso constitucionalmente (traços de personalidade genéticos ou adquiridos em experiências ao longo da vida, bioquímica do nosso cérebro, etc.) com aquilo que vivenciamos no nosso meio ambiente (situações traumáticas). É sempre uma dança entre a nossa biologia e o ambiente psicossocial que nos rodeia e que interage connosco.
Aquilo que está presente em todos os casos de depressão é uma tristeza que ultrapassa largamente o que é expectável sentir perante as vicissitudes da vida, em quantidade e em duração. Tal é a sua grandeza que se vitaliza no corpo e se associa a outras manifestações, como a dificuldade em dormir, a falta de apetite, a dor corporal, etc.. Mas, ao contrário do que se pensa, nem sempre todos os casos são sobreponíveis. Chama-se depressão a situações que podem ser muito diversas, na sua intensidade e duração de apresentação bem como no seu tratamento.
Depressão, esgotamento e burnout, o que é o quê?
Muitas vezes, os termos depressão, esgotamento e burnout são utilizados como se fossem sinónimos. Comecemos por identificar os verdadeiros sinónimos: burnout e esgotamento, sendo o segundo termo uma tradução para evitar o anglicismo.
A expressão burnout foi definida pela primeira vez nos anos 1970 do século xx pelo psicólogo Herbert Freudenberger. Etimologicamente significa «queimar até ao fim». Este autor usou esta palavra para identificar os médicos, enfermeiros e outras profissões de contacto direto com as pessoas que muitas vezes acabam esgotados, sem forças. Hoje este termo é utilizado não apenas no contexto dessas profissões, mas para todas as pessoas sobrecarregadas com excesso de trabalho (de qualquer tipo, incluindo trabalho doméstico) que apresentam sintomas de exaustão física e mental, tristeza, incapacidade para a sua vida profissional e social.
No entanto, a sua apresentação no que respeita às manifestações não se diferencia de forma importante da apresentação de uma depressão. Assim, pode-se usar como sinónimos o burnout e uma depressão reativa a situações de excesso de trabalho. Por outro lado, os tratamentos do burnout e da depressão são semelhantes, incluindo, geralmente, o afastamento transitório da atividade laboral, a farmacoterapia e a psicoterapia.
O que causa a depressão?
A depressão não tem uma causalidade simples. Tem por base causas biológicas (genes, forma e química do cérebro) mas também não biológicas (relações interpessoais, acontecimentos de vida, etc.). Por isso, não podemos resumir a depressão à biologia do cérebro, nem aos genes. Mas também não a podemos resumir ao campo não biológico, dos acontecimentos de vida, porque os fatores biológicos também têm um papel importante.
Isto acontece com todas as perturbações psiquiátricas, a depressão, a ansiedade, entre todas as outras. Esta realidade torna a psiquiatria uma especialidade muito complexa, talvez a mais complexa dentro da medicina. Porque mistura fatores na sua causalidade (e tratamento) que são de campos completamente diferentes e que contribuem de forma semelhante (campo biológico e campo não biológico).
O tratamento da depressão
Caso ocorra porque em determinada fase da nossa vida a nossa vulnerabilidade é maior, surgem então os sintomas de depressão. Pensamentos mais distorcidos, irrealistas, que promovem uma avaliação negativa de tudo o que nos acontece e de nós próprios, comportamentos de evitamento (que promovem o isolamento) e sensações de tristeza, desânimo e desmotivação. Estes, por sua vez, podem aumentar a nossa vulnerabilidade promovendo uma redução da autoestima, da culpabilização e do isolamento social, permitindo que a depressão se instale finalmente e/ou se agrave. Nesta fase temos de recorrer a um tratamento, porque estas situações se perpetuam e têm um grande impacto na nossa vida pessoal, provocando não só um enorme sofrimento, mas também incapacidade social e profissional.
O tratamento pode ser por meio de uma intervenção para reduzir a vulnerabilidade biológica – através de farmacologia e/ou exercício regular – e recorrendo a psicoterapia – que vai intervir a nível da vulnerabilidade psicológica, atuando nos pensamentos, comportamentos e emoções, reduzindo os sintomas depressivos e capacitando-nos a sair do ciclo depressivo, promovendo uma nova perspetiva sobre as situações, aumentando os comportamentos positivos e melhorando os relacionamentos interpessoais e o suporte social.
Com o tratamento, a recuperação acontece e o ciclo depressivo interrompe-se.