De que forma é que as redes sociais estão a afectar a nossa vida?

Cláudia Morais // Junho 30, 2019
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As redes sociais passaram a fazer parte do nosso dia-a-dia, mas até que ponto estaremos a saber lidar com todo o seu impacto? Estaremos, realmente, conscientes da forma como a sua utilização pode condicionar as nossas relações e/ou a nossa autoestima? E, o que é que cada um de nós pode fazer para que as redes sociais sejam uma fonte de conexão e não de desconexão?

Há algum tempo, uma jornalista dizia-me que tinha estado algumas semanas sem aceder ao Facebook e que isso a tinha deixado “muito deprimida”. Aquele testemunho, tão sincero, contrastava com o que estou habituada a ouvir. A maior parte das pessoas que conheço consideram que fazem uma utilização saudável das redes sociais e não reconhecem qualquer dependência, mas será que essa perceção é real? Quão dependentes estamos das redes sociais? E, até que ponto podemos afirmar, com honestidade, que fazemos escolhas emocionalmente inteligentes e promotoras do nosso bem-estar?

Quão dependentes estamos das redes sociais?

Qual é a primeira coisa que você faz quando acorda? E, a última, antes de adormecer?

Os smartphones trouxeram-nos um número infindável de aplicações que foram construídas para simplificar e facilitar a nossa vida. Uma das ferramentas que utilizamos com frequência é o alarme, que veio substituir os relógios despertadores. Com essa justificação, habituámo-nos a dormir com o telemóvel na mesa de cabeceira (ou debaixo da almofada!), a receber notificações fora de hora e, pior do que isso, perdemos a noção do impacto que o Facebook, o Whatsapp e o Instagram estão a ter nas nossas relações amorosas.

O romance e o desejo precisam de ser alimentados com regularidade e dependem, em larga medida, da nossa capacidade de nos conectarmos emocionalmente. Quando levamos o smartphone para o quarto, não é só a intimidade sexual que fica condicionada. É difícil sentirmo-nos vistos, ouvidos e desejados quando as conversas são interrompidas pelas notificações. Por outro lado, quando treinamos a nossa mente para estar permanentemente exposta a estímulos relacionados com imagens de aparente felicidade, cheias de filtros e onde não cabem rugas, celulite ou olheiras, facilmente confundimos a realidade com a ficção. E, mesmo que digamos a nós mesmos que não há pessoas perfeitas nem vidas perfeitas, é cada vez mais difícil fugir aos exigentes exercícios de comparação. Se o homem que está ao nosso lado estiver longe de apresentar os abdominais perfeitos que vemos nos “maridos das outras” no Instagram, podemos dar por nós a lamentar interiormente e a deixar de conseguir valorizá-lo exatamente como é.

Quando damos por nós a adormecer e a acordar “com” o Facebook ou com outra rede social qualquer, é importante que paremos para pensar nas nossas prioridades. Que atenção estaremos realmente a conseguir dar às pessoas que amamos? Quão presentes conseguimos estar se o nosso olhar (e o nosso pensamento) estiver focado no ecrã?

As redes sociais e a autoestima das mulheres

Para algumas pessoas pode parecer um exagero que a utilização das redes sociais tenha qualquer influência sobre a nossa autoestima. É verdade que a forma como olhamos para nós é profundamente condicionada por aquilo que vivemos na infância, em particular pela forma como nos ligamos aos nossos cuidadores, mas todos os dias recebemos estímulos que podem reforçar ou deteriorar a nossa autoestima. Algumas pessoas entram involuntariamente em círculos viciosos que envolvem a publicação de fotografias nas redes sociais e a busca da aprovação externa sob a forma de likes e comentários. Quando uma pessoa se sente insegura a propósito do seu valor, pode parecer mais fácil revelar-se através das redes sociais do que presencialmente. Quando obtém retorno positivo, isso reforça a vontade de continuar a publicar, em busca daquela gratificação tão imediata quanto transitória. Para as mulheres, a pressão é ainda maior, já que há quase sempre a exigência de exibirem medidas e corpos praticamente perfeitos.

Uma das coisas que podemos fazer para monitorizar a forma como nos relacionamos com as redes sociais é colocar a pergunta “Qual é a minha verdadeira intenção?” antes de publicarmos qualquer fotografia. Se a intenção for partilhar um momento divertido, interessante, comovente e/ou que acrescente algum valor à vida de outras pessoas, é provável que estejamos a fazer uma escolha que promova os nossos laços afetivos. Mas, se a intenção passar apenas por avaliarmos a nossa popularidade, é importante que paremos e nos questionemos sobre os potenciais danos associados a esta busca pela aprovação externa. Há muitas escolhas que nos podem ajudar a desenvolver a nossa autoestima, mas esta não é uma delas.

Planear a vida à medida do Instagram

Perdi a conta ao número de vezes que vi pessoas a fotografar pratos de comida antes de os saborearem. Não há nada de errado nisso. O problema surge quando fotografamos, publicamos e monitorizamos os likes e comentários em vez de usufruirmos do momento, sobretudo se estivermos acompanhados. Cada momento que vivemos é único, irrepetível, e, quando escolhemos viver permanentemente online, acabamos por perder uma parte considerável da realidade.

Para algumas pessoas, os momentos de lazer são programados em função da possibilidade de encontrar os sítios mais instagramáveis. Se é verdade que todos gostamos de fotografias bonitas, também é importante que nos questionemos sobre o preço que pagamos quando nos focamos tanto no digital. Na maioria das vezes, deixamos de apreciar a beleza dos lugares, das pessoas e das relações porque estamos mais focados em conseguir a próxima foto de sonho.

Quantas vezes deu por si a reparar em pormenores de um evento em que esteve presente apenas depois de olhar para as fotografias? Uma das coisas que pode fazer para tentar viver o aqui e agora em pleno é experimentar dedicar uma parte do seu tempo a olhar à sua volta sem ceder à ânsia de registar o momento com a ajuda do telemóvel.

Anestesia para os problemas reais

Da próxima vez que der por si a fazer scroll no Facebook ou no Instagram, pare para prestar atenção à sua mente. Procure questionar a sua intenção. Até que ponto tem usado as redes sociais para evitar pensar nos seus problemas, nas suas inquietações? Para algumas pessoas, esta é uma distração que acaba por sair cara. Por um lado, quando fugimos da realidade, ela transforma-se quase sempre num monstro-papão, capaz de nos fazer duvidar das nossas capacidades. Por outro, todos os problemas que escolhemos ignorar enquanto nos distraímos com aquilo que as outras pessoas mostram vão continuar à nossa espera.

Quando paramos para prestar atenção à nossa vida, até podemos dar-nos conta de que há dificuldades a que ainda não conseguimos dar resposta, mas essa pausa e esse confronto são essenciais para que consigamos reconhecer, com clareza e honestidade, aquilo que precisamos de fazer para sermos genuinamente mais felizes e para que consigamos ter à nossa volta as pessoas que nos fazem bem.

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