“Ainda não sei o que quero ser, nem fazer”

Fátima Lopes // Julho 13, 2021
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Sempre que os nossos filhos chegam ao décimo ano de escolaridade, sentimos que lhes é exigido que tomem uma decisão sobre aquilo que querem ser na vida ou sobre aquilo que querem fazer. 

Desde a minha experiência enquanto estudante até aos dias de hoje, houve algo que mudou. Quando eu tirei o meu curso, ainda se escolhia uma profissão supostamente para a vida toda. Ainda se escolhia um curso que, teoricamente, serviria para toda a nossa carreira profissional. Mas, as coisas mudaram muito. 

Muito mudou ao longo das últimas décadas.

Hoje tiramos um curso, que pode ser académico ou profissional, e acreditamos que esse é o curso que nos possibilitará trabalhar durante algum tempo, que pode até ser longo, mas não necessariamente para a vida toda. 

Curso académico ou profissional?

Pedir aos jovens no décimo ano, que façam uma escolha e decidam se querem continuar até ao décimo segundo do ensino secundário para depois entrar na faculdade ou, então, transitar para um curso profissional, não é fácil. Ainda há pouca maturidade para se conseguir decidir com algum sentido. Há pouca noção de si próprio e, muitas vezes, pouca consciência dos seus sonhos e pouca informação concreta sobre as possibilidades que existem efetivamente. Não é raro, os jovens sonharem com algo que podem pôr em prática numa profissão, mas que por desconhecimento, acabam por não escolher o que tanto desejam.

É preciso informar mais os jovens antes da idade em que têm de tomar uma decisão. 

Informar mais os jovens antes da idade em que têm de tomar uma decisão, é uma mais-valia. É algo que vale mesmo a pena. É ajudá-los a que se sintam mais capazes para decidir aquilo que vão fazer a seguir. E eu disse a seguir, não disse para  a vida toda. Porquê? Porque, infelizmente, de há uns anos a esta parte, colocou-se quase como uma obrigatoriedade, que toda a gente tem de ter um curso superior. Portugal parece um país de doutores e engenheiros, em que toda a gente tem de ter uma licenciatura. Quem não tem uma licenciatura, é visto como se fosse menos inteligente ou menos capaz, o que não corresponde de todo à verdade. 

Era bom que se desmistificassem as ideias à volta dos cursos profissionais porque eles evoluíram muito na última década.

Hoje existem cursos profissionais muito bem estruturados, bem organizados e bastante equilibrados, que dão aos jovens uma competência e uma capacidade de serem excelentes na profissão que abraçarem. E é bom que isto fique claro na cabeça das pessoas, para que não haja jovens a forçarem um caminho académico com o qual não se identificam minimamente. Por mais que estes jovens se esforcem não conseguem entregar-se verdadeiramente aos estudos e, às vezes, ou têm notas muito baixas, ou acabam por repetir anos porque, simplesmente, não sentem que fazem ali absolutamente nada! Quantas vezes estes jovens até têm vontade de experimentar um curso profissional, mas os pais demovem-nos ou tentam demovê-los porque têm a ideia de que um curso profissional é algo com menos valor? Eu não acho que seja algo com menos valor. 

O que realmente importa?

Um curso profissional seria algo com menos valor se essa pessoa fosse menos feliz por ter optado por esse curso. Mas, se essa pessoa se sente mais feliz ao ter uma aprendizagem direcionada para aquilo que sonha, então esse curso profissional tem mais valor do que qualquer licenciatura que possa fazer.

É muito importante que se perceba que sermos felizes na nossa vida profissional é extremamente importante para a nossa felicidade em termos gerais.

Se nós fazemos algo de que não gostamos, com o qual não nos identificamos, pelo qual nada sentimos, então passa a ser qualquer coisa que ocupa muito espaço em nós e na nossa vida. E passa a gerar sentimentos negativos que nos afetam diariamente. Mais vale então ajudarmos os jovens em consciência, de acordo com as suas idades e maturidade, a saberem identificar aquilo que sentem e que lhes faz mais sentido agora. Nem que daqui a dois ou três anos, eles digam que, apesar do curso profissional ser fantástico, querem voltar a estudar e tirar uma licenciatura. 

A vida é feita de mudanças e de experimentações. 

E se eles não experimentarem nestas idades vão experimentar quando? Por isso, eu gostava que se tratasse com mais carinho, consideração e reconhecimento, os bons cursos profissionais que se fazem neste país, de onde saem profissionais de excelência. Um bom exemplo, e que está na memória de todos por ser recente, foi a vencedora do programa “Hell’s Kitchen”. A Francisca Dias tirou um curso profissional de cozinha numa escola em Mação e é uma profissional de excelência que vibra com a sua arte.

Nota: Fotografia por Verónica Silva

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