Desde miúda que a minha estação preferida é o Verão. Dias que não acabam, noites quentes (bem, os últimos anos têm desiludido um bocadinho e raras são as que não exigem um casaquinho, mas vamos saltar esta parte), praia, mar, piscina. Enfim, tudo aquilo com que sonhamos, em especial nos meses de Janeiro e Fevereiro, quando parece que nunca mais nos vamos ver livres das botas e dos cachecóis. O problema do Verão, pelo menos para algumas mulheres, é que esta também é a altura em que surgem com maior frequência queixas ginecológicas como o prurido vulvar, o corrimento vaginal ou mesmo as candidíases, essas célebres infecções a fungos que podem arruinar o mais perfeito dia à beira da piscina…
Porque é que estas queixas são mais frequentes no Verão?
Bem, nesta estação do ano conjugam-se alguns factores externos que, muitas vezes ajudados por erros que cometemos, aumentam o risco de desequilíbrio da flora vaginal e agressão da pele da vulva.
A flora vaginal é constituída por numerosas bactérias e fungos que ajudam a manter um pH ideal para combater qualquer agente externo e que constituem a principal barreira à ocorrência de infecções. O problema é que esta flora pode sofrer alterações e causar, ela mesma, sintomas de infecção – as conhecidas vaginoses. Por outro lado, a pele da vulva, embora muito resistente a agressões, se não tiver um elevado nível de hidratação e alguma quantidade de pelos (não estou a falar de ter muuuitos) pode fragilizar-se e causar sintomas desconfortáveis.
Quais são os principais agentes agressores durante o Verão?
Verão sem água do mar ou da piscina não é Verão (digo eu, bem visto). O problema é que o sal do mar, a areia e o cloro ou outros produtos utilizados nas piscinas podem, em mulheres mais sensíveis, ser suficientes para alterar o pH da vagina e levar à desregulação da flora vaginal, conduzindo a vaginoses e também a candidíases. Nesta última situação há um crescimento excessivo dos fungos habitualmente presentes na vagina, e que não costumam causar problemas, levando a um quadro de prurido que, em casos extremos se pode tornar quase insuportável (quem nunca teve ponha o dedo no ar…).
Como se não fosse suficiente, a pele da vulva, se ficar molhada durante muito tempo, também vai perder a sua capacidade protetora, aumentando ainda mais a probabilidade de desconforto, em particular se estiver totalmente desprovida de pelos.
E quais são as soluções?
A solução para estes agentes agressores passa por algo tão simples como não ter o fato de banho ou o biquíni molhados durante muito tempo (nada como ter vários modelos bem secos e giros para trocar e variar!) ou optar por materiais de secagem rápida, cada vez mais populares. Para as mulheres mais sensíveis ao sal ou ao cloro, tomar um duche logo a seguir a sair do mar ou da piscina também é muito eficaz (nos casos mais graves pode ser necessário utilizar produtos de higiene íntima que mantenham o pH e a hidratação da vulva).
E quando a culpa é um bocadinho nossa?
A roupa justa, em particular aquelas calças brancas maravilhosas que adoramos usar com cuecas “fio dental”, podem ter um preço a pagar, mais uma vez para as mulheres mais sensíveis. O calor e a humidade excessivas na região vulvar (muito potenciadas pelas temperaturas mais elevadas do Verão) também podem levar a uma desregulação da flora e do pH. O ideal mesmo é optar por roupas fresquinhas e esvoaçantes (o algodão é o rei do Verão, certo?) que deixem a pele respirar livremente.
“Mas eu até me lavo tantas vezes…”
As lavagens excessivas e, em particular, as irrigações vaginais, ao contrário do que possa parecer, são muito prejudiciais para o equilíbrio da flora vaginal. A vagina tem o seu próprio sistema de defesa, não precisa de nenhum tipo de lavagem interior. O que tem de ser removido (e duas vezes por dia chega perfeitamente, excepto na altura do período menstrual ou de situações excepcionais) é o suor – muito mais abundante no Verão – e os líquidos fisiológicos que se acumulam na vulva. Aqui a água e um produto específico de higiene íntima são essenciais para manter o bem-estar íntimo. É óbvio que existem mulheres que se dão lindamente com qualquer gel de banho ou mesmo sabonete, mas estes tendem a secar mais a pele e, em particular durante os meses de Verão, podem não ser suficientes para manter um bom nível de hidratação e conforto da região genital.
“Posso fazer depilação integral?”
Por último, a depilação integral, muitas vezes associada a conceitos de higiene íntima e limpeza, não é o ideal para a pele da vulva. Deixar alguns pelos (mais uma vez, não é preciso serem muuuuitos) pode fazer a diferença em termos de pH, humidade e resistência da pele numa região permanentemente exposta a agressões. Para as restantes mulheres que fazem uma depilação menos “radical”, o ideal é deixarem passar algumas horas (de preferência 24) antes de mergulharem no mar ou na piscina para minimizar a irritação da pele.
Vai um resuminho?
Vá, para todos os que só lêem o fim dos artigos e capítulos e em particular para os que se aguentaram estoicamente aqui vai: não fazer depilação integral da vulva (más notícias em caso de depilação definitiva), usar roupas que deixem a pele da vulva respirar, retirar o sal ou o cloro da pele com água corrente, mudar o fato de banho/biquíni molhado, usar produtos específicos de higiene íntima, não passar o dia a fazer lavagens da região genital e nunca fazer irrigações ou duches vaginais.
E é isto. Com os votos de um Verão espectacular e sem idas ao ginecologista.