Desde pequena que a minha apetência para o desporto sempre foi mínima. No entanto, sempre gostei de andar e de dar uns bons passeios.
Desta vez, devo admitir que fui levada ao engano, não sabia nada sobre o destino e muito menos como lá íamos dar.
Depois de subirmos a Serra da Estrela, de carro, chegámos à Lagoa Comprida. Era fim de semana e, portanto um dia muito movimentado por estas bandas.
Mal saímos do carro vemos as lojinhas de recordações bem típicas da zona, os trenós vermelhos expostos e os cães da raça da zona à espera do futuro dono.
O caminho não é fácil e recomendam-se, sem dúvida, uns sapatos impermeáveis e bem confortáveis. O trilho está dividido em pedaços ora lamacentos, ora pedregosos, ora a subir, ora a descer. Uma vez por outra lá encontramos um trecho plano e de terra batida seca, rodeado por pequeninas flores amarelas e violeta.
A praticamente dois mil metros de altitude, o ar é fresco e a vista imbatível. Todo o trilho de dez quilómetros, faz valer o passeio por bem mais do que o destino.
Durante todo o percurso cruzamo-nos com pedaços de neve que, apesar das temperaturas amenas, resistem a descongelar.
Vamos avançando, passando por várias lagoas, rodeadas de montanhas, por detrás das quais vemos, mais tarde, o sol desaparecer.
Passada uma hora, mais ou menos, chegamos ao tão aguardado Covão dos Conchos.
À primeira vista parece um fenómeno natural. Depois, apercebemo-nos que, na verdade, esta precipitação de água sem fundo à vista foi, na verdade, construída pelo homem. Nascida na década de 50, foi criada para manter constante o nível das águas da Ribeira das Naves, enviando através deste túnel com 1519 metros de comprimento, a água que sobejava, para a Lagoa Comprida, o que fazia com que o caudal permanecesse sempre constante.
Na volta, já cansados, mas reconfortados, com a mente limpa e desanuviada, o caminho é mais cansativo. Se, à ida, ansiávamos pelo Covão dos Conchos, no regresso queremos apenas chegar ao carro.
Este verdadeiro segredo, conhecido apenas pelos mais aventureiros e maiores apreciadores dos passeios pela natureza, promete valer a pena por bem mais que o destino final. Deve, sem sombra de dúvida, apreciar-se e absorver cada etapa do caminho.
Margarida Martins