Todos sabemos o que são cosméticos e o quão inevitável é usá-los: se um homem utiliza, em média, 6 produtos cosméticos por dia, no caso do sexo feminino este número sobe para os 12 produtos cosméticos.
Muito comuns na nossa higiene corporal e rotinas de beleza, estes cosméticos encontram-se em todo o lado, desde a maquilhagem ou o desodorizante que utilizamos em casa, a todos os produtos que se encontram no cabeleireiro do nosso bairro (a nível profissional).
Este é, sem dúvida, um sector de mercado muito atrativo para novas empresas: são centenas de milhões de consumidores e um valor de mercado exorbitante – segundo a Orbis Research e a Reuters, estima-se que atinja, em 2023, um valor de 805 mil milhões de dólares.
São muitas as marcas, com cada vez mais produtos, variantes e ofertas. Contudo, são poucas as marcas de cosméticos que realmente se preocupam com o que a sua atividade provoca, tanto ao nível ambiental, como à saúde humana.
Pela forma como são produzidos, distribuídos e vendidos, estas são as duas áreas nas quais a indústria dos cosméticos é mais prejudicial:
- Prejudiciais para o ambiente, com a utilização de produtos químicos, muitas embalagens plásticas não reutilizáveis e a utilização de microplásticos na sua composição – uma das maiores ameaças aos ecossistemas marinhos e saúde humana;
- Prejudiciais para a saúde de quem os usa, com as marcas a promover a necessidade e uso excessivo destes cosméticos enquanto os produtos em si são compostos por substâncias perigosas, muitas vezes impercetíveis a quem os lê nos rótulos.
Como podem os cosméticos ser prejudiciais à saúde?
O facto de alguns cosméticos terem estes ingredientes perigosos na sua composição, absorvidos de forma muito rápida pelo corpo, torna-os mais inseguros para a nossa saúde do que deveriam ser.
As grandes marcas, por outro lado, defendem-se afirmando que o nível de toxicidade é tão pequeno que estes componentes, em contacto com o corpo humano, se tornam inofensivos.
Contudo, este pequeno nível de toxicidade multiplicado por cada um dos produtos cosméticos que utilizamos, já deixa a definição de “inofensivo” bem mais cinzenta e discutível.
Quais os efeitos que estes cosméticos podem causar? Se algumas destas substâncias químicas acabam por trazer riscos ao nosso bem-estar, provocando irritações, eczema, alergias ou fotossensibilidade, os grandes problemas são bem mais profundos que estes.
Os verdadeiros riscos são os que não são logo detetados – já se começa a associar esta absorção contínua de substâncias perigosas ao risco de aparecimento de cancros hormonais, problemas de fertilidade, doenças crónicas ou ao aumento de problemas comportamentais.
Mas porquê os químicos nos cosméticos?
Não se trata de nos estarem a envenenar “propositadamente”. O que se passa é que, no início da indústria dos cosméticos, as substâncias químicas fizeram uma diferença muito significativa e impulsionaram o sector de uma forma exponencial.
Qual o grande problema? Apesar de se ter começado a associar alguns riscos aos componentes usados em cada um destes produtos cosméticos, as fórmulas mantiveram-se praticamente as mesmas desde o início.
Estes ingredientes perigosos são, muitas vezes, responsáveis por aumentar a durabilidade, criar espuma, elasticidade, adicionar odores específicos ou dar cor a certos produtos cosméticos – algumas destas características facilmente dispensáveis pelo consumidor comum.
5 ingredientes que deves evitar já nos teus cosméticos
FTALATOS
Como aparecem nos rótulos: DBP, DEHP, DIDP, FRAGANCE, DEP OU PHTHALATE.
Apesar de muito associados a garrafas plásticas – estes são os grandes responsáveis por suavizar os plásticos, aumentando a sua durabilidade e flexibilidade – os ftalatos também tiveram (e ainda têm) uma presença muito forte nos cosméticos comuns.
Dividem-se em ftalatos de baixo peso molecular (DEHP, DBP, DIBP, BBP) e de alto peso e são potenciais tóxicos para o sistema reprodutivo – um dos motivos pelos quais a venda de DBP e DEHP ter sido proibida nos países da União Europeia.
Foram realizados estudos que relacionam a exposição a ftalatos durante a gravidez ou durante a infância a problemas respiratórios (asma e alergia) e alterações hormonais no género masculino.
Muitas vezes descritos nos rótulos como “fragrância” ou “perfume”, encontram-se maioritariamente em vernizes, gel de banho, sprays ou desodorizantes.
Alternativas Planetiers: vernizes cruelty-free; gel de banho biológico; desodorizantes naturais.
FORMALDEÍDOS
Como aparecem nos rótulos: DMDM HYDANTOIN, FORMALDEHYDE, IMIDAZOLIDINYL UREA, GLYOXAL, SODIUM HYDROXYMETHYLGLYCINATE, DIAZOLIDINYL UREA, POLYOXYMETHILENE UREA.
Por apresentarem propriedades antifúngicas e antibacterianas, estes compostos químicos são utilizados como conservantes em muitos cosméticos comuns.
Contudo, e com base em estudos e testes feitos em animais, a International Agency for Research on Cancer (IARC) classificou os formaldeídos como agentes cancerígenos por inalação, alérgicos e irritantes para a pele.
Apesar de ainda serem possíveis de encontrar em alguns vernizes, alisadores e descolorantes para cabelo, estes têm vindo a ser substituídos pelos parabenos nos últimos anos.
Alternativas Planetiers: Vernizes sem componentes nocivos.
PARABENOS
Como aparece nos rótulos: METHYLPARABEN, ETHYLPARABEN, BUTYLPARABEN ou outro componente terminado em PARABEN.
O Para Hydroxybenzoate (nome oficial), apesar de ter características semelhantes às dos formaldeídos e de ser uma das alternativas ao uso destes, foi identificado como agente potencialmente cancerígeno, podendo provocar alergias e distúrbios hormonais – contudo, ainda se espera a publicação de estudos mais profundos que confirmem estes efeitos.
Mesmo sem estudos profundos, o certo é que, em 2014, a comissão europeia proibiu a venda de cosméticos com alguns parabenos, nomeadamente, isobutilparabeno, isopropilparabeno, benzilparabeno, pentylparaben e phénylparaben.
Estas substâncias “possivelmente” perigosas podem ser encontradas em desodorizantes, hidratantes, produtos para o cabelo, maquilhagem, gel de banho, pasta de dentes e vernizes.
Alternativas Planetiers: Desodorizantes naturais, Hidratante Biológico de Côco, Maquilhagem natural, Geles de banho bio, Pastas de dentes orgânicas, Vernizes naturais.
CLORETO DE ALUMÍNIO
Como aparece nos rótulos: ALUMINIUM, CHLOROHYDRATE, ALUMINUM.
Utilizado, maioritariamente, como antitranspirante, é muito associado a irritações, manchas e lesões nos tecidos da pele, principalmente em peles mais sensíveis e quando usado em grandes quantidades.
Apesar de já existirem alguns estudos que o relacionam com o risco de cancro da mama, a FDA – US Food and Drug Administration – ainda não o considera carcinogénico (causador de cancro).
O Cloreto de Alumínio pode ser encontrado em desodorizantes comuns, principalmente em antitranspirantes.
Alternativas Planetiers: Desodorizantes naturais
TOLUENO
Como aparece nos rótulos: TOLUENE
Este ingrediente, possivelmente perigoso, pode ter efeitos negativos no sistema nervoso central, contribuir para tonturas, náuseas, perda de memória e, no caso de contacto contínuo com mulheres grávidas, afetar o desenvolvimento do feto.
Esta substância química encontra-se, essencialmente, em vernizes.
Alternativa Planetiers: Vernizes chemical free – sem substâncias perigosas.
E então, o que se pode fazer?
Apesar dos riscos e efeitos negativos destas 5 substâncias em animais, a comunidade científica não está 100% de acordo sobre os efeitos destes ingredientes perigosos em seres humanos.
O assunto é controverso e muito complexo, com estudos que se contradizem – muitos com “supostos” interesses por trás, com patrocinadores focados em tornar estes produtos o mais comerciáveis possível.
Para te protegeres, é importante teres uma atitude proactiva em relação à temática:
- Estar atento ao tema e conhecer os padrões recomendados pela União Europeia;
- Ler os rótulos dos produtos cosméticos com atenção;
- Optar por produtos com menos ingredientes e certificados biológicos (estes contêm menos substâncias tóxicas);
- Não utilizar produtos cosméticos fora do prazo de validade;
- Ver se os produtos que queres comprar foram dermatologicamente testados e se têm na sua composição potenciais alergénicos.
E nunca te esqueças que podes sempre pedir indicações diretamente às marcas que utilizas. Na União Europeia os produtores são obrigados a informar os consumidores dos possíveis efeitos secundários de todos os seus produtos.
Mais do que escolher produtos autointitulados “Herbal”, “Naturais”, “Orgânicos” ou “Eco”, decide dar a volta à embalagem e olhar com atenção para os seus rótulos.
Faz a tua pesquisa, conhece as alternativas que podes aplicar à tua vida e opta sempre por produtos cosméticos sem ingredientes perigosos, que põem em primeiro lugar a tua saúde e bem-estar.