Hoje, Dia da Anemia, venho dar-vos a conhecer a campanha “Uma Saúde de Ferro”, cujo objetivo é consciencializar os portugueses para os sintomas, o impacto e o tratamento desta patologia.
A anemia é uma doença sobre a qual pouco se fala e ela é muito, muito comum principalmente nas mulheres que têm períodos menstruais muito abundantes. Durante muitos anos, vivi esta realidade que, obviamente, tinha consequências para a minha saúde. Dores de cabeça, cansaço extremo, prostração, pouca energia anímica, dificuldade em dormir e até de memorização. Sempre que estes sinais de alerta surgiam eu já sabia o que estava a acontecer e naturalmente pedia ajuda.
Com a monitorização regular de todos os parâmetros através de análises de rotina e com devido acompanhamento especializado – tanto do meu médico de família, como da minha ginecologista – encontrou-se sempre a melhor forma de medicar ou suplementar com aquilo que eu necessitava para que os níveis de ferritina estivessem equilibrados e, consequentemente, desaparecessem muitos desses sintomas.
Sabia que as mulheres são mais afetadas pela anemia e deficiência de ferro?
Estima-se que 2 em cada 5 mulheres portuguesas tenham baixos níveis de ferro. São números muitos elevados e por isso, para compreender esta patologia, estive à conversa com duas especialistas em Imuno-hemoterapia, a Dra Vanessa Oliveira e a Dra Diana Sousa Mendes, do Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca, EPE.
O que precisamos de saber sobre anemia?
. Comecemos pelo princípio, o que é a anemia?
Anemia define-se pela diminuição do nível de hemoglobina ou número de glóbulos vermelhos no sangue, o que se reflecte numa diminuição da capacidade do sangue transportar oxigénio.
As principais causas de anemia são perdas de sangue, diminuição na produção de glóbulos vermelhos ou aumento da destruição dos glóbulos vermelhos.
A anemia mais comum é devida ao défice de ferro que leva a diminuição da produção de glóbulos vermelhos. É chamada de anemia ferropénica. Existem outros tipos de anemia menos comuns, mas mais graves, como é o caso da anemia falciforme, também designada drepanocitose, na qual existe alteração genética que leva a um defeito na produção da hemoglobina e resulta na formação de glóbulos vermelhos disformes e frágeis e com um tempo de vida mais curto.
. Quais são os sintomas da anemia?
Astenia (adinamia, fadiga, cansaço, fraqueza), palidez, sonolência, palpitações (batimentos cardíacos acelerados), dispneia (falta de ar), precordialgia (dor no peito), intolerância ao esforço físico e mental, dificuldade de concentração, alterações do ciclo menstrual, irritabilidade, insónia, depressão, tristeza, queda de cabelo e fragilidade das unhas.
. E que impacto têm na vida dos pacientes?
A nível físico, os doentes sentem-se cansados e sem energia para realizar as suas actividades de rotina diárias. Podem mesmo sentir-se incapazes de subir escadas ou andar por curtas distâncias. Isso limita imenso a sua produtividade no trabalho e a sua capacidade para realizar as tarefas de rotina.
A nível psicológico sentem-se deprimidos pela incapacidade de cumprirem as suas obrigações diárias, pela falta de energia para a execução das tarefas mais simples e pela eventual necessidade de recorrerem à ajuda e até mesmo dependência de terceiros para a concretização de determinadas actividades.
. Como é feito o diagnóstico? É verdade que a anemia é sempre uma consequência de outra doença?
O diagnóstico inicial é feito com base num hemograma e por constatação de uma diminuição da quantidade de hemoglobina e glóbulos vermelhos no sangue.
A anemia pode ser consequência de outra doença, mas não sempre. Algumas formas de anemia podem resultar de carências nutricionais ou por maus hábitos alimentares.
. Porque sofrem mais as mulheres de anemia e deficiência de ferro?
As mulheres têm perdas de sangue através da menstruação. Este sangue deve ser reposto pelo organismo para que os valores de hemoglobina e glóbulos vermelhos no sangue se mantenham estáveis. Sendo assim, para que novas moléculas de hemoglobina e novos glóbulos vermelhos sejam produzidos são necessários determinados nutrientes como ferro, ácido fólico e vitamina B12, que devem ser obtidos através de uma alimentação variada e equilibrada. Por isso, a ingestão diária de ferro numa mulher deve ser maior do que no homem.
. Que tratamentos existem para a anemia?
Os tratamentos dependem do tipo de anemia e da rapidez de instalação da mesma. Na anemia ferropénica o tratamento passa pela reposição dos níveis de ferro. O ferro pode ser administrado pela via oral (comprimidos, cápsulas, ampolas) ou endovenoso (administração por uma veia).
Outros défices nutricionais como o de ácido fólico ou vitamina B12 também podem ser corrigidos pela administração da respectiva medicação, que irá colmatar esses défices.
Outras formas mais graves de anemia apenas podem ser corrigidas recorrendo a uma transfusão sanguínea, usando sangue de dadores.
Nos casos em que a anemia é secundária a outra doença teremos que nos focar no tratamento dessa patologia e essa atitude levará à correcção da anemia.
Muitos profissionais podem estar envolvidos na recuperação do paciente: médicos, enfermeiros, nutricionistas. A especialidade de Imuno-hemoterapia tem um grande foco no tratamento de doentes com anemia. Médicos de várias especialidades actuam nesta área.
. Existem formas de prevenir a anemia?
Existem formas de anemia que podem ser prevenidas. Estamos a referir-nos às anemias carenciais, isto é, às anemias que resultam de um défice de determinado nutriente como ferro, ácido fólico ou vitamina B12.
Um aumento progressivo do cansaço, a intolerância ao esforço, palidez cutânea e das mucosas oculares e orais são sintomas e sinais que nos devem deixar alerta para uma possível anemia. Por si só, estes sintomas já são razão de preocupação, e devem motivar uma visita a um especialista. No entanto são muitas vezes descurados pelos utentes.
Sintomas mais graves como dispneia ou palpitações devem sempre suscitar a marcação de uma consulta com um especialista.
Sintomas como tristeza, desmotivação, desconcentração, insónia, fragilidade unhas e cabelo devem também ser de alerta.
Devem dirigir-se ao médico, que os avalia, trata e orienta, se necessário, para outra especialidade médica.
Saiba mais sobre a anemia e a deficiência de ferro em: www.umasaudedeferro.pt.