Devíamos partir de férias sabendo ao que vamos. Neste artigo, em particular, trago o desafio de usar as férias para refletir sobre o seu trabalho e o estilo de vida que está a viver. No final, deixo-lhe um exercício de reflexão.
Vou dizer-lhe três palavras para ter umas férias capazes de o/a fazer recarregar baterias e voltar com as prioridades em ordem: intenção, pressão e oportunista.
. Intenção
Defina a intenção das suas férias: diversão, descanso, tempo para aprender hábitos saudáveis ou refletir. Quando não temos um foco, seja ele qual for sofremos uma enorme desilusão. Mesmo se estiver a revirar os olhos e a pensar “eu quero é divertir-me”, saiba que isso é um foco. Porquê? Porque a intenção dá-nos uma direção e torna mais claro o que queremos fazer. Além disso, dá-nos uma certa pressão, que é muito importante, para regular o nosso bem-estar, até nas férias.
. Pressão
Imagine um mergulhador que vem à superfície rápido demais. Há risco porque o nosso organismo fica desorganizado. Acontece o mesmo com as nossas emoções, os pensamentos e os comportamentos. Já lhe aconteceu passar-se nas férias com todas as pessoas da sua família? Não conseguir escutar uma crítica ou o barulho das crianças? Pode até ter tido um ataque de pânico de férias no Algarve. Porquê? Aliviou rápido da pressão do trabalho.
A carga e o ritmo mantêm-nos num sentido e organizam-nos. Ao ir de férias, se vai para dormir, organize-se para dormir. Se vai para divertir-se, organize-se para a diversão.
Uma sugestão: nas duas semanas anteriores às férias planeie algumas ações que quer mesmo fazer nas férias. O que já ajuda a dirigir a pressão do trabalho para as férias. Ou seja, está a dirigir a sua carga mental para a intenção das suas férias.
Outra sugestão: inicie as férias com algum ritmo: visitar sítios, fazer desportos e ir reduzindo até ao modo zen.
Última sugestão: contrarie o que todos fazemos, trabalhar que nem doidos antes de irmos de férias para não falhar nada. Só que ao invés de estarmos a fazer-nos um benefício, estamos na verdade a aumentar ainda mais a carga e o ritmo levando a que a pressão mental e emocional sejam muito, muito maiores. Por isso, experimente trabalhar focado nos 15 dias anteriores à data das suas férias e deixar tarefas agendadas para o regresso, outras delegadas a colegas e concentre-se nas tarefas que são realmente críticas e que farão a diferença durante a sua ausência.
Por fim, seja oportunista – esta é a minha terceira palavra para si.
. Oportunista
Depois de ter uma intenção, ter a pressão regulada, falta-lhe o tempo. Da minha experiência, podemos fazer planos extraordinários e serem todos arruinados. Está a chover e tem sete pessoas dentro de casa. Queria divertir-se, mas afinal existe a COVID-19 e não pode ir a lado nenhum, sem enfiar um cotonete gigante no nariz. Trouxe um caderno para escrever ideias e projetos, mas parece que nunca tem vontade. Nem sequer consegue agarrar nos 3 livros que jurou que ia acabar este verão.
Experimente ser oportunista. Está relaxado a olhar o mar, responda às perguntas que não tem tido tempo ou coragem para fazer. As crianças estão distraídas com a televisão, agarre no tal livro. Sem a pressão do trabalho e dos horários das refeições, coma coisas saudáveis que tem adiado experimentar porque nunca tem cabeça para isso. Dirija a intenção para aí, crie uma pressão saudável e seja oportunista. Divirta-se com isso! Use o momentum. Assim que a oportunidade aparecer, aproveite.
Ser oportunista ajuda-nos a realizar algumas coisas que queremos sem termos de ser muito rígidos.
Com estas três palavras pode encarar as suas férias de forma mais preparada e ao mesmo tempo mais natural. E assim abrimos espaço para o exercício seguinte.
Exercício de reflexão:
Como muitas vezes, vivemos o trabalho em automático, sem avaliarmos o que estamos a fazer, experimente fazer o seguinte exercício.
Se não gostar das suas respostas, veja isso como o primeiro passo para começar a agir. Não desespere! Todos estamos constantemente a ter de rever alguma coisa na forma de trabalhar ou de viver. Chama-se adaptação. Tenha em mente que é apenas um exercício. Não tome decisões de vida a partir daqui. Aconselho a que qualquer ideia seja amadurecida e inclusive discutida com pessoas da sua confiança.
- Como estava a dormir nas 2 semanas antes das férias?
- Que cuidados teve com a sua alimentação nas 2 semanas antes das férias?
- Que tempo reservou no último mês, para atividade física?
- Quantas horas trabalhou em média por dia no último mês? E por semana?
- Como se sentiu no último mês, no seu trabalho?
- Se acha que precisa de melhorar alguma coisa, por onde pode começar? Se partilha a vida com um cônjuge, experimentem falar sobre pequenos gestos diários que podem fazer a diferença para se entreajudarem.
- Que ideias de melhoria ou projetos tem tido vontade de realizar no seu trabalho, mas não tem tido tempo/vontade/outras condições?
- Com quem pode discutir essas ideias? Que condições precisa para as realizar? Que passos pode dar no regresso ao trabalho?
- Que ideias de melhoria ou projetos tem tido vontade de realizar na sua vida pessoal, mas não tem tido tempo/vontade/outras condições?
- Com quem pode discutir essas ideias? Que condições precisa para as realizar? Que passos pode dar no regresso ao trabalho.
Nada parece possível até acontecer. Por isso, não se deixe viver uma vida em automático.
Volte melhor para o trabalho, depois das férias!