Como ultrapassar o stress em tempos de crise?

Ana Tapia // Janeiro 10, 2023
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Encontra-se ainda no rescaldo de uma pandemia, confronta-se com a incerteza das consequências de uma guerra na Europa, a escalada da inflação, a crise económica e uma informação muitas vezes dispersa, superficial que o(a) desorienta e aumenta o seu medo de viver ou sobreviver na escassez ou ausência de recursos e segurança. Mas como gerir este stress que resulta de sentir que não tem os meios necessários para lidar de forma positiva com as exigências da sua vida quer seja ao nível financeiro, pessoal, profissional, familiar ou social? Como gerir este stress  que se manifesta numa ansiedade perante a incerteza crescente do seu futuro ou dos seus filhos? 

Perder a cabeça numa crise

 é a melhor forma 

 de se transformar na  crise.”

C.J. Redwine

Precisa de reagir e atuar proactivamente. Mas, para gerir o  stress de forma mais consciente no dia a dia, precisa de ganhar uma maior autoconsciência sobre as causas e as suas reações ao medo do desconhecido. Como fator essencial, deve ainda alimentar os seus relacionamentos e evitar, assim, o isolamento para se sentir mais confiante e seguro(a). Esta situação requer soluções, quer de natureza individual, quer social, para que possa aumentar as suas possibilidades em termos pessoais. 

Crises e impasses têm pelo menos uma vantagem,

obrigam-nos a pensar.”

Jawaharlal Nehru

Pensar é uma das melhores formas de encontrar uma saída, uma solução. Mas, para que possa aceder à sua capacidade de raciocinar e tirar conclusões, necessita de oxigenar o seu cérebro, que diminui, consideravelmente, a sua capacidade de resposta perante o medo, ansiedade, insegurança, conflitos ou stress. Algumas das formas consistem em ganhar maior consciência da sua respiração e aprender a acalmar-se. Como? Recorrendo a uma memória feliz e cuidando assim do seu coração, que é o seu segundo cérebro. Para outras sugestões pode consultar o capítulo “Revigora-se” no meu livro “STOP – 50 Estratégias para Mulheres sem Tempo”.

Aprenda a respirar

Na minha experiência, quer no contexto formativo, quer clínico, uma das práticas mais acessíveis é o aprender a respirar prestando atenção à mesma, de forma a ganhar alguma calma e clareza de espírito. Respirar adequadamente é saber encontrar um ritmo para a inspiração e expiração. Para efeitos de relaxamento, utilize no dia a dia a forma mais básica que aqui se indica e que não representa todas as possibilidades e os benefícios de saber respirar bem.

Respiração consciente para o dia a dia:

  • Inspire pelo nariz, fazendo dez inspirações enquanto conta até dez;
  • Retenha a respiração e conte até quatro;
  • Expire, até acabar de contar até dez, e expulse todo o ar.

Pode sentir-se tonto(a). Se tal acontecer é o efeito da oxigenação no seu cérebro e precisa de parar, acelerar um pouco a respiração ou de aprender outro tipo de respiração: a abdominal.

Respiração abdominal para quando a ansiedade ou o stress aumenta:

  • Inspire pelo nariz e veja a sua barriga encher-se de ar;
  • Conte lentamente até três à medida que inspira;
  • Espere um segundo, e depois expire lentamente através do nariz enquanto conta até três novamente e a sua barriga encolhe.

Evoque ou sinta uma memória feliz e cuide do seu coração

Sabia que basta evocar uma memória feliz ou pensar em alguém do seu agrado (por exemplo: olhar para uma fotografia) altera o ritmo do seu coração para um estado de coerência, associado ao bem‑estar? Pelo contrário, sempre que está preocupado(a) ou ansioso (a) com alguma coisa, o seu ritmo cardíaco é irregular ou incoerente. Uma maneira prática de conseguir isto é ter uma fotografia que goste enquanto trabalha, num sítio visível na sua casa, uma imagem na entrada do seu computador (ou em modo de pausa) ou no seu telemóvel; usar um objeto (por exemplo: um anel) de alguém querido; ou ouvir uma música associada a momentos felizes ou calmos da sua vida.

Um estudo realizado pelo Instituto HearthMath indicou que os pensamentos influenciam o seu ritmo cardíaco, a forma como se sente e o modo como os outros se sentem à sua volta. Apesar de estes dados requererem mais estudo, é caso para pensar e aproveitar para selecionar bem as suas emoções, pensamentos e memórias.

Qualquer tipo de crise pode ser bom.

 Acorda-o.” 

Ryan Reynolds

Para acordar precisa de agir, de preferência, de forma inteligente e, para isso, precisa de examinar as suas convicções, as suas crenças de forma a que o(a) possam ajudar a orientar e conduzir.

Selecione as suas convicções

As seguranças que tem guiam‑no(a), muitas vezes de forma inconsciente e automática. Nem sempre estas têm fundamento lógico e, pior, é que não o(a) ajudam porque são pouco flexíveis e tornam‑se desadequadas. 

Por exemplo: 

  • Acredita que não será capaz de sobreviver porque não conseguirá proteger-se numa situação de crise. Então, pode começar por pensar que é possível descobrir formas e meios de fazer face ao que o(a) assusta tanto;
  • Sente-se num beco sem saída em que se culpabiliza por não ter previsto ou se preparado(a) melhor para a crise. Neste caso, poderá pensar o seguinte: “Fiz o melhor que soube e consegui, e aprendi”, isto irá permitir-lhe agora fazer de forma diferente. Por outro lado, poderá ainda relembrar-se que já sobreviveu a várias crises, e se outros conseguem também conseguirá;
  • Intui que não pode confiar em nada nem ninguém o que o(a) coloca sem perspetivas e com vontade de alhear-se, fugir ou atacar tudo e todos com uma irritabilidade inesperada. Nesta situação, pode escolher fontes credíveis de informação (por exemplo: ouvir ou ver só algumas notícias ou debates com especialistas nos assuntos) e/ou apoiar-se em pessoas que já ganharam a sua confiança ou demonstram ser fiáveis.

A solidariedade é o caminho para se sair melhor da crise.”

Papa Francisco

Independentemente das medidas que os governos adotem ou devessem implementar de forma a promover uma maior cidadania ou responsabilidade social, nada substitui o efeito direto de alguém que ajuda outro num momento de dificuldade. Para ser mais claro apresento, de seguida, razões de natureza científica, racional, filosófica e espiritual:

Está  provado que as pessoas que agem sem esperar nenhum retorno, guiado(a)s  por motivações que alguns chamam de intrínsecas (porque existe um propósito interno) e outros de transcendentais (porque transcendem o interesse individual), têm uma maior resistência ao stress e experimentam maior bem-estar comparativamente aquelas que agem em função do que podem ou não obter como moeda de troca.

John Nash matemático que identificou, através da teoria dos jogos, que a melhor estratégia para que possa alcançar o que pretende não é através da competição [individualismo centrado(a) meramente nos seus objetivos] que pode diminuir as suas possibilidades de ser bem-sucedido(a), mas, sim, através da cooperação.

A cultura Ubuntu é uma filosofia de vida presente nalgumas tribos da África subsariana que orienta o comportamento em sociedade. “Ubuntu” significa generosidade, compaixão com os necessitados e o desejo sincero de felicidade e harmonia entre os seres humanos, conseguido através de um comportamento solidário.

O Papa Francisco impele a uma solidariedade guiada pela fé que permita expressar o amor divino no construir pontes, na entreajuda e no amor ao próximo.

Uma cooperação de solidariedade guiada, quer seja pela fé, quer seja pela filosofia ou pela ciência, talvez seja a sua melhor possibilidade para gerir e ultrapassar o medo, a insegurança e o stress provocado por esta grande crise que se avizinha e o(a) ajude a preparar-se para fazer face a algo que pressente estar além dos seus recursos ou capacidades. Afinal, como diz Bertrand Russel, a única coisa que irá redimir a humanidade é a cooperação. E para isso precisa de uma:

esperança 

capaz de ver a luz

apesar de toda a escuridão.

Desmond Tutu

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