Plástico, um inimigo?
Não há dúvida de que, em 2018, o plástico foi considerado um dos grandes inimigos da sociedade em geral, com muitos blogues, celebridades, jornais e canais de televisão a trazer para a discussão pública esta urgência de agir contra este tipo de material.
A população não ficou indiferente e foram também muitos os movimentos que acabaram por surgir contra as palhinhas, copos descartáveis e até plásticos em geral. Estes movimentos acabaram por ter um impacto muito forte, ao ponto de influenciar medidas políticas, como foram caso as várias proibições ao uso de plásticos descartáveis em vários países, dos quais Portugal não foi exceção.
E, de facto, estes movimentos não estão errados – todos sabemos das grandes implicações do plástico quando em contacto com o nosso planeta, das substâncias tóxicas que liberta aquando da sua degradação e a produção baseada em petróleo de muitos tipos de plásticos que usamos.
E então, qual é o problema de combater o plástico?
A grande ilusão que as iniciativas antiplástico transparecem é que a culpa está no material e que substituí-lo por alternativas resolve o problema, mas a solução não passa apenas por isso.
Esta promoção da substituição cega (aliada a alguma falta de informação) leva a muitos casos de retrocesso ambiental, criando mudanças que em nada melhoram o estado do planeta.
Como exemplo, em 2018, foram muitas as grandes empresas a substituir os seus copos plásticos por copos de papel descartáveis, copos estes que têm películas plásticas na sua composição, tornando-os impossíveis de reciclar… Analisando ambas as soluções, neste caso, os descartáveis plásticos seriam uma melhor opção.
Com todo este destaque dado ao antiplástico, podemos considerar que um mundo sem plásticos seria o sonho de muitos ambientalistas? Nem por isso. Apesar de este tipo de material ser produzido à base de combustíveis fósseis, apenas 4% da extração global é utilizada na produção de produtos plásticos, o que, para todas as vantagens que o material apresenta, e apesar de tudo, não é uma fatia com relevância (estatística) muito acentuada.
Quais as vantagens do plástico?
A grande dificuldade em encontrar um substituto sério ao plástico é o facto de serem poucos os materiais que agregam tantas vantagens num só. São excelentes isolantes térmico-acústicos, maus condutores de eletricidade, quimicamente inertes (principal motivo para se encontrarem em quase todas as embalagens de alimentos), resistentes ao calor, leves, flexíveis e resistentes – tudo isto com uma relação custo/benefício difícil de encontrar noutros materiais.
Todas estas características permitem-nos, hoje, aplicar plásticos nos mais variados sectores, incluídos em áreas cruciais como a saúde: em seringas, bolsas de transfusão de sangue ou embalagens de soro fisiológico.
Para além disso, uma das maiores vantagens dos plásticos é o facto de estes serem 100% recicláveis. Desta forma, é possível aproveitá-los, fazendo novos objetos e contribuindo para uma economia cada vez mais circular. Se ainda tens dificuldades em distinguir os diferentes tipos de plásticos, descobre aqui os tipos de plásticos que são recicláveis.
Como seria um mundo sem plástico?
De facto, a não existência de plásticos só afetaria a nossa história mais recente. Afinal de contas, o plástico e a sua produção em grande escala não têm mais de um século. Considerando que as necessidades de evolução seriam as mesmas, no caso da não existência de plástico teríamos outros tipos de materiais – como madeira ou vidro – aplicados aos objetos de hoje em dia.
Pelas vantagens diretas do plástico, alguns efeitos seriam a menor segurança no armazenamento de alimentos, aparelhos eletrónicos não tão avançados (mais lentos e pesados) e uma taxa de desflorestação ainda maior do que a atual. Contudo, estas não são as únicas previsões que podem ser feitas:
Aumento da Vida Rural
Sem a indústria do plástico, e sendo as alternativas mais óbvias de origem vegetal, pode supor-se que haveria mais emprego nas zonas rurais, onde normalmente se encontram estas indústrias.
Menor Variedade de Comida
O plástico está presente nos mais variados sectores tendo trazido muitas vantagens para a agricultura. Sendo parte constituinte das estufas, um mundo sem plástico dependeria mais do clima para produzir alimentos, reduzindo a variedade e disponibilidade que encontramos hoje em dia.
Produtos mais caros
Uma alternativa sustentável ao plástico seria o bioplástico (à base de amido de milho), contudo, este custa até 4 vezes mais a ser produzido. Ao utilizar alternativas mais caras na produção, distribuição e embalagem é previsível que os próprios preços subissem.
Computadores de Pinho
Se quando falamos em evolução, falamos também em tecnologia, sem a utilização de plástico nos dispositivos não seria possível termos disponível, de forma tão acessível, a tecnologia que temos. Os computadores seriam de madeira ou metal e alguns dispositivos internos poderiam ser feitos de silicone.
Como suposição, sem plástico nunca teríamos sido capazes de evoluir tão rápido em termos de tecnologia. Por consequência, ao não utilizar plástico, a tecnologia seria bem mais cara, os aparelhos eletrónicos seriam mais pesados e os portáteis não seriam tão portáteis quanto o são hoje…
Garagens Pequenas Demais
Hoje em dia, 50% da composição dos veículos é plástico. Ao não existir este material, os carros pesariam o dobro, gastariam mais 35% de combustível para suportar o seu peso e seriam muito próximos aos carros dos anos 50, tanto em tecnologia como tamanho.
Adeus aos Descartáveis
Uma coisa é certa: sem plástico, não teríamos descartáveis tão atrativos como os de hoje. As alternativas seriam tão caras que as pessoas optariam por recusar as palhinhas e utilizar reutilizáveis como ponto de partida.
Seria um adeus à ilha do plástico do pacífico, mas seria um olá a mais produtos de borracha e alumínio – alternativas plausíveis que demoram, em média, 500 anos a degradar.
Então, qual é o problema do plástico?
Apesar de, ecologicamente, não ser um material ótimo, a conclusão deste artigo é que o grande problema do plástico não está no plástico. Está sim na forma como o usamos, como olhamos para o descartável como uma escolha óbvia e na indiferença com que tratamos os resíduos que geramos.
A culpa de, até 2050, o mar passar a ter mais partículas de plástico do que peixe, não está no plástico, mas sim nas 13 milhões de toneladas de plástico que todos os anos chegam ao oceano.
O grande problema da longa degradação destes detritos (com alguns tipos de plástico comuns a demorar cerca de 1000 anos a degradar no ambiente) não está na sua existência, mas sim no facto de apenas 9% de todos os resíduos plásticos produzidos a nível mundial terem sido reciclados.
O que podemos fazer?
A receita é muito simples: recusar os descartáveis desnecessários, reduzir o possível e reutilizar ao máximo tudo o que já existe. Se, no final do dia, ainda vês que precisas de alternativas, garante que as escolhes o mais ecológicas e sustentáveis possível.