Sabor doce e ácido, cor deslumbrante às riscas e muito aromática, a Maçã Riscadinha de Palmela é apelidada por muitos como a melhor maçã de Portugal. A minha mãe adora este tipo de maçãs!
No entanto, a Maçã Riscadinha tem tido um percurso atribulado e muitas vezes teve em risco de extinção. Adorada pelos locais e por quem já a provou, tem sido alvo de um novo resgate, desta vez pela mão de um grupo informal de produtores. Para honrar esta preciosidade típica da Península de Setúbal, mais especificamente dos concelhos de Palmela, Setúbal e Montijo, estive à conversa com a querida Paula Castro, do Pomar da Vinha.
1. Qual a história da Maçã Riscadinha?
A Riscadinha terá surgido no século XIX, em Barris, no concelho de Palmela. Era produzida em consórcio com a vinha, existindo macieiras nas pontas das linhas das vinhas. Uma vez que a sua colheita ocorre em Julho e Agosto, o lucro das vendas das maçãs pagavam a vindima. Por outro lado, garantiam algum sustento económico às famílias em maus anos de vinha. Com a entrada de Portugal na União Europeia (UE), as normas obrigaram a alterações e deixou de ser permitido o consórcio de algumas culturas dentro das mesmas áreas, e assim priorizou-se a vinha sobre a fruta. Com isso, a Maçã Riscadinha, tal como outras frutas, foi perdendo força e iniciou o seu declínio.
Entretanto o Ministério da Agricultura e a Cooperativa Agrícola de Palmela resolveram arregaçar mangas e fazer da Riscadinha um produto de prestígio. Construíram uma marca, deram início ao processo de regulamentação do DOP (Denominação Origem Protegida), preparam condições de logística, comercialização e distribuição para a produção ainda existente e fizeram um grande apelo para a adesão de novos produtores para esta causa. E foi nesta fase que optámos por plantar um pomar de um hectar com cerca de 3000 árvores desta variedade. Porém, antes de iniciarmos a primeira colheita, a Cooperativa faliu e perdemos o alicerce que nos iria ajudar a comercializar a maçã. Muitos produtores desistiram e outros, tal como nós, lá foram aguentando.
2. Sei que todo este percurso teve as suas adversidades, mas a Paula nunca desistiu e pacientemente esperou colher o fruto que plantou.
Em 2017, as árvores estavam a crescer e tivemos um ano excecional de produção. Investimos tudo na colheita, preparação e comercialização da Riscadinha. Porém, as parcerias que tínhamos não cumpriram a sua parte e as maçãs não chegaram ao consumidor final. Não havendo venda, há muito prejuízo, e de tal maneira que passámos o Inverno sem ter capacidade de manter os cuidados ao pomar, e de fazer nova colheita. Batemos no fundo e daqui tínhamos duas possibilidades: desistir ou aproveitar a pausa para perceber o que funcionava mal e como corrigir. Demos uma última oportunidade ao nosso sonho e procuramos respostas no grande juiz: o público! Procurámos através de um questionário online esquematizar a percepção do público em relação à maçã, aos pontos de venda, qualidade, preço, oferta, tudo o que nos ocorreu perguntar. Foi aqui que encontrámos respostas e traçámos um novo rumo: fizemos uso do DOP (que saiu em 2013 e nunca tinha sido usado) e iniciámos o período de conversão para Modo de Produção Biológico, procurando apoio técnico para nos ensinar a produzir e a comercializar.
3. No entanto, no “Pomar na Vinha”, além das Maças Riscadinhas, também existem outros produtos disponíveis…
Uma vez que não tínhamos capacidade económica para fazer uma colheita em escala, mas tínhamos fruta, iniciámos também um teste de mercado para produtos transformados à base de maçã (compotas, granolas e fruta desidratada). E percebemos que, tal como o público defendia, a maçã e os subprodutos dela, tinham futuro. Neste momento estamos focados em 3 coisas: produzir a melhor maçã possível, consolidar a nossa marca de produtos “Pomar na Vinha” e promover a Maçã Riscadinha dentro e fora da Península de Setúbal.
4. Partilhar a história do “Pomar na Vinha” é, no fundo, mostrar que vale a pena acreditar e que, com esforço e dedicação, é possível fazer com que os sonhos se tornem realidade.
Sabemos que as grandes mudanças dão-se no coração das pessoas, mas a Riscadinha já teve tantos alto e baixos na sua história que nos parecia incorrecto apelar a que os outros produtores não desistissem dela. Atendendo ao facto, de termos sentido na pele, o peso e o sufoco de assumir toda a cadeia desde a produção-distribuição ao marketing-venda. Então,para duas atividades específicas, resolvemos pedir apoio à Câmara Municipal de Palmela e à Adrepes:
- a realização de umas Jornadas Técnicas (vocacionado para produtores) com o objetivo de demonstrar a importância do apoio técnico e a necessidade de coesão de produtores;
- a realização de um evento de promoção e venda, o Sunset da Riscadinha no Castelo de Palmela (para o consumidor) com venda da maçã e lançamento de subprodutos.
A adesão foi imensa! Ficou provado o carinho com que o público procura a maçã, o seu potencial económico e a necessidade de profissionalizar a sua produção de modo a satisfazer o novo perfil do consumidor. Como consequência deste trabalho, muitas marcas da indústria ganharam interesse na Riscadinha e avizinha-se um futuro colorido para esta maçã.
Para quem não conhece a Maçã Riscadinha, a Paula deixa-lhe o seguinte convite: “Venha conhecer Palmela em Julho ou Agosto e vai poder provar a melhor maçã de Portugal. Mas, quem não quiser esperar até lá, pode também provar os seus subprodutos – há desde pão de Riscadinha, fogaças, licor, geleia, doces e compotas, granolas, bombons, cerveja, desidratada. Prove e leve um pouco de Palmela consigo, no coração”.
Nota: Fotografias por Verónica Silva