Como renascer após um divórcio?

Cláudia Morais // Abril 22, 2021
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Como é que se recupera de um divórcio? Como é que se renasce depois de o projeto mais importante da nossa vida chegar ao fim? Que escolhas nos podem ajudar a alimentar a esperança num futuro feliz?

Não me canso de dizer: o divórcio é o segundo acontecimento mais stressante na vida de uma pessoa, apenas ultrapassado pela morte de um filho ou do cônjuge. Às vezes esquecemo-nos da magnitude e do impacto de uma separação e arriscamos fazer juízos de valor sobre situações que encaramos como se se tratassem de episódios de uma telenovela. O facto de haver tantos divórcios e separações também tem contribuído – achamos que é uma experiência fácil, banal.

É verdade que é muito mais fácil para qualquer pessoa separar-se nos dias de hoje. Há trinta ou quarenta anos o estigma era bem maior, especialmente para as mulheres. Felizmente, hoje vivemos quase todos na expectativa de sermos felizes no amor e acabamos por compreender melhor (e aceitar, sem julgamentos) o fim de uma relação. Mas, para quem se divorcia, há normalmente sentimentos intensos de tristeza, medo, culpa e raiva – mesmo para quem toma a iniciativa de terminar a relação. Isso é especialmente verdade quando há filhos.

Um divórcio pode implicar o confronto com julgamentos da parte de pessoas próximas, a perda de alguns amigos, as saudades dos filhos, dificuldades financeiras e a exposição da vida privada. Mas isso está longe de significar que o divórcio seja o fim do mundo. Não é, não tem de ser. Basta um olhar atento à nossa volta para nos darmos conta de que há muitas pessoas que não só ultrapassaram a dor da separação como voltaram a ser (muito) felizes.

Que escolhas podemos fazer para reencontrar a felicidade depois de um divórcio?

1. Limite o contacto com o(a) Ex ao essencial, pelo menos, numa fase inicial.

É provável que a pessoa com quem esteve casado(a) também tenha sido, durante muito tempo, o(a) seu(sua) melhor amigo(a) e confidente. Mesmo que o amor romântico tenha desaparecido, isso não significa que esteja disposto(a) a abdicar da amizade. Mas é importante que você reconheça que, de uma maneira geral, há um que está mais apegado do que o outro, o que pode atrasar o processo de luto, dar origem a tensões desnecessárias e alimentar a esperança. Por isso, numa fase inicial é importante definir fronteiras rígidas e oferecer – a si e à outra pessoa – o tempo e o espaço necessários para a adaptação à nova realidade. Nalguns casos, até pode ser necessário adotar a estratégia de “zero contactos” – não de forma hostil, mas genuinamente (auto)compassiva.

O tempo não cura tudo, mas é um excelente aliado. Gradualmente, poderão retomar a amizade.

2. Use as redes sociais de forma emocionalmente inteligente.

As redes sociais são ferramentas fantásticas, que permitem que qualquer adulto possa recuperar o contacto com antigos colegas ou manter a amizade e a ligação com aqueles que passaram a viver do outro lado do mundo. Mas não vale a pena dourar a pílula: as redes sociais também podem ser um veículo para que nos sintamos mais tristes e com humor mais deprimido, especialmente se escolhermos passar demasiado tempo a fazer scroll down em piloto automático, ignorando o facto de o Facebook, o Instagram ou o Whatsapp serem sobretudo montras em que cada pessoa escolhe criteriosamente aquilo que publica. Nas redes sociais há pouca tristeza ou vulnerabilidade, o que não significa que as nossas vidas reais sejam perfeitas. Evite expor-se a exercícios de comparação inúteis e prejudiciais.

Por outro lado, talvez seja bom oferecer a si mesmo(a) a possibilidade de se distanciar da tentação de andar a “espreitar” as novidades sobre a vida do(a) seu(sua) Ex. É absolutamente compreensível que sinta vontade de o fazer, mas isso não significa que contribua para o seu bem-estar.

3. Desmistifique o choro e a tristeza.

Se alguém de quem você gosta estiver triste, o que é que você faz? Critica-o(a)? Chama-o(a) de fraco(a)? Claro que não! Então, não faz sentido que reprima os seus sentimentos, nem sequer na presença dos seus filhos. Você tem o direito de estar triste (e as crianças também). Mostre a sua vulnerabilidade e assuma que esta é uma fase. Vai passar, vai mesmo.

Quando você expõe a sua tristeza, permite que as pessoas que gostam de si o(a) vejam exatamente como é e mostrem que se preocupam consigo. Você não é um(a) coitadinho(a). É alguém que está a passar por um momento de dor e que merece sentir-se amparado(a).

4. Pratique a autocompaixão.

Não seja demasiado duro(a) consigo próprio(a). Preste atenção aos seus pensamentos, às coisas que diz a si mesmo(a). Quando der por si a ter sentimentos desconfortáveis e/ou pensamentos negativos, preste atenção. Imagina-se a reproduzir em voz alta esse discurso a um familiar ou a um(a) amigo(a) se ele(a) estivesse na sua posição? Se as coisas que diz a si próprio(a) são muito diferentes daquilo que diria a alguém de quem gosta, isso significa que está a ser injusto(a). Substitua qualquer discurso hipercrítico por um discurso amável. Seja a sua melhor companhia.

5. Coloque a si mesmo(a) a pergunta «Como é que os meus filhos olharão para a minha escolha daqui a 20 anos?» antes de qualquer decisão importante.

É provável que depois do divórcio tenha de lidar com algumas surpresas desagradáveis. Talvez fique de queixo caído pelo facto de algumas dessas surpresas partirem do(a) seu(sua) Ex ou de outras pessoas próximas. A verdade é que, como refiro no livro “Continuar a ser família depois do divórcio”, ninguém está no seu melhor ao longo do processo de divórcio. Todos os membros da família têm sentimentos intensos de perda e é provável que cometam erros que, noutras circunstâncias, não cometeriam. Respire fundo antes de agir de forma impulsiva, responder “na mesma moeda” ou fazer alguma escolha de que possa arrepender-se.

Colocar a si mesmo(a) esta pergunta permitir-lhe-á olhar para as consequências das suas decisões a longo prazo. Independentemente dos erros que as outras pessoas cometam, você continua a ter a possibilidade de proteger os seus filhos e de garantir que no futuro eles continuem a poder contar com outros membros da família.

6. Ajude a sua rede de suporte a ajudá-lo(a).

O divórcio não é apenas uma fonte de surpresas desagradáveis. Na verdade, este período da sua vida pode ser fértil em agradáveis revelações. Quanto mais você conseguir revelar-se de forma autêntica, mais provavelmente vai dar-se conta de que há mesmo “boas pessoas”, com vontade de ajudar. Talvez não se sinta confortável para se expor, para revelar detalhes sobre a sua vida – e tem todo o direito! Verbalize os seus sentimentos e as suas necessidades. Se precisar de conversar, assuma-o com clareza. Se não quiser falar sobre o assunto, diga-o também. As pessoas que gostam de si precisam das suas diretrizes. Às vezes, é importante dizer, com clareza e honestidade, exatamente de que formas é que as pessoas à sua volta o(a) podem ajudar. Talvez precise que alguém faça algumas refeições para ter menos uma tarefa com que se preocupar, talvez precise de espairecer nos dias em que está sem os seus filhos. Seja claro(a).

7. Aprenda a diferenciar uma necessidade de um desejo.

Se estiver na caixa do supermercado à hora de almoço e tiver uma caixa com bolas de Berlim à sua frente, talvez se convença de que “precisa” de comer um desses bolos. Na verdade, aquilo de que você precisa é de comer. A bola de Berlim é algo que lhe apetece comer. Num processo de divórcio, é natural que, de entre outras coisas, lhe apeteça estar sozinho(a) com os seus pensamentos. Mesmo que, ao fim de algumas horas de ruminação, se sinta mais triste ou irritável do que nunca, é natural que não queira sair da sua toca. Mas isso está longe de ser aquilo de que você precisa. Às vezes, aquilo de que precisamos é exatamente o contrário daquilo que nos apetece.

Esta é a altura de parar para reparar no impacto das suas escolhas. De novo, importa que seja justo(a). Os conselhos que daria a um(a) amigo(a) são exatamente aqueles que deve levar à letra.

8. Comprometa-se.

Os dias ou semanas em que está com os seus filhos podem ser desafiantes, sobretudo numa fase inicial. Mas não tenhamos dúvidas: o tempo que passa sem eles pode ser ainda mais. De repente, passa a haver demasiado tempo livre e você está entregue aos seus pensamentos. Mesmo que tenha muito trabalho para fazer ou esteja inscrito(a) nalgumas atividades de que costumava gostar, é possível que dê por si a procrastinar, a evitar qualquer tarefa importante.

A forma mais eficaz de contrariar estes vazios é comprometer-se com outras pessoas. Tem trabalho para fazer, mas tem sentido dificuldade em concentrar-se? Comprometa-se com um(a) colega no sentido de definir prazos, marque reuniões que o(a) obriguem a ter o trabalho pronto. Faça exatamente o mesmo em relação às atividades que você sabe que o(a) podem ajudar. Combine ir ao ginásio com um(a) amigo(a), peça ajuda a quem está à sua volta.

9. Faça exercício.

O exercício não faz bem apenas ao corpo. Quando praticamos desporto, também estamos a cuidar da mente. O movimento é uma das melhores formas de lidarmos com o stress, independentemente do motivo que está por detrás. Quando corremos, dançamos ou jogamos, estamos a mostrar ao nosso cérebro que “está tudo bem”. Quando nos exercitamos, libertamos endorfinas, que promovem a sensação de bem-estar. Quando o fazemos com outras pessoas, sentimo-nos mais animados e amparados.

10. Saia de casa.

Sair de casa não implica apenas mantermo-nos funcionais. Implica ver outras pessoas, socializar, estar em contacto com a natureza e distrairmo-nos. A ideia não é fugir dos problemas ou fingir que eles não existem. Pelo contrário, a ideia é lembrar-se de que há vida para além daquilo que acontece na sua mente. Quando você sai e interage com outras pessoas, é mais provável que desvie o olhar do seu umbigo e se permita comover-se, ligar-se, entusiasmar-se.

11. Saia da sua zona de conforto.

Se é verdade que o divórcio representa uma perda de grande magnitude, também é importante tomar consciência de que na maioria dos casos, esta é uma oportunidade para parar e escolher, de forma mais consciente, aquilo que quer para a sua vida. O facto de provavelmente passar a ter mais tempo disponível é uma excelente oportunidade para considerar abraçar novos desafios. Este pode ser o momento ideal para experimentar trabalhar fora do país, voltar a estudar, treinar para uma maratona ou simplesmente cultivar um hobby que tem vindo a adiar.

Há um efeito muito terapêutico associado à superação. Quando saímos da nossa zona de conforto e nos expomos a novos desafios, sentimo-nos mais poderosos e entusiasmados. A alegria não está apenas subjacente às vitórias. Ela pode estar presente pelo mero facto de estarmos dispostos a arriscar. Além disso, quando nos desafiamos, emanamos um “brilho” especial, que é normalmente atraente para os outros.

12. Abra os braços para o amor.

O ser humano está altamente programado para construir ligações. Ao fim de algum tempo, é possível que dê por si a sentir-se estupidamente feliz com a sua condição de solteiro(a), mas, mais cedo ou mais tarde, é provável que o seu coração volte a bater de forma mais acelerada por causa de outra pessoa. Abra os braços para o amor e procure estar consciente das suas escolhas. Enfrente os seus medos, mas não permita que eles tomem conta de si.Aproveite o tempo em que estiver sozinho(a) para refletir sobre as suas intenções a propósito de uma relação amorosa. A ideia não é fazer uma lista de desejos que coloquem qualquer candidato numa espécie de “Missão Impossível”. Identifique aquilo que valoriza numa relação e olhe para os seus próprios comportamentos. Talvez valha a pena ler alguma coisa sobre “Estilos de vinculação Amorosa” para perceber que, no amor, cada pessoa tem um determinado perfil e algumas combinações são mais prováveis de dar certo do que outras. Em resumo: escolher a pessoa certa é meio caminho para ser feliz.

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