“Vai-te embora!”; “Isto é uma porcaria!”; “Quero estar sozinho!”. Estas frases ditas bem alto exprimem a zanga de muitas crianças. Por vezes, em vez de gritar, dão cabeçadas ou atiram-se para cima da cama ou do sofá, ou batem na cabeça, ou desatam a chorar. Se o seu filho ou filha reage intensamente às situações, não desespere, temos algumas mensagens para si. Ora leia!
Primeira mensagem: A zanga é uma emoção muito valiosa para o ser humano.
Sentimo-nos zangados quando acreditamos que os nossos direitos foram transgredidos. Por exemplo, alguém nos disse algo que sentimos como ofensivo. A zanga funciona como um alerta. Algo não está bem e devemos procurar perceber o que nos está realmente a incomodar, para o tentar resolver.
Segunda mensagem: Não está sozinho/a.
Muitos pais passam pelo mesmo com os seus filhos e é difícil saber como agir perante a intensidade de tais comportamentos. A boa notícia é que podemos aprender a apoiar melhor os nossos filhos nestas situações de grande descontrolo.
Terceira mensagem: As crianças têm muita dificuldade em lidar com a zanga.
Na verdade, é a emoção mais difícil de gerir, para elas. O auto-controlo é uma competência que vamos desenvolvendo durante a infância e a adolescência. Se até para os adultos é por vezes difícil, imagine para uma criança, que ainda está no início da sua aprendizagem.
Quarta mensagem: Como é que você próprio/a lida com a zanga? Já parou para pensar nisso?
Quando está realmente muito zangado, o que faz? É que as crianças aprendem mais com o que vêem e ouvem à sua volta (especialmente com os seus modelos de educação) do que com o que lhes dizemos para fazer.
É importante assumir quando estamos zangados, identificar o que é que está a acontecer que nos faz sentir zangados, procurar estratégias para nos acalmarmos e responder à situação da melhor maneira. Quando não o fazemos, podemos deslocar a raiva para outras pessoas, que nada têm a ver com o que nos deixa realmente incomodados.
Emoções ao rubro!
“Mas, afinal o que posso fazer?”
Se quer ajudar os seus filhos a lidar com emoções intensas como a zanga, antes de mais terá de olhar para si e perceber o que pode melhorar na forma como lida com esta emoção.
No momento da crise ou da birra é também importante dar mais espaço (distância física) à criança. Muitas vezes, elas pedem mesmo isso: “Vai-te embora!”. Nestas alturas, procure não se sentir ofendido, apesar do tom de voz dos seus filhos. É até um bom sinal o facto da sua filha ou filho conseguir verbalizar o que necessita naquele momento. Encare-o como um pedido. Diga-lhe apenas que vai para a sala, por exemplo, e que, se ele/a precisar, pode ir lá ter consigo ou chamá-lo/a.
Fale sempre num tom calmo e evite falar muito, porque nestas alturas as crianças não conseguem prestar atenção ao que lhes é dito. Aos poucos, vá pedindo à criança para respirar fundo e faça-o também, ao lado dela (isto ajudará a acalmá-lo também a si).
A parte mais importante para ajudar os filhos a atravessar essa nuvem de tempestade que é uma birra, é manter a paciência.
À medida que o seu filho se vai acalmando e sinta que se pode ir aproximando, mantenha-se disponível para o toque. É muito reconfortante, as crianças sentirem o consolo de um abraço, quando estiverem preparadas para o receber.
Às vezes, é importante falar com a criança sobre o que aconteceu que a fez sentir-se zangada, o que é que ela pode pensar ou fazer de maneira diferente da próxima vez que algo parecido aconteça. Decida qual o melhor momento para ter esta conversa. Nem sempre a criança está logo recetiva para falar sobre o que aconteceu, até porque muitas vezes se sente envergonhada por se ter descontrolado. Não exija pedidos de desculpa.
Por fim, pode e deve reforçar qualquer momento em que o seu filho ou filha mostrou algum autocontrolo, para ele/a perceber que é algo possível de alcançar. Na Semear Valores temos umas medalhas ótimas para reforçar o autocontrolo e outras forças como a bondade, a gratidão, a coragem, o amor, entre outras. Descubra-as aqui!
Apesar de ser um desafio, apoiar os seus filhos nestas tempestades emocionais é mesmo importante!
Sempre que o seu filho ou filha sente que o ajudou a atravessar uma destas tempestades (e, às vezes, ajudar é simplesmente ter estado lá com ele/a sem se ter descontrolado também), ele/a aprende que pode contar consigo nas situações mais difíceis, os laços entre vocês saem fortalecidos e, aos poucos, ele/a vai desenvolvendo autocontrolo para lidar com os desafios que a vida lhe trará.
Nota: Se quer aprender mais sobre este tema, deixamos-lhe algumas sugestões de leitura:
- Mindfulness para Pais, de Laura Sanches (Manuscrito);
- Laboratório de Emoções, de Tânia Correia (Oficina do Livro);
- Educar pela Positiva – Um Guia para Pais e Educadores, de Nuno Pinto Martins (Bertrand Editora).