Como mudar de carreira em 2021?

Cassiana Tavares // Março 29, 2021
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A carreira é mais que um meio de subsistência. É algo tão importante para o nosso bem-estar que nos pode fazer florescer ou adoecer. Isto porque o trabalho estrutura a nossa vida. Dá-nos um propósito e um significado. Permite-nos aprender e transformar o meio em que vivemos. Não importa qual é o seu trabalho. Mas, sim, o que esse trabalho faz por si e o que você faz pelo mundo com esse trabalho. E isso continua a ser verdade em 2021.

Claro que o contexto atual tem de ser analisado. Por um lado, a pandemia agravou a sensação de incerteza e, por outro, destruiu postos de trabalho e suspendeu carreiras. Mas também é verdade que elevou outras. Por exemplo, a saúde, a educação e o serviço social carecem de pessoas. No caso dos serviços sociais, temos uma área muito pouco profissionalizada, com trabalhadores não qualificados, instituições quase amadoras, áreas esquecidas, como os cuidados continuados e os paliativos. Precisamos de empreendedores, cientistas, técnicos sociais e de saúde. A estas áreas com falta de pessoas juntam-se as áreas tecnológicas e as técnicas (metalomecânica, por exemplo).

O que lhe acabei de dizer é, ao mesmo tempo, sinal de oportunidades e sinal da falta de entendimento entre o mercado de trabalho e a qualificação disponível. O mercado de trabalho português não é muito dinâmico porque acompanha a realidade da nossa economia. E o que significa isso para si? Pelo menos duas coisas: (1) há oportunidades, (2) mas tem de construir a carreira.

Como construir uma carreira num cenário de incerteza?

Uma carreira faz-se mais por um processo de construção do que através de golpes de sorte. É preciso ser intencional e sistemático. E eventualmente encontramos a nossa sorte: o momento em que as nossas intenções se cruzam com as organizações que valorizam alguém como nós. Para isso acontecer é preciso trabalhar afincadamente. 

1. Saiba do que é capaz

Comece por uma avaliação realista das suas capacidades, incluindo as qualificações que tem. Inclua tanto competências técnicas como comportamentais – vai mesmo precisar de ambas para estar no mercado. Isso vai permitir-lhe perceber o que está preparado para fazer. Depois, pense se gosta do que faz; se é nessa área que quer continuar; se está na organização em que gostaria de estar. Se desejar mudar, olhe para o seu mapa de capacidades e qualificações. É o seu pontapé de saída.

2. Confronte a realidade

O potencial e a realidade têm de confrontar-se. Que tipo de funções e organizações valorizam as competências que tem? Leia anúncios, consultando sites de emprego como, por exemplo:

  • IEFP – Instituto do Emprego e Formação Profissional;
  • BEP ― Bolsa de Emprego Público;
  • Expresso Emprego;
  • Carga de Trabalhos (específico das áreas de tecnologia e comunicação);
  • Sapo Emprego;
  • Net-Empregos;
  • Jobtide (ofertas nacionais e internacionais).

Perceba o tipo de ofertas. Tem a ferramenta Skills-OVATE, do Centro Europeu para o Desenvolvimento da Formação Profissional, que lhe mostra as competências mais pedidas em anúncios de emprego online em cada estado-membro da União Europeia. Converse com a sua rede de contactos profissional e pessoal para conhecer organizações e oportunidades (networking). 

3. Comece a agir

Com o seu mapa e uma exploração da realidade, pode ser a altura de fazer o seu currículo (CV) e começar a candidatar-se. Se concluir que lhe faltam qualificações, invista num projeto formativo, enquanto mantém o seu trabalho atual. Se precisar mesmo de mudar, faça um projeto intermédio: um emprego que lhe permita garantir as suas necessidades, enquanto estuda para poder avançar para a área que quer.

4 Dicas para entrevistas de emprego:

  1. Faça o trabalho de casa e descubra o máximo sobre a organização a que se candidata. Uma vez mais, pesquisa online, use o seu networking para obter informações mais diretas para perceber o que valoriza essa entidade.
  2. Os empregadores querem escutar quais os resultados que o seu trabalho gerou. Por isso, fale de projetos e de responsabilidades que concretizou e do impacto que isso teve na organização em que trabalhava. Já nenhum empregador quer escutar “sou uma pessoa competente em A ou B”. 
  3. Converse genuinamente com o entrevistador, em vez de “mostrar o seu melhor eu”. Quando tentamos criar uma performance e vender uma imagem corremos o risco de ser desmascarados na entrevista ou pior: podemos ser contratados e dispensados no período experimental. Em vez disso, fale dos resultados do seu trabalho e fale do seu perfil numa conversa, focando-se no que lhe é dito, no momento. Uma das coisas que a/o bloqueiam é pensar no que vai acontecer a seguir, na entrevista que já teve antes e no que está o entrevistador a pensar de si. Tudo isso desliga-a/o do momento. Respire fundo e fique no momento. É só uma conversa! 
  4. Aprenda com a experiência da entrevista e siga para a próxima mais confiante. Não siga de entrevista em entrevista sem questionar a sua abordagem ao mercado. Há muitas injustiças e estou bem consciente delas. Mas se ficar abatida/o e chegar às entrevistas com uma atitude negativa aumenta a probabilidade de ser sucessivamente rejeitada/o.

A idade e o emprego

Ou é muito jovem e não tem experiência. Ou é muito velho e tem muita experiência. Lamentavelmente, grandes grupos económicos podem dispensar centenas de pessoas sem lhes facultar apoio na orientação da carreira. Temos muito que percorrer no que toca a questões de direitos laborais. E ainda não percebemos que nos falta mão-de-obra. Sim, porque nós não temos capacidade de reposição! Ou seja, saem mais pessoas do mercado de trabalho do que as que entram (em 2005, por cada 100 pessoas com idade para sair do mercado de trabalho, tínhamos 124 para entrar; em 2015, esse número era de 100 para 81(1)) e ainda por cima não temos um match entre qualificação e necessidades: há qualificados acima do necessário e as empresas dizem que não têm pessoas qualificadas. Isto acontece porque ainda não temos políticas adequadas aos problemas reais do nosso mercado de trabalho, por isso só me resta inspirá-la/o para construir o melhor cenário para si. 

Construa o melhor cenário para si. 

Aos jovens, recomendo paciência: conseguir entrar no mercado é melhor do que ficar de fora. A tradicional noção de aprendiz pode ser a forma de entrar numa organização e progredir.

Para os trabalhadores mais velhos, pode ser inevitável mudar de área. Que competências chave detém e que resultados gerou com elas? Procure funções compatíveis com essas competências. Proponha-se com a confiança de quem sabe e de quem pode ensinar uma nova geração. É muito curioso quando lemos que os mais novos, que já são nativos digitais, esperam que os mais velhos os ajudem a lidar com as transformações atuais, nomeadamente com a quarta revolução digital(2). Por isso, não fique limitado à sua área e não desista.

Mudar de carreira em 2021

2021 é um ano de incertezas, mas ainda é verdade que há oportunidades. Saiba do que é capaz, confronte a realidade e comece a agir. 

Referências: 

(1) Instituto Nacional de Estatística, «Estimativas de População Residente em Portugal — 2015», Portal do Instituto Nacional Da Estatística, 16 de junho de 2016. Consultado a 28 de dezembro de 2016. Disponível aqui

(2) A Deloitte conduziu um estudo em 2018, sobre a 4.ª revolução digital e concluiu que os trabalhadores mais jovens — Millennials (1983 e 1994) e a Geração Z (1995 e 1999) — esperam que o treino on-the-job os prepare para esse momento histórico.

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