A Educação Sexual é uma ferramenta imprescindível na Educação. Apesar de ser uma área de extrema importância é também alvo de muitas objecções. Quando falamos em Educação Sexual, a maior parte das pessoas, imagina sexo, como se falar de sexualidade fosse ensinar as crianças e os jovens simplesmente a ter relações sexuais. Reduzir a sexualidade ao coito é tão redutor como errado. Afinal, como falar com as crianças e os jovens sobre sexualidade?
Trabalho em Educação Sexual há muitos anos e faço-o formalmente com crianças a partir dos 4 anos.
O que querem e precisam de saber as nossas crianças e jovens sobre sexualidade?
Aos 2 anos as crianças já têm uma noção da sua identidade de género, se são meninos, se são meninas, já se comportam como a sociedade espera e reproduzem estereótipos pelo que observam. Nesta fase importante os cuidados da família firmam os vínculos e dão a segurança emocional à criança para que ela cresça mais segura. Trabalhar com eles, desde cedo, a importância de cuidar do corpo, de o amar como é, de o proteger, é, por isso, muito importante.
Aos 3-4 anos as crianças deixam a fralda e experimentam uma autonomia com o seu corpo, mexem-lhe sem pudor e gostam de estar nus. Esta etapa é muito importante porque a criança não deve ser impedida de se tocar se o quiser. Porém, deve conhecer regras sociais importantes. Fazem perguntas sobre o corpo adulto, têm curiosidade pela diferença e pela sua origem, como se faz, como se nasce…
A entrada na escola faz com que as crianças aumentem a sua autonomia. As meninas aproximam-se dos seus pares havendo até um afastamento por interesses normalmente diferentes. Nesta altura os estereótipos estão muito presentes e as meninas procuram brincadeiras relacionadas com o universo feminino e os rapazes no seu universo masculino.
As crianças hoje parecem crescer mais rápido. A erotizacão está muito presente no universo das meninas convidando-as a seguirem padrões de beleza, de sensibilidade deixando a coragem e a criatividade para os rapazes.
O corpo continua a crescer e no fim do primeiro ciclo, com 9-10 anos, já temos meninas que menstruam entrando assim na puberdade. Falar com as crianças sobre crescimento é fundamental para o processo de aceitação e bem-estar. A ausência destes temas pode alimentar fantasmas que mais tarde podem condicionar a sua vida íntima e até a relação com o seu próprio corpo. Trabalhar a autoestima é assim muito importante.
Na puberdade e entrada na adolescência muitos jovens podem sentir se atraídos por alguém especial. Este desejo faz parte do nosso crescimento e da necessidade que temos de nos relacionar com outros à nossa volta.
A importância da Educação Sexual
As questões da orientação sexual são a principal queixa de quem se manifesta contra a Educação Sexual porque defendem que não há espaço para diversidade e que isso são invenções que vêm pôr em risco a família. O que é efetivamente uma família? Como é possível que ainda se esteja mergulhado na obscuridade de não se aceitar a diferença? E que consequências isso tem na felicidade das nossas crianças? Um dos motivos que leva os adolescentes ao suicídio é precisamente a não aceitação de si. O não se sentir apoiado, ouvido.
Alguém acredita que uma sessão de 45 minutos transforma a orientação dos jovens? Creio que não, mas pode fazer muito pela prevenção da homofobia, porque vivermos numa sociedade cada vez mais global e diversa. Isto não é importante?
Quando acontecem as primeiras relações sexuais?
As primeiras relações sexuais acontecem, segundo os últimos dados, por volta dos 15-16 anos e nesta altura seria muito bom que os jovens estivessem informados sobre o seu corpo, consentimento, prevenção e prazer… Não podemos continuar a dizer que o sexo é uma coisa feia e errada, devemos, sim, sensibilizar para a responsabilidade de se tornarem sexualmente activos.
A gravidez na adolescência tem visto o seu número reduzir e as interrupções da gravidez também têm diminuído. O acesso ao planeamento familiar gratuito em todos os centros de saúde tem permitido um contato próximo com os jovens ainda que existam muitas melhorias a fazer, especialmente no atendimento e disponibilidade.
Como a Internet tem revolucionado a intimidade dos nossos jovens
Hoje o acesso à Internet tem revolucionado a intimidade também dos nossos jovens. O envio de conteúdos íntimos, o sexo virtual, os sites de encontros, a pornografia, tudo isto precisa de ser decifrado e alvo de atenção por parte das famílias. A Educação Sexual acompanha todos estes temas e a educação formal nas escolas não se faz de costas voltadas para a família e muito menos contra os seus valores.
Sabia que a Educação Sexual firma os seus conteúdos em orientações internacionais e nos direitos humanos?
Sim, é verdade. A Educação Sexual firma os seus conteúdos em orientações internacionais e nos direitos humanos. Impedir este trabalho é um retrocesso grave que vai comprometer a saúde das nossas crianças. Tem de haver bom senso para um tema tão importante e que jamais devia servir de arremesso.
Se as famílias ouvissem o que as crianças e os jovens querem e precisam saber talvez sobre sexualdiade, se fizessem mais movimentos para a defesa de disciplinas e áreas que contribuem para formarmos cidadãos mais informados, saudáveis e felizes seria um grande passo na educação das gerações futuras.