Como escolher um método contraceptivo?

Isabel Martins // Dezembro 26, 2021
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O termo contraceção refere-se aos métodos utilizados para prevenir a gravidez, controlando assim o número de gestações, bem como o momento em que estas ocorrem. 

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) atualmente 1.9 bilhões de mulheres encontram-se em idade reprodutiva, sendo que 1.1 bilhões necessitam de contraceção. No entanto, somente 842 milhões da população feminina utiliza algum método (OMS, 20 Junho 2020). 

Os países com menor rendimento são os que têm um maior número de mulheres em idade jovens. Nestes, infelizmente, existe uma maior taxa de mortalidade materna, menor acesso a meios de contraceção e um maior número de relações não protegidas e consequentemente gravidezes indesejadas e infeções sexualmente transmissíveis.

O que são as consultas de Planeamento Familiar?

Na legislação da Saúde Sexual e Reprodutiva em Portugal visa o planeamento familiar no sentido de promover o acesso universal às consultas e métodos contracetivos de forma gratuita com o objetivo de diminuir as gravidezes não planeadas

Os adolescentes são considerados um grupo de intervenção prioritária na saúde reprodutiva como no direito à educação sexual nas escolas (lei no 03/84 de Março). 

A idade em si não é uma condição médica para não oferecer todos os métodos contracetivos

Qual o melhor método contracetivo?

É importante a/o mulher/casal conhecer todas as opções contraceptivas disponíveis no sentido de poder tomar uma decisão informada acerca do método que melhor se adapta às suas necessidades. No entanto, muitas mulheres utilizam os métodos contracetivos não só visando o planeamento familiar, como também pelos seus efeitos extra contracetivos ou mesmo terapêuticos. 

Durante a sua vida reprodutiva, a mulher sofre várias mudanças e as opções contraceptivas têm de acompanhar as suas características. É importante uma avaliação contínua da saúde da mulher para adequar a escolha de acordo com as condições clínicas e de acordo com os Critérios de Elegibilidade (Medical Eligibility Criteria for Contraceptive use -5th ed. World Health Organization 2015).

Os aconselhamentos contínuos partilhados com as escolhas da mulher também são essenciais para melhor adesão e continuidade dos métodos. 

Nenhum método contracetivo é 100% eficaz. 

A eficácia de alguns métodos depende em grande parte da sua correta utilização. Na prática acabam por ser menos eficazes do que o preconizado pelo seu uso teórico sem qualquer falha (o uso “típico ou da utilizadora” é menos eficaz que o uso “perfeito”). A contraceção oral diária é um exemplo, pois o esquecimento da toma diminui a sua eficácia. Já outros métodos como o implante subcutâneo e a contraceção intrauterina de aplicação única por profissional de saúde e com longa duração de ação, apresentam uma eficácia independente do uso da utilizadora.

Existe uma grande diversidade de métodos contracetivos.

Dentro dos métodos naturais, o mais conhecido é o da lactação, altura da vida da mulher em que a progesterona inibe a ovulação. Os outros métodos naturais como o método calendário, muco cervical e o da temperatura basal necessitam que a mulher tenha um grande conhecimento do seu corpo e obriga a abstinência sexual nos períodos férteis

Com melhor eficácia existem métodos hormonais e não hormonais.

As hormonas usadas para anticonceção consistem na combinação de estrogénios com progestativos ou, estes últimos, utilizados de forma isolada. A sua ação deve-se principalmente, à inibição da ovulação e de forma secundária pelo espessamento do muco cervical dificultando a passagem dos espermatozóides, e pelas alterações do revestimento uterino desfavoráveis à implantação.

O método hormonal tem benefícios extra contracetivos, pois pode ser utilizado para o tratamento de dismenorreia, regularização do ciclo menstrual, redução do fluxo menstrual, tratamento do acne, hirsutismo e na síndrome do ovário poliquístico, além de diminuir o risco de cancro do endométrio, ovário e colo-rectal.

Existem várias formas de administração dos métodos hormonais combinados (estrogénios e progestativos): diários, semanais ou mensais. Estes métodos podem ser administrados durante 3 semanas, seguindo-se de uma pausa semanal na qual ocorre hemorragia uterina, no entanto, por escolha da mulher ou por indicação terapêutica, podem ser administrados de forma contínua com ausência da hemorragia de privação.

Os métodos combinados não são aconselhados a fumadoras com mais de 35 anos, mulheres com hipertensão arterial, enxaquecas com aura, tendência para trombose ou insuficiência hepática.

– Pílula

A pílula é de toma oral diária, sendo que a sua eficácia é afetada por perturbações gastrointestinais ou por alguns medicamentos. Não está indicada em mulheres com cirurgia bariátricas restritivas.

– Adesivo

O adesivo, com absorção hormonal para a corrente sanguínea através da pele, é de substituição semanal.

– Anel vaginal

O anel vaginal é um anel flexível e suave, com aplicação mensal na vagina, onde se dá a absorção hormonal.

Os métodos hormonais contendo apenas progestativos existem sob forma de pílula, injetável, implante subcutâneo ou contraceção intrauterina. Com estes métodos as mulheres normalmente não menstruam ou têm perdas de sangue escassas e irregulares. Nas mulheres com contraindicação ao uso de estrogénios, os métodos contendo apenas um progestativo podem ser úteis.

– Pílula progestativa

A pílula progestativa é um comprimido que deve ser tomado todos os dias do mês, aproximadamente à mesma hora.

– Implante hormonal subcutâneo

O implante hormonal subcutâneo é constituído por um pequeno bastonete que é inserido no braço por baixo da pele e tem uma longa duração de ação (até 3 anos). 

– Progestativo injetável

Existe também um progestativo injetável, administrado de 3 em 3 meses, que tem a desvantagem de poder ter um efeito deletério sobre o metabolismo ósseo. Na idade da adolescência o uso temporário não é nocivo, pois a densidade óssea retorna ao normal após a sua paragem, no entanto não é aconselhada em mulheres na perimenopausa. 

– Contraceção intrauterina 

A contraceção intrauterina são pequenos aparelhos flexíveis em forma de “T” que são inseridos no interior do útero por um profissional de saúde especializado. Têm longa duração de ação. 

Os sistemas intrauterinos que libertam um progestativo, com duração de ação de 3 a 5 anos consoante a dose hormonal. Os com dose mais elevada estão aprovados para o tratamento das hemorragias menstruais abundantes.

A contraceção intrauterina sem hormonas tem uma duração de ação de 10 anos ou até mais e o seu efeito resulta do cobre nele presente. Impede que os espermatozóides fecundem o óvulo, através de uma reação inflamatória e cria uma barreira à implantação, caso tenha ocorrido a fecundação. Pode aumentar o fluxo menstrual (quantidade e duração) e as dores menstruais. É uma opção para mulheres que não podem usar métodos hormonais, ou para mulheres que pretendam um método sem hormonas. 

– Métodos “barreira”

Os métodos “barreira” bloqueiam fisicamente o acesso do esperma ao útero e incluem o preservativo masculino e feminino, o diafragma e os espermicidas

Destes, o preservativo masculino é o mais facilmente disponível e de uso mais simples. Consiste numa bolsa, geralmente de látex, concebida para cobrir o pénis e reter o esperma ejaculado. Este é o único método eficaz para prevenir as infeções de transmissão sexual (ISTs).

É aconselhável a proteção dupla?

A proteção dupla consiste na utilização simultânea do preservativo, para prevenir ISTs, e de outro método hormonal ou não hormonal para evitar a gravidez de forma muito eficaz. A proteção dupla é recomendada em qualquer relação em que não exista conhecimento específico do risco de infeção de transmissão sexual. 

Todos os métodos referidos até agora são reversíveis, ou seja, quando suspensos verifica-se o retorno à fertilidade normal. 

Podem ser realizados em alternativa procedimentos cirúrgicos de esterilização definitiva na mulher (laqueação de trompas) ou no homem (vasectomia).

Cada casal deve procurar informação e aconselhamento junto de um profissional de saúde sobre os vários métodos contracetivos e escolher livremente o mais adequado.Em caso de falha da contraceção habitual, pode-se recorrer à chamada contraceção de emergência, que é a última oportunidade para prevenir uma gravidez. As opções incluem um progestativo na forma de comprimido, eficaz nas primeiras 72h após a relação sexual não protegida (a eficácia vai diminuindo ao longo do tempo), e um composto mais recente, o acetato de ulipristal, que mantém a sua eficácia ao longo das primeiras 120h após a relação. A contraceção intrauterina de cobre é outro método, muito eficaz, até 5 dias após a relação.

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