Nunca a humanidade reuniu condições para se chegar tão longe nos anos de vida, com qualidade. Mas, afinal, qual é o segredo para se envelhecer com energia e sabedoria?
Cá em casa partilhamos um gosto por livros: as cores, os cheiros, os formatos e os temas, claro. Surpreendeu-me a escolha de minha cara metade para leitura de férias: “Envelhecimento – dimensões e contextos” sob a coordenação de Joana Carneiro Pinto & Helena Rebelo Pinto. Nas férias lemos coisas interessantes, importantes e inovadoras… não coisas que nos deixam tristes. A resposta que recebi foi que o Envelhecimento é, na atualidade, tudo isto. Nunca a humanidade reuniu condições para se chegar tão longe nos anos de vida, com qualidade. Passei assim o Verão a atualizar a minha compreensão dos idosos, da idade maior, dos seniores, da 3.ª idade, dos adultos tardios…dos velhos.
Já ouviu falar de idadismo?
Atente-se neste paradoxo: glorificamos a conquista da humanidade em prolongar a esperança média de vida (em Portugal está nos 83,7 anos para as mulheres e nos 78,1 anos para os homens); no entanto celebramos a juventude e desconsideramos a velhice. Há inclusive um nome para o preconceito em relação à idade: idadismo (é tão novo que o meu computador precisou de aprender a ortografia).
Ao longo dos mais de 30 autores, esclareci aspetos relacionados com os cuidados paliativos ou como insistir com os meus pais para aceitarem a minha maturidade filial, mas adquiri também consciência dos meus medos como a demência, a degenerescência, os eventuais ajustes na carreira, a sexualidade… bom, mas ainda me faltam 16 anos para atingir os 65 anos, idade consensual entre os estudiosos do tema para definir o início da 3.ª idade. Pensando bem, não falta assim tanto, principalmente se quiser envelhecer sabiamente e com qualidade de vida.
A qualidade de vida nos maiores de 65
Num estudo publicado em 2016, sob o tema “De que necessitam as pessoas idosas para viver com dignidade em Portugal?”, salientam-se os seguintes itens: subsistência, segurança, afeição, compreensão, participação, lazer, criação, transcendência, identidade (cf. quadro em baixo).
A investigação desenvolvida à volta da longevidade da população identificou um aspeto surpreendente: avaliamo-nos como felizes nos primeiros anos de vida, temos um decréscimo acentuado dos 40 aos 60 anos e recuperamos a sensação de felicidade a partir dos 65/70 anos (curva em “U” da felicidade) – idade em que somos mais gratos pelo que temos o que também promove serenidade.
Não quero dourar as coisas, mas creio existir espaço para pensar na 3.ª idade como algo que também pode ser agradável. Há uma sabedoria e uma plenitude que só se conquista depois de muitas primaveras no planeta Terra.
Por exemplo, a maioria dos nadadores em mar aberto são mais velhos e experientes do que os que praticam natação em piscina. Estes últimos apresentam mais velocidade, sem dúvida, mas têm ajudas do “ambiente” como o espaço delimitado, a temperatura da água (controlada) ou ainda a faixa negra no fundo da piscina para guiar a direção da braçada. Em mar aberto é preciso gerir todos estes aspetos.
E aqui deixem-me apresentar-vos Diana Nyad, atualmente com 72 anos, jornalista e nadadora de distâncias longas em mar aberto. Em 1979, aos 30 anos, nadou 164 km entre as Bahamas e a Flórida. Com aquela idade foi um grande feito, mas atingível para uma jovem com tempo, gosto e apoios para nadar tantas horas. Contudo, ela queria mais uma conquista, perseguindo um sonho: nadar entre Cuba e a Flórida, aproximadamente 177 km. À 5.ª tentativa, 53 horas depois de entrar na água, Diana tornou-se a primeira pessoa a atingir tal proeza: tinha 64 anos. Disse mais tarde que uma das coisas que a incentivou a lançar-se naquela aventura foi provar que os sonhos não têm idade. Mas, também é preciso ter esta idade, experiência e resistência para alcançar tal feito.
Aspetos a ter em atenção no que toca à prevenção do envelhecimento:
Entre os fatores de prevenção estão (alguns) os suspeitos do costume: exercício/atividade física, cuidados com a alimentação, manter uma boa rede social e acautelar o seu futuro económico (ou simplesmente: “não há dinheiro para pagar pensões”).
3 ideias para envelhecer com sabedoria:
- Cuide do seu corpo: a ciência ainda não concluiu porque é que as células perdem capacidade de renovação, se essa perda é acelerada pelas atuais condições de vida – levando ao envelhecimento – ou ambas, mas sabemos que o corpo perde força e elasticidade ao longo dos anos. Cuide de si nos pequenos detalhes – não precisa de se preparar para uma maratona, nada disso, mas faça uma manutenção adequada da sua autonomia e funcionalidade;
- Mude a forma como encara o envelhecimento: é mais uma fase da vida, com limitações próprias, mas todas as fases as têm. As crianças estão indefesas perante o mundo, os adolescentes sofrem de amor e de insegurança de forma exacerbada, na idade adulta raramente há tempo para ler ou vaguear pela cidade… Há benefícios na idade maior que, aliados aos avanços na medicina, acrescentam bem-estar à vida dos adultos tardios;
- Olhe com justiça para a sua vida: na corrida do dia-a-dia surgem momentos que pode dedicar à reflexão, seja antes de dormir, a caminho do emprego ou ao final do dia. Nessas reflexões vai encontrar momentos de arrependimento, vergonha e frustração ligadas a situações concretas da sua vida: simplesmente aceite isso. Não me refiro a uma aceitação forçada e obrigatória, mas sugiro que olhe com justiça para essas situações – não ignore detalhes das memórias, olhe para o todo. Na maior parte das vezes fazemos a melhor escolha que podemos numa dada circunstância, com a maturidade que temos… Inicie um processo de aceitação, sentindo as emoções associadas até à sua totalidade. O que aprendemos nessas reflexões ajuda-nos a direcionar o foco da nossa vida para aquilo que realmente valorizamos.
E assim, daqui a uns anos, podemos cantar na companhia do Frank Sinatra:
“I’ve loved, I’ve laughed, and cried
I’ve had my fill, my share of losing
And now, as tears subside
I find it all so amusing
To think I did all that
And may I say, not in a shy way
Oh no, oh no, not me
I did it my way”