Estamos no século XXI a viver com as nossas alergias. Muitas vezes em silêncio. E, elas a falarem bem alto. A tosse, a pieira, os espirros, a congestão nasal, a comichão, o cansaço, tanto cansaço; Fazem-se ouvir tão bem, em mim, nos nossos filhos, nos avós, nos colegas, na escola, na rua…
As doenças alérgicas são ainda pouco valorizadas.
Apesar de serem conhecidas desde a Antiguidade, as doenças alérgicas são ainda pouco valorizadas, estão pouco diagnosticadas e tremendamente maltratadas. Com quadros de gravidade muito variável, que em alguns casos podem pôr a vida em risco, afetam a vida de muitos portugueses. De um terço da população!
Quais as principais doenças alérgicas?
Entre as principais doenças alérgicas, temos a asma em 10% da população e a rinite alérgica que atinge mais de 20%. Quase todos os asmáticos têm rinite e, dos que sofrem de rinite, mais de 70% tem conjuntivite alérgica e mais de um terço tem asma. A associação de sintomas de vários órgãos ajuda no diagnóstico. Depois temos alergias na pele, como a dermatite atópica e a urticária, que afetam 10% e 20% da população em algum momento da vida. E, existem outras alergias que podem ser muito graves, como as alergias a alimentos, a medicamentos e a insetos.
Quais os sintomas das alergias?
Nas alergias os sintomas passam por comichão e pingo no nariz, espirros, nariz tapado, tosse, falta de ar, pieira, comichão e descamação ou manchas na pele, inchaços… E, é algo que se repete ao longo do tempo. Podemos pensar que estamos constipados e até podemos admitir que, passadas semanas, surja uma nova constipação. Mas, torna-se estranho quando se mantém meses, se repete com frequência e nos afeta muito, sempre de lenço na mão, a espirrar e a tossir e, em muitos casos, cada vez com mais falta de ar. Valorizemos os sintomas. E, não só…
Certamente conhece pessoas que sofrem de hipertensão arterial; sabe que para além da dieta e da medicação têm de medir regularmente a pressão arterial e fazer alguns exames para avaliar e prevenir as consequências da situação. Quem sofre de diabetes, mede os níveis de açúcar no sangue e com frequência avalia com vários exames, o controlo da sua doença. E, quem tem asma? Sabe que é uma doença alérgica crónica que tem controlo? Sabe que a maioria dos asmáticos não avalia a sua doença nem sabe a que é alérgico? Sabe como se avalia o controlo da asma? E, afinal, o que é o controlo? É não ter sintomas diurnos nem noturnos, tendo uma vida produtiva, física e psiquicamente ativa, não ter crises, necessitar de pouca medicação de alívio, ter uma função pulmonar normal.
Sabe se é asmático?
De facto, quem “sofre” de asma, efetivamente sofre. Na maioria dos casos, crianças ou adultos, apenas existe medicação durante as crises. Consegue correr? E, rir? Dorme bem? Subir escadas é possível? O que é que deixa de fazer por ser asmático? E, os seus filhos? Já agora, sabe se é asmático?
Existem métodos que permitem determinar o controlo desta situação crónica: questionários de avaliação e provas funcionais respiratórias, estas últimas facilmente realizadas a partir da idade escolar, completam-se na avaliação e caraterização do seu problema. Diz-nos a experiência que tais metodologias não são conhecidas pela maioria dos asmáticos e, no entanto, já fizeram muitas análises e radiografias…
A evicção alergénica, associada à promoção de estilos de vida favoráveis (atenção ao tabaco e à exposição a poluentes, cuidado com os ácaros do pó, fungos e insetos, atenção aos pólenes e fungos da atmosfera, praticar exercício,…), é enquadrada na terapêutica farmacológica: se uma medicação de controlo, essencialmente anti-inflamatória, prolongada, é frequentemente necessária, algo que tem de estar sempre presente, é a medicação de crise – um terço dos asmáticos que morrem correspondem a casos de asma ligeira em que a medicação de crise não estava disponível… E, tanto que podia ter evitado…
O que fazer em caso de doença alérgica?
É verdade, podemos fazer tratamentos para controlar a alergia e passar bem durante muito tempo. Por exemplo, as vacinas antialérgicas são muito eficazes e modificam favoravelmente o quadro clínico. Mas, continuam a não ser comparticipadas. E, o acesso a medicamentos biológicos inovadores indicados no tratamento das alergias mais graves está muito dificultado…
No tratamento da rinite, os medicamentos mais usados são os anti-histamínicos não sedativos e os corticoides de aplicação nasal dos quais os alérgicos referem ter muito medo. Mas, devem é ter receio dos vasoconstritores nasais que não devem ser usados mais de 3 a 5 dias, existindo alérgicos que andam meses ou anos a pôr estas gotas no nariz! Tal prática pode lesar irreversivelmente a mucosa nasal ou desencadear hipertensão arterial.
Se pensarmos no tratamento da asma, há medicamentos de alívio imediato e outros para o controlo a longo prazo: broncodilatadores e corticoides, por via inalada, são excelentes. Há ainda tratamentos antileucotrienos que podem melhorar ao mesmo tempo a asma e a rinite.
Nas alergias da pele o tratamento passa muito pela hidratação. Depois, a aplicação local de corticoides no agravamento da dermatite destaca-se, sendo lamentável que os medicamentos indicados nos casos mais graves sejam pouco comparticipados. De facto, quem tem as alergias mais graves quase não tem apoio! Até os próprios hidratantes, que são a base do tratamento, não têm comparticipação. No caso da urticária, os anti-histamínicos não sedativos são essenciais na obtenção do controlo.
Porque existem cada vez mais pessoas com alergias?
Há vários fatores responsáveis por haver cada vez mais doenças alérgicas, e para estas serem de maior gravidade. Temos uma alimentação menos tradicional, associada a aumento de peso e a problemas de obesidade. Passamos cada vez mais tempo em frente da televisão, somos mais sedentários. É preciso diagnosticar, tratar, mas também alterar hábitos alimentares e estimular o exercício, porque uma boa condição física também é fundamental para controlar as doenças alérgicas.
A alergia não tem de ser o “lobo mau” da nossa vida. Um alérgico pode ser um campeão em cada dia, brincar com os seus filhos e com os amigos, fazer as suas atividades normais e não ter de faltar à escola nem ao trabalho por causa da doença.
Fale com os profissionais de saúde. Procure o apoio das associações de doentes. Informe-se, controle-se. Tenha uma vida sem limitações.