Numa era em que, felizmente as pessoas, estão cada vez mais conscientes da importância do autoconhecimento, cada vez mais se vê pessoas a darem-se conta de vários padrões que influenciam toda a sua vida – a sua forma de estar, de viver e até de se relacionar.
Com isto, vemos também, muitas vezes, cada vez mais as pessoas à procura destes padrões na esperança que o conhecimento e a compreensão deles os façam erradicar. Outras tentam lutar contra estes, entrando numa guerra completamente invencível, e em que apenas o cansaço, a frustração e a tristeza irão ganhar.
Mas afinal, como podemos deixar de repetir padrões na nossa vida?
Trata-se de um caminho complexo, individual e único de cada pessoa.
Nem todos os caminhos são iguais para todos e nem todos os caminhos servem para todos.
E, se há algo comum nestes caminhos é que a compreensão cognitiva do caminho é insuficiente e ineficaz nesta mudança. Todos os caminhos são experienciais, que é como quem diz, vivenciados no corpo, ao nível das memórias celulares, onde podemos encontrar as memórias emocionais.
Contudo, deixo aqui 4 etapas comuns neste processo de mudança:
1. Consciência
Não é possível trabalhar-se um padrão sem primeiro de tudo identificá-lo, tomar consciência dele: quais os gatilhos, o que o despoleta, que pensamentos gera que leva a determinadas emoções e sensações corporais e quais as suas tendências de ação, ou seja, que comportamentos leva a que a pessoa a ter.
Muitos pessoas centram-se demasiado em saber a origem do padrão, contudo saber a origem não é a saída, como por vezes pode tornar-se uma verdadeira prisão, pois enquanto se ocupam da origem, não investem na consciência de como ele aparece, o que causa, o que faz sentir e o que leva a fazer. Identificar a origem pode ser uma grande armadilha do ego, em manter a pessoa no mesmo padrão, sendo este já a zona conhecida e de conforto.
2. Aceitação
A maior parte das pessoas ao tomar consciência de cada padrão (refiro-me aqui a padrões que geram desconforto e que limitam) quer de imediato eliminá-lo, lutando contra ele, recorrendo a estratégias, terapias ou até mesmo profissionais que possam ajudar a erradicá-lo. Só que quanto mais a pessoa luta contra, mais parece que este aumenta e se torna cada vez mais indomável.
A verdade é que a saída é para dentro.
Mais do que lutar contra este padrão, o caminho é a aceitação. Tudo o que existe necessita de ser olhado, sentido, escutado e incluído.
Talvez esta etapa seja a mais desafiante de todas. É a etapa que nos convida a uma rendição, a um voltar ao húmus e reconhecer a grandeza da vida dentro e fora de nós. É confiar e permitir-se sentir no corpo, tudo o que há para sentir que o padrão traz. É respirar tudo o que se move dentro, é abraçar, acolher, e no final, integrar. É um trabalho vivencial, experiencial ao nível do corpo, onde o cognitivo não consegue entrar, compreender e muitas vezes relatar. É um caminho da alma onde, muitas vezes o Mistério é o guia.
Enquanto a primeira etapa, normalmente, pode ser mais curta, esta segunda etapa, pode durar minutos, horas, dias, semanas, meses ou anos. Convida-nos a ter paciência, respeitando os ritos e ritmos da vida e, em especial, a uma auto-compaixão profunda de nós e do caminho. É uma etapa que nos leva à vulnerabilidade, à humildade e que nos leva de volta à nossa grande humanidade.
Contudo, esta etapa apenas pode acontecer numa relação e num ambiente seguros, protegidos, de grande empatia e validação, pautados por grande nível de Amor.
3. Intenção
Depois da segunda etapa bem consolidada, o que fica dentro é uma sensação de paz.
O padrão deixa de ser um inimigo e torna-se muitas vezes um aliado que traz uma mensagem valiosa. A guerra deixa de existir e há uma intenção de que juntos, de forma consciente, podemos fazer diferente. No início, nem sempre a pessoa consegue fazer diferente, faz parte do caminho, contudo reconhece o que aconteceu naquele momento, assumindo o seu poder pessoal. E com o tempo (não há um tempo específico e difere de pessoa para pessoa), o padrão antigo começa a ser “substituído” por outro novo, mais positivo para a pessoa.
4. Ação
Esta última etapa complementa a anterior. Quando a pessoa se dá conta dos aspectos identificados na etapa 1 sobre o padrão antigo, há um recuperar do poder pessoal e nas primeiras vezes há uma escolha consciente de fazer diferente, mesmo que a tendência seja “o antigo hábito”.
Esta última etapa requer da pessoa uma vontade e esforço em querer fazer diferente e simultaneamente um acontecer da etapa 2, agora de uma forma autónoma e confiando e reconhecendo os seus recursos internos, que outrora vivenciou numa relação terapêutica.
Costumo dizer que deixar de repetir um padrão é como a passagem por 3 salas distintas:
- a sala da ignorância (em que o padrão acontece na vida da pessoa, sem que ela tenha consciência);
- a sala da aprendizagem (em que se dão estas 4 etapas descritas);
- e a sala da sabedoria (onde no final, apenas fica a sabedoria e já nem nos lembramos mais do padrão).
É um processo alquímico.
Uma mudança experiencial e não cognitiva, onde a teoria pouco vale a não ser à necessidade de controlo da mente.
É um processo para corajosos, heróis e heroínas da sua própria vida e da sua própria história.