Um bebé nasce pronto para amar e ser amado. O desenvolvimento emocional, incluindo a capacidade para regular emoções e estabelecer relações sociais satisfatórias, constrói-se assente na atenção e nos cuidados que recebemos desde pequenos. O cérebro molda-se, inicialmente, em resposta às interações com os cuidadores. Para crescerem saudáveis e serem adultos felizes, as crianças precisam, efetivamente, de se sentirem amadas. Incondicionalmente. Todos os dias.
Falo-vos, no fundo, da importância da vinculação: um laço afetivo entre duas pessoas, que se fortalece no tempo e no espaço, e representa uma ligação emocional entre elas.
Laços de afeto criam crianças seguras e felizes
Uma criança que cresce emocionalmente conectada, de forma positiva, com os seus cuidadores, sejam eles os pais ou outras figuras de referência, sente-se emocionalmente mais forte, sente-se confiante, aprecia estar e relacionar-se com os outros, sabe lidar com a perda e a desilusão, partilha sentimentos e expressa o que pensa, procura apoio nos outros quando sente que é necessário. Características que prezamos na vida adulta, como a empatia, a compreensão, o amor e a atenção ao outro, têm a sua raiz nas relações que estabelecemos na infância com as nossas figuras de referência, que habitam habitualmente a nossa Família.
A profundidade dos laços emocionais entre pais e filhos acaba por ser a consequência natural do prazer, mas também dos esforços, de crescer e de educar. É necessário estar-se presente, atento às necessidades da criança, ou do jovem, e responder, com disponibilidade e genuinidade, em cada momento, a cada necessidade e exigência. O desenvolvimento destes laços permite também aos cuidadores, aceder de forma natural ao ponto de vista da criança, fomentando a disponibilidade dele para que entre no seu mundo e o conheça.
4 dicas para criar laços de afeto com os seus filhos:
Sentir é importante, mas demonstrá-lo também! Por isso, todos os dias…
1. Ao acordar, desenvolvam pequenos rituais que vos liguem ao longo do dia.
Por exemplo, 5 minutos de beijinhos e festinhas ao acordar antes da correria de “lava a cara, veste-te, come, põe a mochila, sai de casa”; ou um pequeno-almoço em família onde todos partilham as suas expectativas para o seu dia ou planeiam algo de especial para o momento de reencontro, no final do dia.
2. Abracem-se muito.
Viginia Satir, uma conhecida Terapeuta Familiar, dizia: “Precisamos de 4 abraços por dia para sobreviver. Precisamos de 8 abraços por dia para nos manter. E precisamos de 12 abraços por dia para crescer”. O desenvolvimento de laços emocionais faz-se em grande medida através do contato físico.
3. Desligue(-se) (d)a tecnologia quando está com o seu filho.
Diria que não preciso de aprofundar muito este tópico, por estarmos globalmente sensibilizados para ele. Certo?
4. Quando durante a semana é mais difícil, privilegiem os jantares e almoços de fim-de-semana em Família.
Sentem-se à mesa. Desliguem a televisão e mantenham brinquedos e telemóveis longe da mesa. Evitem interrupções.
Pais felizes e confiantes tendem a criar crianças felizes e confiantes. Mas, isso não significa que tenha que colocar em si expectativas demasiado elevadas. Pais felizes e confiantes, que criam crianças felizes e confiantes, também fazem cara de maus, também se zangam, também elevam a voz, também dizem “disparates”.
Como focar-se no essencial no que toca à educação dos seus filhos?
Partilho algumas ideias para refletir e para o ajudar a focar no essencial, para que se criem poucos “nós” e muitos “laços” emocionais:
- Foque-se em desenvolver a autoestima da criança. Uma criança com um bom autoconceito tende a ser uma criança mais feliz, curiosa, divertida.
- Procure “apanhar” a criança a manifestar comportamentos louváveis. Com facilidade, podemos tender a só reparar quando uma criança faz disparates, o que pode carregar as ações e as palavras de negatividade. Elogie o que merece ser elogiado. Não parta do pressuposto que “se está fazer o que é suposto vou elogiar porquê?”.
- Seja consistente. Se a hora de deitar, durante a semana, é às 21h30 não ceda a pedidos diários de exceção. Se guloseimas só podem ser comidas durante o fim-de-semana, assegure-se que é isso que acontece. Se os pais não “cumprem”, nem fazem “cumprir” as regras que estabelecem, as crianças sentem-se confusas e, naturalmente, tentarão contornar regras, o que o poderá potenciar momentos de tensão.
- Seja para a criança a pessoa que gostaria que ela fosse. Os mais novos estão a observá-lo e irão reproduzir aquilo que aprendem consigo.
- A comunicação é fundamental. Lembre-se que os comportamentos de uma criança são formas de comunicação. Fale com ela, em vez de falar para ela. Isso alimentará uma vinculação segura.
- Seja flexível e respeite os ritmos da criança. Não a apresse nas suas conquistas.
- Conheça as suas próprias forças e as suas fraquezas. Isso irá ajudá-lo a tomar decisões sensatas no seu papel de pai/mãe/educador.
Como nos lembra a iniciativa “Dia Nacional do Pijama”, que coincide com o dia da Convenção Internacional dos Direitos da Criança, uma criança tem direito a crescer numa família. Que esta seja plena de afetos! Porque laços de afeto criam crianças seguras e felizes.