Como anda a nossa mente?

Diogo Telles Correia // Outubro 10, 2019
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“Um estado de completo bem-estar físico, mental e social”, esta é a definição de saúde da Organização Mundial de Saúde (OMS). Assim, devemos lutar por usufruir de uma boa saúde física e mental.

Qual é o estado de saúde mental dos portugueses?

Mais de 1/4 dos portugueses  sofre de uma perturbação psiquiátrica (22,9%), sendo Portugal o segundo país com a mais elevada prevalência de doenças psiquiátricas da Europa.

No nosso país, assim como nos outros países em geral, as perturbações  de ansiedade são as mais frequentes (cerca de 16,5% da população sofre de uma perturbação de ansiedade) seguidas das perturbações de humor (por exemplo depressão, com prevalência de 7,9%).

Qual a novidade? É tão comum ter uma depressão ou sofrer de ansiedade…

Todos já sofremos de ansiedade ou depressão, ou temos um amigo ou familiar que padece destas situações.

Quais os sintomas da depressão e da ansiedade?

A tristeza excessiva, paralisante, que tolda tudo à nossa volta de escuro e pessimismo, a falta de vontade de fazer as coisas que antes tanto nos motivavam, a falta de prazer pela vida e por tudo o que a costuma colorir…

Os nervos à flor da pele, a sensação que o coração bate tão rápido que parece explodir, as náuseas, tonturas, dificuldade em respirar, associados a um medo excessivo de tudo, preocupação com pormenores que antes seriam irrelevantes, a incapacidade de parar…

Estes são sintomas de depressão e ansiedade, males que, infelizmente, conhecemos tão bem…

Podem acontecer sem qualquer estímulo desencadeante, mas muitas vezes são provocados por situações de vida mais traumáticas. Uma ruptura amorosa, a morte de um familiar, ente querido, ou animal de estimação, um problema laboral…. Podem provocar a situações de depressão ou ansiedade graves, também muitas vezes chamadas na linguagem comum por “esgotamento”. Expressando  a noção de que as forças se esgotaram, acabou a capacidade de lutarmos, de nos adaptarmos às situações mais difíceis. E aqui é que surgem as situações de depressão e ansiedade, que nos impedem de continuar a lutar sozinhos, e requerem que peçamos ajuda a um técnico especializado, um médico psiquiatra e/ou um psicoterapeuta especializado.

O que nos faz cair?

O mundo de hoje em dia é acelerado demais para as nossas capacidades. Pressiona-nos que vivamos com uma enorme velocidade e intensidade, e ameaça que sejamos ultrapassados e que perdamos a corrida se não o fizermos. 

Na escola as crianças vivem um ambiente muito competitivo, este mantém-se nas actividades extracurriculares, têm de ser os melhores alunos, os melhores desportistas… “senão nunca vais ser ninguém…”, dizem-lhes os pais e os professores…

Mais tarde, em adultos, os desafios continuam imensos, temos de ser jovens para sempre, não podemos envelhecer porque a eterna juventude e beleza físicas são trunfos e, por isso, lutamos sem limites (!) para não as perder caindo muitas vezes num perfeccionismo corporal doentio.

Por outro lado trabalhamos mais do que podemos diariamente, para conseguirmos vencer a corrida… e depois o que temos em troca? Nenhuma consideração pelos nossos empregadores, não há humanidade no tratamento nem compensações proporcionais para com aqueles que dão tudo pela sua profissão. Surgem  aqui os casos de assédio moral no trabalho que, não raramente, desembocam em depressão e ansiedade graves…

Por outro lado as relações afectivas são cada vez mais superficiais e fugazes e menos estruturantes, não nos oferecendo um alicerce para que possamos amortecer as agressões do mundo.

Mas, como manter a nossa sanidade mental?

Várias são as formas de podermos lutar  pela nossa saúde mental. Alimentar relações estruturantes afectivas e de amizade. O vínculo que estabelecemos aos nossos companheiros de viagem e aos nossos amigos e família, são uma base fundamental para tolerarmos todo o stress deste mundo.

Por outro lado há armas que podemos adquirir para combater os factores de stress, como os hábitos desportivos regulares, a manutenção de algumas actividades prazerosas, uma alimentação cuidada.

Às vezes não é fácil ter uma actividade desportiva regular, mas vale a pena porque é uma das maiores armas para manter a nossa saúde mental, está muito bem comprovada a sua eficácia.

Por outro lado é fundamental mantermos actividades prazerosas – um passeio no campo, uma tarde à beira mar, uma ida ao parque com os nossos filhos… – temos de alimentar o prato positivo da balança da vida!

Depois a alimentação rica em alguns elementos como o ômega 3, alguns antioxidantes (alimentos ricos em vitamina C), fibras, etc., também está comprovadamente associada a uma maior qualidade de vida mental e física. É importante termos cuidado porque há muitos suplementos de venda livre que não têm qualquer utilidade. O 5-HT ou serotonina, por exemplo, que muitas vezes é vendido nas lojas de produtos naturais para “curar” a depressão, geralmente não tem qualquer efeito sobre a depressão e ansiedade, não só porque a serotonina que é consumida pode não ser absorvida de forma correcta e não ser disponibilizada no cérebro, como, por outro lado, o que pode estar alterado na depressão e ansiedade é a forma de funcionar a serotonina no cérebro e não a sua quantidade (é optimizando o seu funcionamento que actuam os antidepressivos). 

E quando chegamos ao limite o que fazer?

Infelizmente, muitas vezes chegamos ao limite e não sabemos o que fazer. É fundamental perceber que não é o fim do mundo quando chegamos ao ponto de padecer de uma depressão ou de um problema de ansiedade. Há métodos muito eficazes de tratar estas situações. É muito importante pedir ajuda, mas às pessoas certas. Não devemos perder tempo em pseudo-técnicos que não têm qualquer formação creditada. Devemos informar-nos sobre a formação dos técnicos  a quem recorremos. Estes deverão ser um médico psiquiatra e/ou um psicoterapeuta. Antes demais cabe ao médico psiquiatra avaliar o paciente e fazer um diagnóstico, excluindo outras patologias médicas (como alterações hormonais, cardíacas, gastroenterológicas, etc.) que podem muitas vezes ser confundidas com situações psiquiátricas. Depois o psiquiatra planeia o tratamento que pode incluir medicamentos e psicoterapia (que pode ser feita pelo próprio médico psiquiatra ou por um psicólogo por ele indicado). Os psicoterapeutas podem ser médicos psiquiatras ou psicólogos com formação específica em psicoterapia.

Através da ajuda farmacológica, com medicamentos muito bem tolerados – porque actualmente os fármacos em psiquiatria estão muito avançados, sendo eficazes e tendo poucos efeitos secundários – podemos tratar grande parte das situações. A psicoterapia – método bem estudado cientificamente através do qual se pretende modificar e melhorar a forma da pessoa pensar, sentir e agir – pode ser uma arma também muito eficaz, sendo utilizada nos casos mais ligeiros (isoladamente), e nos casos moderados e graves (associada à medicação).

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