O que importa não são os acontecimentos
mas a forma como reage aos mesmos.”
Epiteto
Aceitação para que te quero?
Uma das maiores fontes de infelicidade não é o que lhe acontece, mas, sim, a sua resistência a aceitar-se a si, aos outros, aos acontecimentos que lhe sucedem. Pergunta-se: “Mas, como é possível aceitar o sofrimento, o desaire, a perda, a rejeição, o infortúnio, o desamor e tantas outras faces da experiência humana que lhe provocam, sofrimento e perplexidade?”.
Questiona-se como pode aprovar, aceitar características pessoais situações que lhe trazem mal-estar? Como aceitar que que o seu corpo não é aquele que deseja, não é tão bonito(a) ou sedutor(a) quanto desejaria, que não é tão bem- sucedido(a) como gostaria, ou como aprovar aquela crítica demolidora de quem menos esperava, a traição de quem mais confiava, ou o instalar de uma doença, surgimento de um desaire profissional, desemprego, separação, divórcio ou morte de alguém de quem muito gosta. Ao aceitar não estará a provocar situação ou vida de infortúnio, sofrimento e mal-estar ao aprovar o que não quer? Será que não estará, desta forma, a escolher precisamente o que menos deseja para a sua vida?
Ainda que lhe pareça antinatural ou anti intuitivo este não é um ditame nem da religião judaico cristã, nem do budismo ou de outra orientação qualquer. Trata-se, sim, de uma evidência que a ciência valida de diversas formas. Ou seja, uma importante fonte de bem-estar e saúde mental consiste em aprender a reconhecer e aceitar quer os pensamentos, quer as emoções sem tentar influenciar, suprimir, controlar, mudar ou evitar os mesmos.
Um homem não pode estar confortável
Sem a sua própria aprovação.”
Mark Twain
Quais os benefícios da autoaceitação?
Estimar-se, gostar de si com as suas qualidades e defeitos, aceitar os aspetos que menos aprecia, quando não os consegue alterar ou erradicar, é fundamental para a sua saúde mental e o seu bem-estar. O conforto, da alma, da mente (e do corpo), precisa desta auto aprovação, desta serenidade que alguns invocam na oração da sabedoria: “Concedei-me, Senhor a serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar, coragem para modificar aquelas que posso e sabedoria para conhecer a diferença”.
Resiste a estas palavras porque nem sequer é religioso(a), nem se considera alguém espiritual. Não o faça porque acredita em algo transcendente, mas, pelo menos, experimente, pois, de acordo com diversos estudos científicos, a auto-aceitação tem sido positivamente associada com saúde mental, auto estima, satisfação interpessoal e capacidade para lidar com as emoções, lidar com o stress. Pelo contrário, a baixa auto aceitação está relacionada com perturbações alimentares, depressão e ansiedade. Assim sendo, pergunto: Será que não pode experimentar pelo menos? O pior que pode acontecer é não funcionar, mas se calhar este é precisamente o ponto em que se encontra: nada funciona, não encontra solução e sente-se presa(o) num lugar de incerteza, insegurança e desvalor próprio. O que tem a perder se experimentar? Talvez confirmar que não tem saída, que está condenada(o) a uma vida de vazio, falta de sentido e de mal-estar. Mas será que não é já aí que se encontra? Então, o que fazer? Continue e mais abaixo terá algumas sugestões que poderá experimentar.
O que fazer para ajudar a aumentar a aceitação?
A aceitação do que aconteceu
É o primeiro passo
Para superar as consequências de qualquer infortúnio.”
William James
a) Aceitação radical
A aceitação radical, de acordo com Marsha Linehan, implica aprender a aceitar a vida tal como é naquilo que não se pode mudar ou não se quer alterar. A capacidade de aceitar que o tempo está mau precisamente nos seus dias de férias, ou que alguém não cumpriu o prometido, ou que não conseguiu ter o desempenho desejado não lhe retira o desapontamento, a tristeza, o medo ou qualquer emoção que possa estar a sentir, mas ajuda-a(o) a lidar melhor com as situações e a treinar-se para lidar com outras circunstâncias mais difíceis.
b) Sentido de propósito
O trauma bloqueia o amor
O amor cura o trauma.”
Franck Anderson
Quando encontra um sentido, um propósito ou um sentido de contributo direciona a sua atenção para fora de si. Pode fazê-lo pura e simplesmente amando alguém ou encontrando valores espirituais que a/o direcionem para contribuir no trabalho, para servir a família ou a comunidade em geral, ou apenas encontrar um sentido de serviço em que o mote passa a ser não o próprio eu, mas, sim, algo ou alguém que o transcende a si. Há estudos que comprovam que ter um sentido de missão que ajude/beneficie terceiros é uma forma de aumentar e direcionar a confiança pessoal e auto aceitação. Este sentido de propósito pode ser designado como auto-transcendência que aumenta a serotonina, considerada como uma substância estabilizadora de humor que atua numa zona do cérebro que aumenta a auto-aceitação.
c) Autocompaixão
A felicidade só pode existir na aceitação.”
George Orwell
A autocompaixão implica gentileza e compreensão ao invés de autocrítica para si própria(o) quando sofre, erra, ou se sente inadequada(o). Ter autocompaixão implica reconhecer que as dificuldades da vida, os limites pessoais, a imperfeição são condições do ser humano, por isso não é algo que aconteça a si em particular, mas a todas as pessoas. A melhor forma de lidar com isso é com compreensão e gentileza consigo própria(o) e consequentemente com os outros que experimentam as mesmas circunstâncias ou limites.
Para se desenvolver a autocompaixão, de acordo com Kristin Neff, uma das especialistas neste campo, é preciso cultivar a atenção plena (mindfulness) que é um estado da mente em que, ao invés de se julgar, observa-se, constata-se os pensamentos e emoções sem tentar suprimi-los, negá-los ou avaliá-los como sendo bons ou maus.
Talvez não se identifique com nada do que foi dito, nem lhe faça sentido nenhuma das estratégias propostas: aceitação radical, sentido de propósito ou autocompaixão. Mas se a felicidade só poder existir onde houver aceitação então, experimente.
Comece por ouvir o vento, pois ele fala;
Escute o silêncio, pois ele diz;
Ouça o coração, pois ele sabe.”
Provérbio nativo americano