Em cada bebé que chora insistentemente, sem que haja uma ‘causa física’ aparente, há quase sempre um pedido de ajuda que precisa de ser escutado e atendido com a máxima empatia, respeito e compreensão.
Porque quando atendemos a um pedido de ajuda, a necessidade deixa de ser gritada.
Ninguém grita desesperado por algo que já tem.
E naturalmente tudo melhora.”
Constança Cordeiro Ferreira – Terapeuta de bebés
O choro de um bebé pode chegar a ser desesperante, principalmente para uma mamã que pouco ou nada sabe sobre a realidade de cuidar de um recém-nascido.
O cansaço que parece não ter fim, os desafios da amamentação, as alterações hormonais que nos abanam as estruturas, a vida que tínhamos e que deixámos de ter e, principalmente, a novidade de termos um pequeno ser nos braços que depende inteiramente de nós, é algo que por si só poderá ser avassalador.
Quando, adicionada a toda esta intensa mudança que naturalmente ocorre após o nascimento de um filho, surgem episódios de choro constante, o desespero facilmente pode instalar-se.
Porque chora o teu bebé?
São vários os motivos que poderão levar um bebé a chorar, tais como fome e cólicas. Contudo, existem outros aspectos, que poderão estar subjacentes a episódios de choro crónico, e que são pouco conhecidos pela maioria das mamãs.
O nascimento do teu bebé marca o momento em que ele deixa o meio intra-uterino e passa para o mundo exterior. Estes dois ambientes são muito distintos entre si e, por essa mesma razão, é fundamental que esta passagem seja feita de maneira serena e gradual.
O teu bebé vivenciou os primeiros 9 meses de vida dentro do teu ventre. Aqui, o meio era aquático, escuro, quentinho e tranquilo. Ele era constantemente nutrido, acolhido e, acima de tudo, ele estava sempre em contacto contigo, sentindo-se seguro e protegido, num estado de pura conexão e plenitude. Esta era a sua realidade. Tudo aquilo que ele conhecida.
O mundo extra-uterino é muito diferente. As luzes, o ruído, as mudanças de temperatura, a fome e sede, as roupas, o ter que respirar e digerir o leite que, no início, tantas cólicas pode provocar. Precisar de manifestar as suas necessidades e desconforto, nomeadamente através do choro, e, especialmente, o não estar em contacto com a mãe durante todo o tempo, é algo que o poderá deixar extremamente inseguro e desamparado.
Resultado: choro.
O quarto trimestre
A teoria do quarto trimestre, defendida pelo pediatra Harvey Karp e autor do livro ‘O bebé mais feliz do mundo’, baseia-se na ideia de que os primeiros 3 meses da vida de um bebé são uma extensão da vida intra-uterina.
O contraste entre a vida dentro do útero e a vida no mundo exterior é imenso e, por este motivo, esta transição deverá ser feita o mais suavemente possível, de maneira a ajudar o bebé a adaptar-se à sua nova realidade.
Todos os bebés são diferentes e com necessidades distintas. É comum achar-se que um bebé que chore muito é “difícil” e um que chore pouco “fácil”. No entanto, não existe tal coisa como bebés “fáceis” ou “difíceis”; apenas bebés que estão a ter mais ou menos dificuldade em adaptar-se ao mundo exterior e que, por isso, necessitam de mais ou menos apoio por parte dos pais, especialmente da mãe.
De acordo com esta teoria do quarto trimestre, é essencial que, nos primeiros 3 meses após o nascimento do teu bebé, tu procures reproduzir o meio intra-uterino, principalmente quando ele apresenta episódios de choro constante.
Como acalmar o teu bebé quando não para de chorar
O lugar em que o teu bebé mais seguro e tranquilo se sentia, era no interior do teu ventre. Logo, é precisamente esse ambiente que vamos procurar replicar de maneira a ajudá-lo a sentir-se seguro, tranquilo e, acima de tudo, a adaptar-se ao mundo exterior, evitando assim os choros crónicos.
Existem várias maneiras de o conseguir. No entanto, a solução mais simples e prática de reproduzir o meio intra-uterino é colocando o teu bebé num pano ou sling.
Deste modo, poderás ter as mãos livres para fazer uma série de tarefas como arrumar a casa, ir às compras e até mesmo trabalhar, enquanto ele usufrui dos benefícios de estar em contacto direto contigo, sentindo o teu cheiro, a tua pele, respiração e batimento cardíaco, assim como estar a ser permanentemente embalado, tal como acontecia quando estava no interior do teu ventre.
O meu filho Francisco passou os primeiros 3 meses de vida dentro de um pano Boba. Mal acordava, tomava banho, vestia-me, colocava o pano e o meu bebé lá dentro, só voltando a tirá-lo para mudar fraldas e dormir (ao meu lado, na minha cama).
O mito do colo
Os bebés humanos são muito vulneráveis e dependentes, comparativamente a outros mamíferos, necessitando de atenção e contacto físico constante. Aliás, diversas comunidades africanas e indianas têm este princípio em conta, carregando os seus bebés consigo para todo o lado.
Na nossa sociedade existe o mito de que dar colo a um bebé o tornará mimado. Contudo, na minha opinião, dar pouco colo e contacto físico a um bebé que acaba de chegar ao mundo, principalmente quando se encontra em sofrimento, é algo que vai completamente contra o nosso instinto animal. Aliás, se observarmos o mundo selvagem, poderemos constatar que os restantes mamíferos levam as suas crias para onde quer que vão e que estão permanentemente a tocar-se.
O choro é um pedido de ajuda e uma manifestação de que algo não está bem.
Logo, a primeira coisa a fazer quando um bebé está a chorar é acolhê-lo e tocá-lo, transmitindo-lhe amor e segurança durante o tempo que for necessário, sendo que uma das maneiras mais práticas e eficazes de o conseguir é colocando-o num pano ou sling.
O mais curioso é que estudos demonstram que os bebés que usufruem de um contacto físico continuado, durante os primeiros meses de vida, apresentam níveis de saúde, confiança, independência e inteligência superiores, relativamente aos que não recebem esta proximidade. Já para não mencionar que são, de longe, os que menos choram!
Vivemos na era dos coques multi-usos, cadeirinhas super sónicas, carrinhos todo-o-terreno e alcofas cheias laçarotes, esquecendo-nos de que aquilo que os bebés mais necessitam é de proximidade, contacto, carinho e muito colo. Algo tão simples e económico.
Nota: quando o Francisco nasceu, eu comprei um pano da marca Boba na loja Organii. Escolhi esta marca, pois os panos são 100% algodão, elásticos, resistentes e extremamente confortáveis. Contudo, há pessoas que preferem um sling, uma vez que é mais prático de colocar. Deixo aqui a referência de uma boa marca – Close-Caboo Lite Carrier.