Como acalmar a mente

Cláudia Morais // Junho 16, 2019
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Quantas vezes damos por nós incapazes de desacelerar e usufruir do momento presente? Quando a nossa mente se mantém num estado frenético, sentimo-nos incapazes de acalmar. Hoje escrevo sobre aquilo que podemos fazer para que se torne mais fácil travar a avalanche de preocupações e sentir genuína paz.

O que fazer para acalmar a mente?

Imagine que está num jantar de aniversário com a sua família. De repente, pega no seu telefone e verifica que tem uma chamada não atendida. É do escritório. A sua mente é imediatamente invadida por um turbilhão de pensamentos: “Terá sido o meu chefe a ligar? Deve ter lido o relatório que entreguei hoje. Será que encontrou algum erro? A apresentação de amanhã é super importante. E, se ele estiver chateado? Há muita coisa em jogo. Este é o tipo de coisas em que não posso falhar. E, se ele me despedir? Como é que eu vou sustentar a minha família?”. Entretanto, liga para o escritório, mas já não está lá ninguém. É impossível voltar a relaxar e usufruir do serão em família. Como é que você pode celebrar quando está em risco de perder o emprego? As pessoas à sua volta reparam na tensão do seu rosto e vão colocando perguntas. Você esforça-se por disfarçar, mas isso só aumenta a ansiedade. Depois de uma noite mal dormida, no dia seguinte regressa ao escritório. Assim que entra, um colega diz-lhe: “Ontem deixaste ficar uma caixa em cima da secretária. Ainda tentei ligar-te porque pensei que fosse importante, mas não atendeste”. Por um lado, você respira de alívio, como se tivesse acabado de se livrar de um problema real, mas, por outro, apercebe-se de que a festa de aniversário em que esteve foi “estragada” pelos seus pensamentos, pelo seu medo.

Nem todas as ameaças são reais.

A nossa mente está programada para responder às potenciais ameaças. Quando identifica um problema, o nosso cérebro reage, obrigando-nos a pensar sobre isso e a encontrar soluções. Esta é uma das muitas competências do nosso cérebro que tem assegurado a sobrevivência da espécie. Mas, aquilo que funciona como um mecanismo de sobrevivência também se revela muitas vezes como um exercício desgastante, que nos consome e que nos impede de usufruir de momentos que poderiam ser vividos com alegria.

A maior parte de nós passa demasiado tempo a pensar sobre o passado e sobre o futuro, em vez de simplesmente vivermos a realidade. Quando permitimos que os nossos pensamentos vagueiem de forma voraz e caótica, sentimo-nos mais tensos, mais ansiosos. É como se estivéssemos permanentemente num estado de alerta, em permanente necessidade de dar resposta a potenciais problemas e ameaças. Pelo contrário, quando aprendemos a reconhecer os nossos pensamentos como pensamentos (e não como ameaças reais), é mais provável que, gentilmente, mas com firmeza, consigamos olhar para eles e regressar ao momento presente. Dito assim parece fácil, mas a verdade é que este é um desafio que requer treino e disciplina.

A importância de treinar a mente

Qualquer um de nós pode tentar correr uma maratona, mas sabemos que, para sermos bem-sucedidos, precisamos de treinar o nosso corpo. O nosso cérebro é capaz de responder com sucesso a grandes desafios, mas isso também envolve a capacidade de nos comprometermos com um treino regrado.

Uma das melhores formas de aprendermos a acalmar a nossa mente é através das práticas de Mindfulness.

O que é o Mindfulness?

O Mindfulness tem sido traduzido para português como “atenção plena” ou “consciência plena” e consiste num conjunto de ferramentas que nos ajudam a exercitar o cérebro, a reconhecer a força dos nossos pensamentos e a “desligá-los” quando eles nos impedem de usufruir do momento presente.

A forma mais conhecida de praticar Mindfulness é a meditação. Há muitas formas de meditar – algumas estão associadas à religião, outras estão associadas ao esoterismo. A meditação Mindfulness está associada a décadas de investigação científica e tem sido largamente utilizada na Medicina, na Psicologia e na promoção de competências profissionais. De forma resumida, parar para meditar em modo Mindful consiste em parar para prestar atenção:

  1. ao momento presente
  2. de propósito
  3. e sem juízos de valor.

Quando começamos a praticar, damo-nos conta de que é praticamente impossível “não pensar em nada”. Assim que fechamos os olhos, surge uma preocupação, uma distração, um pensamento solto. Afastamo-lo e voltamos a prestar atenção à nossa respiração, mas damo-nos conta de que alguns segundos depois já estamos, de novo, distraídos. Talvez tenhamos estado mais tempo distraídos pelos nossos pensamentos do que com a mente vazia e isso pode deixar-nos frustrados. Mas, a verdade é que meditar não é esvaziar a mente, ainda que essa possa ser uma consequência. Da mesma forma que, quando vamos ao ginásio, não passamos o tempo parados agarrados a um haltere e é o movimento que nos permite exercitar os nossos músculos, na meditação o treino consiste precisamente neste vaivém entre os nossos pensamentos e o aqui e agora. Quando der conta de que voltou a distrair-se, não se puna. Parabéns! Está a meditar.

Como manter-se motivado?

Quando damos início às nossas práticas, é natural que nos enchamos de motivação e que queiramos fazer práticas prolongadas, mas, tal como acontece em relação ao ginásio, é importante começar devagar e ir acrescentando tempo de forma gradual. A verdade é que quando paramos para observar a atividade da nossa mente, podemos sentir-nos assustados e isso pode desmotivar-nos. Quando começamos por introduzir apenas alguns minutos de meditação nos nossos dias, é mais provável que, gradualmente, consigamos estender o treino.

Outras forma de praticar Mindfulness:

Paralelamente, há muitas outras formas de praticar a atenção plena. Experimente, por exemplo, fazer uma refeição sem telemóvel, sem televisão ou nenhuma outra distração. O que é que observa? O mais provável é que consiga focar-se no momento presente. Neste caso, isso também passará por saborear a sua refeição de forma muito mais intensa. Para começar, convido-o(a) a pesquisar sobre a “Meditação do chocolate”. É um bom ponto de partida para quem quer acalmar a mente e usufruir em pleno da vida.

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