Comer para prevenir e enfrentar o cancro

Marta Carriço e Catarina Sousa Guerreiro // Julho 5, 2022
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comer prevenir cancro
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A palavra cancro surge mais nas nossas vidas e nas nossas conversas do que desejaríamos e a razão é simples: em 2020, 19 milhões de pessoas tinham cancro e prevê-se que venham a ser 30 milhões em menos 20 anos. Compreender o que pode diminuir o risco de cancro e como enfrentá-lo, por exemplo através da alimentação, torna-se cada vez mais importante.

O cancro e o estilo de vida que levamos

Sabemos hoje que 10% dos casos de cancro são hereditários e que 30 a 50% dos casos de cancro são atribuídos a um estilo de vida desajustado. Isto significa que, se adotássemos um bom estilo de vida, até 5 em cada 10 pessoas poderiam ficar mais protegidas

Quando se fala de fatores de risco associados ao estilo de vida e ao cancro incluem-se: o tabaco, as bebidas alcoólicas, a obesidade, alimentação desequilibrada e o sedentarismo e a inatividade física. Parece óbvia a necessidade de adotarmos um bom estilo de vida, porém sabemos bem que isto nem sempre acontece e que descuramos o nosso estilo de vida convencendo-nos de que “não tenho tempo”. No livro “Comer para prevenir e enfrentar o cancro” explicamos como se desenvolve o cancro e o impacto que estes fatores podem ter, bem como podemos melhorar o nosso estilo de vida. Um cancro pode demorar anos a desenvolver-se, pelo que existe espaço para melhorarmos o que está nas nossas mãos: o estilo de vida.

A obesidade, a dieta mediterrânica e o cancro

A obesidade é um fator de risco para várias doenças, sendo que o cancro não é exceção. Nos últimos anos têm-se vindo a falar muito de obesidade, mas os esforços são ainda insuficientes – 6 em cada 10 portugueses têm ainda peso a mais (dados de 2016). Atualmente, sabe-se que a obesidade leva a alterações no nosso organismo (como a inflamação) que aumentam o risco para 12 tipos de cancro, incluindo o da mama e do cólon e reto – os cancros mais prevalentes em Portugal. Alguns investigadores concluem até que a obesidade é uma das grandes causas de cancro no mundo. Por isso, entre outras estratégias, uma alimentação saudável (como a Dieta Mediterrânica) destaca-se como forte aliada na prevenção da obesidade e do cancro.

Os estudos dos últimos anos mostram-nos que quem adere mais ao padrão alimentar mediterrânico apresenta um grau de protecção de 14%. E, por isso, no livro incluímos um questionário que permite identificar o seu grau de adesão a este padrão alimentar, para poder saber se está mais ou menos próximo deste padrão alimentar e para que possa corrigir os seus pontos fracos. O primeiro passo é sempre perceber o que podemos melhorar e porquê.

Porque devemos olhar para o padrão alimentar e não idolatrar ou ostracizar um alimento?

Muitas vezes no contexto do cancro fala-se muito que o alimento X cura o cancro e que o Y provoca o cancro, mas este tipo de afirmações levam muitas vezes ao alarmismo e não traduzem o que a ciência nos diz. Nós não consumimos apenas um alimento, mas, sim, vários e em quantidades diferentes, logo comer apenas um alimento não nos deixa mais protegidos, pelo contrário! 

O consumo equilibrado de um conjunto de alimentos variados e nas quantidades certas pode trazer-nos vantagens e a Dieta Mediterrânica orienta-nos para este equilíbrio de alimentos e nutrientes. Para sermos mais concretas, se comer apenas maçãs vão com certeza faltar-lhe nutrientes; se comer apenas cenouras também. Igualmente, se comer uma vez por semana carne vermelha não vai necessariamente ter um maior risco de cancro, mas se o consumo for diário, já pode haver um aumento do risco de cancro do cólon e reto, por exemplo. Tem tudo a ver com o equilíbrio. 

Apesar de olhar para um padrão alimentar ser mais importante do que olhar para um ou alguns alimentos, não quisemos deixar de explicar por que razão vários alimentos que constituem a Dieta Mediterrânica nos podem proteger ou aumentar o risco de um cancro. Por isso, explorámos “à lupa” o papel dos vários grupos alimentares, de certos alimentos, nutrientes e os fitoquímicos.

Gostávamos que ficasse com a ideia de que a mudança de um comportamento, mesmo que pequeno, pode levar à mudança de outros. Por exemplo, quando começamos a fazer exercício, apetece-nos comer melhor, não é? Qualquer mudança positiva, mesmo que pequena, pode gerar outra mudança. Propomos mudanças pequenas e realistas, para que possa aumentar a adesão ao padrão alimentar mediterrânico, contribuindo para a prevenção de um cancro.

A alimentação após o diagnóstico de cancro

Após o diagnóstico ter uma alimentação equilibrada é importante, mas é também fundamental adequar a alimentação às novas exigências do corpo. Nesta fase o corpo está sobre stress e muitas vezes necessita de mais energia e proteína, por exemplo, para suportar os tratamentos. Neste livro explicamos o papel fundamental da nutrição no contexto dos tratamentos, desde a quimioterapia, à radioterapia e à cirurgia, porque um bom estado nutricional (por exemplo, um bom peso e massa muscular) pode realmente fazer a diferença.

O que comer quando tudo parece dificultar a alimentação?

Na nossa prática clínica acompanhamos doentes oncológicos e sabemos que muitas vezes o próprio cancro, mas também os próprios tratamentos, conduzem a inúmeros efeitos adversos que dificultam em muito a alimentação e o estado nutricional. Por isso reunimos um conjunto importante de estratégias para gerir sintomas como a falta de apetite, as náuseas (enjoos), a alteração do paladar e do cheiro e as alterações intestinais (diarreia e obstipação), entre muitos outros. Sabia, por exemplo, que os frutos cítricos, como a laranja, podem estimular o sabor dos alimentos? E que a infusão de gengibre pode atenuar a sensação de náuseas?

Queremos deixar claro que todas as estratégias que partilhamos não substituem o aconselhamento personalizado de um nutricionista com experiência em oncologia, mas não poderíamos deixar de partilhar estratégias que podem ajudar a gerir estes sintomas que tanto comprometem a robustez do corpo numa fase tão crítica.

A luta contra a desinformação e as dietas da “moda”

Após o diagnóstico de cancro é frequente existir uma procura intensa de informação e somos frequentemente confrontadas com perguntas como, por exemplo: “O que comer ou não comer nesta fase?”; “Qual a melhor dieta?”; “A alimentação deve ser biológica?”; “Devem ser incluídos suplementos? Se sim, quais?”.

A alimentação é das poucas coisas que quem foi diagnosticado com cancro pode controlar e é perfeitamente compreensível que haja uma busca intensa de informação. Porém, a informação que podemos encontrar na Internet deixa muito a desejar, é contraditória e carece frequentemente de provas científicas. Isto faz com que muitas vezes sejam adotadas estratégias erradas e que podem comprometer os tratamentos, sem darmos conta. Por isso, não só nos regemos pelo que a ciência nos diz, como considerámos também imprescindível esclarecer o papel de alimentação biológica, da suplementação e de várias “dietas da moda”, como a dieta alcalina, a dieta cetogénica e o jejum intermitente. E, para choque de muitos, quisemos explicar por que razão o açúcar “não é veneno” e não provoca cancro!

Esperamos com este livro poder ajudar todos aqueles que querem prevenir e enfrentar o cancro.

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