Porque é que há pessoas que evitam a todo o custo chorar à frente dos outros? Será que é desejável que nos contenhamos? Chorar é um sinal de fraqueza ou de inteligência emocional? E os pais e mães – devem chorar à frente dos filhos?
Ninguém gosta de estar triste, mas a tristeza, assim como outros sentimentos associados à dor, faz parte da vida de todos os seres humanos. Podemos (e devemos) fazer o que estiver ao nosso alcance para alcançar níveis elevados de bem-estar e felicidade.
É saudável que nos afastemos do que é tóxico, daquilo que só nos puxa para baixo e que não acrescenta nada de valor. Mas não vale a pena alimentar a esperança de que temos o poder de estar sempre bem. E também não adianta convencermo-nos de que, se fizermos as escolhas certas, podemos fugir ao sofrimento.
Quando investimos na maravilhosa experiência de nos ligarmos afetivamente a familiares e amigos, quando nos entregamos de corpo e alma às nossas relações, vivemos momentos de gargalhada, de relaxamento, de cumplicidade e de otimismo. E, invariavelmente, passamos por perdas, assistimos às voltas que a vida dá, chocamo-nos com os azares que batem à porta de quem amamos e, claro, partilhamos os nossos próprios momentos de dor.
Quando perdemos alguém de quem gostamos muito, quando assistimos ao sofrimento que as malditas doenças provocam àqueles que amamos, quando enfrentamos um desgosto de amor, quando morre o nosso animal de estimação ou quando nos sentimos desesperados pelos nossos problemas, o que é que fazemos? Comovemo-nos. Choramos. E está tudo bem.
Chorar não é sinal de fraqueza
Se pensarmos naquilo que acontece quando nascemos, reparamos que o choro é provavelmente das coisas mais naturais que a vida pode ter.
Quando um bebé tem fome, chora. Quando tem frio, chora. Quando tem sono, chora. Quando um adulto responde ao choro do bebé e lhe pega ao colo, está a dizer-lhe «Eu estou aqui. Aquilo que tu sentes é importante para mim». À medida que isto se repete, criamos laços que nos deixam progressivamente mais seguros e autónomos.
É precisamente na medida em que aprendemos a reconhecer as nossas emoções e necessidades e na medida em que interiorizamos que há alguém que se importa e que está lá para nós, que nos transformamos em adultos capazes de arriscar, de lutar pela própria felicidade.
Pelo contrário, quando os adultos ignoram ou desprezam as necessidades de um bebé, não só causam um sofrimento incalculável, como moldam a forma como aquela criança aprenderá a lidar com as suas emoções.
Não é por acaso que há pessoas que têm aversão ao choro e que fogem a sete pés de qualquer situação em que possam sentir-se vulneráveis. O mais provável é que tenham crescido num ambiente familiar em que a tristeza foi muitas vezes ignorada ou desvalorizada.
Quando isso acontece, aprendemos a defender-nos, camuflando sentimentos, evitando mostrar vulnerabilidade, fazendo-nos de “fortes”. Até podemos dizer coisas como «Não gosto de dramas» ou «Chorar é para os fracos». Na prática, estamos a lidar com o sofrimento com as limitações que a vida nos trouxe.
A verdade é que chorar e mostrar tristeza ou vulnerabilidade não faz de nós pessoas mais fracas. Pelo contrário, quando assumimos com clareza e honestidade os nossos sentimentos associados à dor, é infinitamente mais provável que nos liguemos, que recebamos o conforto de que precisamos e que, em função da segurança que isso nos traz, saibamos exatamente aquilo que temos de fazer para recuperar.
Quando camuflamos sentimentos e reprimimos o choro, vivemos lutas internas, enchemo-nos de vergonha e olhamos para nós de forma diminuída. Mas quando assumimos sem medo a nossa dor, quando choramos e nos vulnerabilizamos, recebemos o abraço que nos ajuda a acreditar que vai ficar tudo bem, ainda que naquele momento nem tudo esteja bem.
Os pais também choram
A forma como gerimos e mostramos a tristeza e a dor ganha ainda mais relevância quando temos filhos. E se as crianças nos virem chorar? E se elas se sentirem aflitas? E se isso as traumatizar?
Para início de conversa, quero esclarecer que o choro não traumatiza ninguém. Pelo contrário! Quando um pai ou uma mãe são capazes de mostrar o seu sofrimento através do choro, é mais provável que os filhos se sintam “autorizados” a fazer o mesmo e que aprendam a regular as próprias emoções. E isso é impagável.
Uma das coisas que hoje sabemos é que o autocontrolo é das competências mais positivas na educação de uma criança. Quando reconhecemos as nossas emoções e as exteriorizamos sem medo, é mais provável que consigamos acalmar-nos mais rapidamente e fazer escolhas emocionalmente inteligentes.
Isto é muito diferente de guardarmos os sentimentos para nós, inundarmo-nos de sentimentos de culpa e de vergonha e andarmos permanentemente stressados.
Ainda a propósito da educação dos nossos filhos, gosto de lembrar que é importante deixar as crianças chorarem. Aquilo que observo muitas vezes é que alguns pais e mães vivem excessivamente centrados na felicidade das crianças e fazem tudo o que estiver ao seu alcance para evitar que elas se entristeçam, se frustrem, se aborreçam.
Ora, o princípio subjacente a estas escolhas é nobre, mas o resultado pode ser desastroso. Quando nos apressamos a entregar o telemóvel às nossas crianças ou compramos o chocolate que elas nos pedem só para evitar que chorem, estamos a impedi-las de amadurecer, de aprender a lidar com a frustração e de se transformarem em adultos resilientes.
Chorar… para quê?
Quando crescemos num ambiente familiar em que é normal que os adultos mostrem a sua tristeza e, sobretudo, quando nos damos conta de que a seguir ao choro vem o alívio, o conforto e a ação, é mais provável que aceitemos com naturalidade os nossos próprios momentos de dor.
Em vez de olharmos para a tristeza como o fim do mundo e para o choro como um sinal de incapacidade, damo-nos conta de que chorar é mais uma forma de sermos sinceros connosco e com os outros, é uma forma de nos respeitarmos e de permitirmos que o que quer que estejamos a sentir seja vivido em pleno.
Mas também é uma forma de nos ligarmos, sem máscaras, e de permitirmos que quem gosta de nós nos mostre, mais uma vez, que está lá para nós.