O Simply Flow está de parabéns. Comemoram-se quatro anos a comunicar, de forma acessível e rigorosa, sobre algo importante e valioso: saúde e bem-estar. Com este mote queria falar-vos de crianças – como habitualmente tenho feito sempre que escrevo para o Simply Flow – e de comemoração, mas não de aniversários, primeiros dentes ou passos, nem de resultados escolares… Porque celebrar é dar atenção e valorizar algo e porque as perguntas que as crianças fazem nem sempre merecem toda a atenção e apreço dos adultos, decidi fazer-vos um convite: Celebremos a curiosidade das crianças!
Como é que?… Onde…? Quando…? Quem…? E se…? Não achas?
Os dinossauros existiram ao mesmo tempo do que as pessoas? Então como sabemos o que comiam? Onde está o sol durante a noite? Quem dá o nome às cidades? E se só existisse um presidente para todo o mundo? Como nascem os bebés? Quem inventou o fogo de artifício? Porque é que os navegadores decidiram ir de barco? As nuvens são feitas de algodão? Onde é que os homens das cavernas guardavam a comida se não havia frigoríficos?
Perguntas, perguntas e mais perguntas. Umas que dão vontade de rir. Outras cuja resposta podem fazer corar os crescidos. Umas de fácil resposta. Outras que podem até exigir pesquisa.
Perguntas colocadas em momentos oportunos. Outras perguntas que surgem quando se está com a cabeça noutros assuntos. Umas que surgem de tempos a tempos. Outras que aparecem a uma velocidade estonteante, a toda a hora, saltitando de assunto em assunto.
Nalguns momentos acha-se graça. Noutros momentos pede-se quase em desespero (mas baixinho para a criança não ouvir) que ela faça uma pausa na sua chuva torrencial de questões.
Na verdade, por vezes, em conversas com os muitos pais que vou conhecendo apercebo-me de que esta voz curiosa das crianças nem sempre é admirada e valorizada pelas famílias. Deixam-se escapar uns: “Ele nunca se cala, é tão cansativo…”; “As perguntas dela não se esgotam”; “Fico em exaustão com a velocidade com que faz perguntas. Tudo suscita perguntas”. O que por vezes estes pais não imaginam é o importância daquilo que estão a descrever.
Uma criança curiosa é uma criança atenta, motivada para a aprendizagem.
Fazer perguntas constitui uma poderosa ferramenta para ligar os motores da motivação para compreender, saber mais, aprender.
Celebrar a curiosidade das crianças é apreciar o pequeno grande pensador (ou os pequenos grandes pensadores) que vive(m) consigo, fazendo-lhe perguntas e respondendo às suas perguntas com genuíno interesse.
Quando uma criança questiona, ela assume um papel ativo no seu processo de aprendizagem, de compreensão e de envolvimento com o mundo. Ela tenta perceber como é que o mundo funciona recolhendo o máximo de informação que consegue, sempre que sente o contexto e as relações como espaços seguros para expor as suas interrogações. A disponibilidade dos adultos para as ouvir, valorizar e procurar responder é fundamental para que a criança desenvolva o seu espírito crítico, a sua vontade de aprender e para que se sinta especial e valorizada.
Celebrar a curiosidade de uma criança…
- Não é contribuir para que se sinta ignorada. Mostre interesse, disponibilidade e – claro – curiosidade!
- Não é ridicularizar as questões que ela coloca. Todas as questões são pertinentes e desejáveis!
- Não é fazê-la sentir que é um incómodo. A curiosidade esconde algo de muito positivo!
- Não é abafar a necessidade de interrogar. Elogie o interesse que a criança demonstra por conhecer e compreender o mundo que a rodeia.
- Não é achar que existe algum problema com a criança. Motivo de preocupação é uma criança que se isola, que não comunica, que não mostra qualquer interesse pelo que a rodeia.
8 Dicas para incentivar a curiosidade das crianças:
- Modele a paixão pelo saber. Permita que o seu filho o veja a ler, a procurar respostas, a tentar descobrir mais sobre certos temas ou como fazer certas tarefas, a planear passeios e visitas…
- Experimentem coisas novas. Itinerários, alimentos, desportos, brincadeiras, destinos de férias…
- Guie o seu filho na busca de respostas. Quando o seu filho lhe fizer uma pergunta, em vez de lhe dar imediatamente a resposta, incentive-o a procurá-la, orientando-o para locais onde as possa pesquisar e encontrar, como num livro, com um familiar, na Internet, num museu…
- Siga os interesses da criança. Respeite os temas que ela traz, sejam eles diversos ou mais restritos, semelhantes ou diferentes dos seus.
- Faça perguntas (abertas, para fugir a respostas “Sim” e “Não”). Descubra o que o seu filho já sabe. Sempre que ele fizer um comentário sobre algo novo, pode sempre encontrar novas camadas de interesse perguntando-lhe: “Porquê? Conta-me mais”. A sua demonstração de curiosidade acaba por ser um excelente exemplo para ele: “A sério que as formigas conseguem levantar objetos que podem pesar 50 vezes mais do que elas? Como?”.
- Mostre o desejo de conversar. Não trave o entusiasmo; Se o momento não for o mais oportuno (não tem de ser sempre!) prometa retomar o assunto logo que possível.
- Disponibilize ferramentas para a descoberta. Visitem museus, adquiram livros, frequentem bibliotecas, descubram experiências que podem fazer em conjunto, passeiem ao ar livre…
- Incentive tempo para brincadeiras não-estruturadas. Procure não dizer sempre ao seu filho o que fazer, como fazê-lo ou qual deverá ser o resultado final. Deixe que a curiosidade abrace a exploração, servindo de guia para novas experiências.
Quanto mais uma criança questiona o mundo e a realidade, mais ela aprende.
Celebremos a curiosidade das crianças, em prol do seu crescimento harmonioso!