Celebrar o português de Portugal

Ana Caetano // Outubro 5, 2020
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Parabéns Simply Flow! Parabéns a toda a equipa do Simply Flow! Parabéns e obrigada Fátima Lopes por teres avançado com esta ideia de conteúdos de desenvolvimento pessoal e bem-estar em português.

Faz um ano e dois meses que recebi o convite da Simply Flow para escrever textos sucintos sobre temas atuais que incluíssem sugestões de atuação no quotidiano à luz da Psicologia. Apaixonei-me à primeira leitura pelo Simply Flow… Finalmente em português europeu, um site só dedicado a estes temas. 

A língua um organismo que cresce e se adapta para encontrar as palavras que traduzem as nossas sensações em determinado contexto.

Não sou purista quando se trata da língua uma vez que, tal como Mia Couto, considero a língua um organismo que cresce e se adapta para encontrar as palavras que traduzem as nossas sensações em determinado contexto. E cada língua tem palavras que traduzem sentimentos que se sentem em todas as línguas, mas nem todas as línguas têm todas as palavras para todos os sentimentos… a nossa “saudade” ou o “cafoné” do português do Brasil são exemplos disso. A propósito da questão do contexto apresento-vos a palavra “cafajeste” que tem uma história deliciosa na sua origem e difusão. 

Consta que esta palavra era usada em Coimbra pelos estudantes ao se referirem a alguém “velhaco e desordeiro”. Os estudantes oriundos do Brasil que vinham estudar em Coimbra levaram-na para o outro lado do oceano. O seu uso vulgarizou-se no Brasil, tendo caído em desuso em Portugal nos anos 50 do Séc. XX. Mais tarde a mesma é ressuscitada nas telenovelas brasileiras e considerada em Portugal como um termo brasileiro, com o qual até brincamos. No entanto, um cidadão nascido e criado no Brasil considera-a ofensiva. O que remata esta história de modo encantador é que, aparentemente, a palavra cafajeste é de origem africana. Assim, uma palavra da mesma língua com nuances na sua expressão desperta sentimentos diferentes nos dois lados do Atlântico e em três continentes distintos.

Há expressões em português que refletem tantas imagens e palavras que simplesmente não são traduzíveis.

Continuando a ideia de não ser purista, admito que a maioria das minhas leituras de conteúdos técnicos e desenvolvimento pessoal são em inglês (EUA). Sou uma grande admiradora das correntes norte-americanas em Psicoterapia. Por vezes encaminho textos em inglês para os meus pacientes. No entanto, não é raro suscitarem-se as questões de não coincidência de contexto antes referidas, com a agravante da tradução. Há expressões em português que refletem tantas imagens e palavras que simplesmente não são traduzíveis. Por exemplo, um dos momentos de bloqueio que tive recentemente foi explicar a uma jovem paciente francesa, em inglês (língua usada para comunicarmos), o significado de “ter muita pinta”… simplesmente não consegui descobrir expressão equivalente naquela língua. Delicio-me com o uso que fazemos de estrangeirismos e acho enriquecedor usarmos outras expressões linguísticas – adotei palavras como “sincericídio”, “me pego”, “vergonha alheia”, “overwhelming”, “Nordic noir”. 

Porém, o recurso e emprego de outras línguas no meu dia-a-dia não afasta a relevância que representa, para mim, a existência de um site em português europeu como o Simply Flow, que divulga ideias, conceitos e sugestões plurais na língua materna, por meio da qual expressamos as nossas emoções e valores. Além do mais, concorre para um dos mais preciosos objetivos que se pode ter nos tempos que correm: ajudar-nos a sermos melhores e a sentirmo-nos bem, a cada dia que passa.

Parabéns e obrigada Simply Flow!

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