Celebra as tuas conquistas sem pressas

Vânia Duarte // Outubro 20, 2020
Partilhar

Em 2013 quando entrei pela primeira vez numa sala de Yoga confesso que não sabia muito bem ao que o ia. O Yoga não era nada que desejasse praticar. Mas tinha-me sido recomendado pela minha psicóloga como forma de me ajudar com os meus ataques de pânico. A verdade foi apenas uma: eu odiei as aulas de Yoga!  Durante meses, fui ficando unicamente pela parte da respiração – pranayama. Isto porque comecei a sentir desde cedo o impacto que estas práticas de respiração consciente tinham no meu síndrome do pânico.

Ao final de 1 ano e meio acredito ter-me perdido de amores pelo Yoga. De repente já não eram só as práticas de pranayama que me faziam ficar, mas também toda a parte física – os ásanas. Apaixonei-me pelo movimento, pela fluidez, pelas capacidades que ia descobrindo em mim, pelo que não conseguia fazer e pelo que conseguia fazer. Passei a respirar Yoga por todos os meus poros e a verdade é que quanto mais praticava mais queria praticar e mais longe queria ir.

Quanto mais praticava Yoga mais queria praticar e mais longe queria ir.

Esta paixão louca acabou por abrir espaço para que o meu ego surgisse no tapete. Um ego que me dizia que eu conseguia ir mais longe. Que me pedia para tentar uma nova postura porque a pessoa do lado já a fazia. Que me pedia para tentar uma das posturas desafiantes que tinha visto numa das fotografias que inundavam as redes sociais. Eu queria chegar mais longe! Por isso, durante alguns anos a minha prática deixou de ser algo terapêutico – aquilo que realmente me levou ao Yoga – para se tornar um desafio constante de mostrar que conseguia ir mais e mais longe.

Ora este ego, trazia várias questões ao de cima e uma delas era o não saber celebrar as minhas conquistas no tapete. Assim que conseguia uma coisa, por mais pequena que fosse, já estava a pensar na próxima. Colocava-me constantemente num estado de exigência que o verdadeiro Yoga não nos pede. Exigia fisicamente do meu corpo, levando-o muitas vezes a limites onde faltou pouco para me magoar. 

Até que em 2018 magoei-me mesmo. Não a praticar Yoga, mas num treino de Crossfit. Magoei-me na cervical e tive de parar de treinar, mas não de fazer Yoga. Na verdade os médicos aconselharam muito o Yoga para me ajudar a recuperar da minha lesão, mas, teria de ser um Yoga muito restaurativo. Um Yoga terapêutico.

A nossa postura no tapete mostra muito da nossa postura na vida.

Confesso que para mim, ou melhor para o meu ego, foi um choque perceber onde estava a minha prática naquela época e onde eu teria de estar naquele momento. Toda a minha prática mudou. Durante meses deixei de fazer inúmeras posturas que já fazia e isto, apesar de ter sido duro, foi o caminho de volta ao verdadeiro Yoga, aquele que há 5 anos me tinha levado pela primeira vez a uma sala. O Yoga que nutre, que cuida e que nos mostra que a nossa postura no tapete mostra muito da nossa postura na vida.

Esse acidente acabou por moldar a prática que tenho hoje e a minha própria forma de ensinar. Acabou por moldar a forma como guio os meus alunos, como lhes procuro explicar que o ásana é realmente importante, mas que sem tudo o resto – respeito pelo corpo e pela mente, honestidade para saber quando estamos a ir longe de mais e total presença – não existe Yoga. Apenas existe ego.

Eu sei que a maior parte das pessoas começa a praticar Yoga pelo fascínio dos ásanas e não há absolutamente mal nenhum nisso. O ásana é um caminho, mas não deve ser o único escolhido porque acaba muitas vezes por trazer uma competição para o tapete que não nos é pedida no Yoga.

Deixámos de saber celebrar as nossas conquistas.

E quando olhamos para o dia-a-dia, percebemos que esta história não difere muito da forma como vivemos, das exigências que nos colocamos, do querer sempre mais mesmo quando conseguimos algo que já queríamos antes. Deixámos de saber celebrar as nossas conquistas. Deixámos de saborear as vitórias, com medo de parecer demasiado bom e porque vivemos numa sociedade competitiva onde temos de estar sempre um passo à frente.

Desliguemos o modo competitivo e que liguemos o modo de total presença.

E é isto que o Yoga, seja no tapete, seja na vida, nos pede, que desliguemos o modo competitivo e que liguemos o modo de total presença, onde nos permitimos celebrar conquistas por mais pequenas que sejam e deixar que o tempo se encarregue de nos trazer a próxima se assim tiver de ser.  

Nota: Fotografia por Tânia Carvalho

Ler mais

Social Media

Copyright © 2023 Simply Flow. Todos os direitos reservados.

Este site utiliza cookies para melhorar a sua experiência. Aceitar Saber mais