Bullying: E quando o meu filho é o agressor?

Inês Afonso Marques // Outubro 20, 2021
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Se é verdade que todos os pais gostariam de nunca ouvir que o seu filho é vítima de bullying, é igualmente verdade que nenhum pai gostaria de saber que o seu filho faz bullying a outras crianças. É potencialmente doloroso imaginar que o nosso filho provoca sofrimento a outros.

Pontos prévios à leitura das linhas que se seguem: o seu filho não é uma má criança e você não está necessariamente a fazer nada de errado.

Vítima, agressor e observador: Todos estão sujeitos a níveis de stresse significativo e todos eles, ainda que em dimensões diferentes do seu desenvolvimento social e emocional, beneficiarão de apoio, quer da rede de suporte próxima quer de ajuda profissional. O agressor tende a ser aquele que é “vítima” da menor disponibilidade para ser compreendido. Em todo o caso, para lá de um comportamento, ou um conjunto de comportamentos, inequivocamente reprováveis e inaceitáveis, há uma pessoa que precisa de ser escutada, compreendida e ajudada.

Uma criança que manifesta comportamentos de bullying não é necessariamente uma criança má. 

Os motivos que levam uma criança a ser um agressor podem ser diversos, todos eles, nalguma medida, traduzindo dificuldade em termos de competências sociais e emocionais, bem como necessidade de ajuda.

Poderá ser uma criança que, ela própria, está a ser vítima de abuso e ao tornar-se no agressor procura readquirir alguma sensação de controlo, sendo hostil para com os outros.

Poderá ser uma criança que busca, em desespero, atenção dos outros, quando outras formas, mais ajustadas, de a obter falharam.

Poderá ser uma criança com maior dificuldade em controlar os impulsos.

Poderá ser uma criança com dificuldade na interpretação dos comportamentos dos outros, lendo as ações dos outros como hostis, mesmo que de hostis nada tenham.

Poderá ser uma criança com dificuldades na empatia, uma importante dimensão da inteligência emocional.

Poderá ser uma criança insegura, com um autoconceito fragilizado que vê neste tipo de comportamentos uma forma de se sentir “mais forte”, mais capaz.

Quando se fala de bullying é essencial levar o assunto a sério. 

Nunca encare o bullying como uma coisa de crianças sem importância ou como uma fase porque todas as pessoas passam. O impacto negativo do bullying – mesmo para o agressor – no desenvolvimento global da criança é real. Mesmo quando o agressor é o seu filho importa: avaliar, compreender e intervir.

A comunicação é amiga de todos.

Não saltar de imediato para a crítica. Escutar e compreender.

Procure descobrir os “porquês”. É fundamental tentar ler a realidade do ponto de vista da criança e procurar perceber o que poderão esconder os seus comportamentos reprováveis. Embora possa ser tarefa difícil para o adulto, que provavelmente deseja saltar de imediato para a aplicação de algum tipo de consequências, encontrar espaço para escutar é fundamental. E, escutar e compreender não significa, obviamente, ser conivente ou validar aquilo que a criança fez. Aliás, para se poder agir de forma efetiva é mesmo importante avaliar bem a situação e conhecer a “origem do problema”.

Seja claro quanto ao facto de reprovar quaisquer comportamentos de bullying – insultar, gozar, ameaçar, bater, espalhar rumores… – e que os mesmos terão de ser imediatamente interrompidos. Simultaneamente, mostre que se encontra disponível para escutar aquilo que a criança tem para dizer, sobre o que pensa e sente. Com este gesto estará a modelar um importante ingrediente para relações interpessoais saudáveis, e em relação ao qual, provavelmente, a criança agressora terá dificuldade – a empatia.

Envolva a criança na resolução do problema. 

Perguntando, por exemplo: 

  • “Como pensas que poderemos parar estes comportamentos?” 
  • “Que mudanças será necessário introduzir?” 
  • “Como reagirás a partir de agora perante a criança em relação à qual foste abusivo?”

Depois, procurar ajuda.

Um psicólogo clínico poderá ajudar a identificar as vulnerabilidades da criança e a traçar um plano de intervenção ajustado às suas idiossincrasias e às suas necessidades. Em princípio este irá incidir sobre: desenvolvimento da inteligência emocional, treino de competências de comunicação, aprendizagem de estratégias para gestão de emoções difíceis, treino de autocontrolo comportamental, modificação da relação com pensamentos-armadilha, fortalecimento de um autoconceito positivo.

Mas, então, não há consequências?

Claro que sim. A criança que agride necessita compreender que as suas ações têm impacto nos outros e que têm consequências para os outros e para si próprias. Nesse sentido, quando uma criança é agressora, deverá aprender que qualquer escolha comportamental, acarreta uma consequência. Que consequência? Depende de diversas variáveis e deverá ser avaliada situação a situação, podendo incluir o reconhecimento do erro e um pedido de desculpas, a retirada de privilégios, a reposição de algo estragado ou da verdade.

E de futuro?

Mantenha-se atento e conectado com o seu filho, disponível para o diálogo, identificando quaisquer sinais de instabilidade.

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