Brincar é um direito das crianças, todos os dias do ano!

Inês Afonso Marques // Setembro 9, 2019
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Uma mão cheia de razões para brincar todos os dias com o seu filho

Brincar é coisa séria porque, para além de potencialmente divertido, é algo com significado. É tão relevante na vida de uma criança que digo muitas vezes: é tão importante como lavar os dentes! Por isso, regressar à escola não pode ser sinónimo de “adeus ao tempo de brincadeira”. Brincar é um direito das crianças, todos os dias do ano! Brincar é um verdadeiro tubo de ensaio para experiências e descobertas, rumo ao sucesso e à satisfação! Portanto, a brincar aprende-se. E, enquanto brinca com o seu filho ajuda-o a crescer.

A brincar também se aprende

Quando nos envolvemos emocionalmente numa atividade deixamos registadas memórias mais vivas e nítidas. Uma criança que brinca com vontade, que se envolve em brincadeiras com as quais ativa as suas emoções, é uma criança que aprende de forma natural. Enquanto brincam as crianças espelham o seu mundo interior e as brincadeiras são como umas lentes especiais que usa para conhecer e se envolver no mundo. Acompanhar as crianças nas suas brincadeiras é poder viajar com elas para os seus mundos interiores e poder conhecê-las melhor.

5 razões para brincar todos os dias com o seu filho:

Deixo-lhe (apenas) cinco (das muitas) razões para brincar todos os dias com o seu filho, enquanto o ajuda crescer…

1. As crianças aprendem – sobre si, os outros e o mundo – através do brincar.

Brincar não é a única forma de aprender, mas será das mais significativas.

A maioria das competências que sabemos serem importantes para as crianças desenvolverem, pilares para o bem-estar, o sucesso e a satisfação, e os valores que queremos transmitir, dificilmente são interiorizados através de longas palestras. As crianças aprendem fazendo, experimentando. Aprendem a desenhar desenhando. Aprendem a ser empáticas relacionando-se com os outros. Aprendem a resolver conflitos sociais tentando solucionar desafios sociais concretos com que se confrontam. Aprendem a saltar à corda experimentado e treinando com uma corda na mão. Aprende-se observando e tendo oportunidades – tempo, espaço e estímulos – para experimentar fazer.

Estímulos sempre a manter por perto? Puzzles, legos e blocos de encaixe e construção; livros; material para rabiscar, escrever, pintar e moldar; baú com “tesouros” que permitam brincar ao faz de conta, viajar por novos cenários e experimentar outros papéis (cabeleiras, chapéus, utensílios de cozinha, lenços, molas, malas, maquilhagem, colares, gravatas, batas, pensos rápidos…).

2. Os pais são companheiros de eleição dos filhos para as brincadeiras.

Desde o nascimento! A brincadeira é uma forma natural de interação entre os pais e o bebé que acabou de nascer. As brincadeiras podem surgir em qualquer lugar, a qualquer hora. Descomplique e siga com curiosidade genuína os interesses do seu filho. Dê-lhe liberdade. Liberdade para escolher as cores do desenho que vai fazer, o livro que vão ler, os sítios que quer conhecer, o jogo que vão jogar…

Brincar com o seu filho é talvez o melhor instrumento de educação que tem ao seu dispor. E, não precisa de tirar um curso. Não precisa de brinquedos especiais – Imagina tudo o que uma criança consegue fazer com uma caixa de cartão vazia nas mãos? Tudo o que precisa para educar enquanto brinca é de presença e tempo de qualidade, regado com muito afeto.

3. Ao brincar a criança desenvolve-se física, emocional, social e cognitivamente.

O brincar funciona como um motor para a aprendizagem em qualquer idade.

Brincar tem algo de mágico, na medida em que qualquer que seja a brincadeira, o contexto ou o brinquedo, haverá sempre estimulação do desenvolvimento físico, emocional, cognitivo e social e haverá sempre lugar para a integração de novas descobertas.

Enquanto brinca com o seu filho, experimente promover um diálogo centrado na brincadeira. Esta conversa partilhada esconde oportunidades fantásticas de crescimento e desenvolvimento global.

Alguns exemplos?

  • “Eu coloco esta peça aqui. Agora é a tua vez”. Cresce a capacidade de saber esperar.
  • “Sabes, eu tinha uma ideia diferente para a cor do carro, mas podemos fazer como sugeres. Vai ficar fantástico.” Promove-se o respeito pela diferença e pelas opiniões dos outros.
  • “Estava a ouvir a tua descrição que me fez lembrar…” Modela-se a escuta ativa.
  • “Quando estamos entusiasmados, por vezes, é mais difícil controlar os nossos impulsos e conseguir aguardar pacientemente…” Estimula-se o controlo comportamental.
  • “Se este menino da história fosse teu amigo, que conselho lhe davas?” Fomenta-se a empatia.
  • “Parece-me que ficaste zangado pelo facto da construção se ter desmoronado. Fazemos uma pausa?” Enriquece-se vocabulário e estimula-se a inteligência emocional.

4. Enquanto brincam juntos estreitam-se laços afetivos.

Envolva-se a 100%. Sintonize o seu corpo e os seus pensamentos no momento presente. Lembre-se de desligar (d)a tecnologia quando está com o seu filho. As crianças distinguem com facilidade quando realmente estamos com elas ou quando só estamos de corpo presente, a sorrir para as suas brincadeiras e a pensar no jantar, na reunião do dia seguinte, num e-mail que ficou por responder ou naquele jogo de futebol que está a dar na televisão.

Virginia Satir, uma conhecida terapeuta familiar, dizia: “Precisamos de quatro abraços por dia para sobreviver. Precisamos de oito abraços por dia para nos manter. E, precisamos de doze abraços por dia para crescer.” O desenvolvimento dos laços emocionais faz-se em grande medida através do contacto físico. Abracem-se muito! E, estimem os momentos de festinhas no cabelo, os ataques de cócegas e as sessões de massagens mútuas. Diga e demonstre ao seu filho aquilo que sente por ele todos os dias. De quantas formas diferentes consegue verbalizar o quanto gosta dele?

5. Mais relevante do que a quantidade de tempo que passam juntos é a qualidade desse tempo.

A melhor dica que posso dar-lhe no que toca a brincar com o seu filho é: deixe de lado os seus óculos de crescido. E, a culpa que a aparente falta de tempo costuma abraçar. Tente ver o mundo através dos olhos de uma criança da idade do seu filho. E, isso tanto implica andar de gatas pela sua casa, vendo-a como o seu filho a vê, como fazer uma viagem no tempo, recuar à sua infância e recordar que coisas simples que o divertiam. Descalce-se, ponha-se confortável, sente-se junto do seu filho e deixe-se levar. Siga as ideias e os interesses do seu filho enquanto passam tempo juntos e partilham uma atividade. Deixe de lado as vozes críticas que alguma vez o fizeram acreditar que um adulto perde “estatuto” ao brincar ou que brincar é algo pouco produtivo ou uma perda de tempo.

Deixe-se levar, envolva-se, participe, demonstre genuína disponibilidade, riam juntos e a satisfação que emerge terá um valor extraordinário. Reserve todos os dias na sua agenda (pelo menos) 15 minutos que dedicará de forma consciente e plena ao seu filho! Será o vosso tempo especial vivido em qualidade!

O livro “A brincar também se educa” procura desmistificar a ideia da falta de tempo e silenciar a culpa que tantas vezes os pais sentem pelas correrias do dia a dia e para a sensação de que o tempo lhes escapa. E, está recheado de ideias e sugestões de brincadeiras para todas as idades.

15 minutos de tempo especial todos os dias, entre brincadeiras, podem fazer uma diferença enorme na dinâmica das famílias, na satisfação e realização parental e no desenvolvimento global das crianças.

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