Se conciliar as várias dimensões da vida pode parecer nalguns momentos trabalho para um malabarista, na dimensão da parentalidade, acompanhar as necessidades de um ou vários filhos, nas suas diferentes fases de crescimento. Pode até parecer habilidade ao alcance apenas de malabaristas experientes! Ou talvez não… Irei falar-lhe da autocompaixão, uma prática que o ajudará a manter a perseverança, particularmente nos momentos de maior exigência.
Efetivamente, não há dois dias exatamente iguais, dois filhos exatamente iguais, duas famílias exatamente iguais. Por isso, às vezes, aquilo que hoje funciona, amanhã pode não funcionar e aquilo que funciona com uns, pode não funcionar necessariamente com os outros. A perseverança perante os desafios constantes da parentalidade é facilitada se se conseguir não se perder o foco daquilo que importa e se valoriza. É aí que reside a capacidade de adaptação e de responsividade às necessidades dos filhos.
Como seres humanos que são, todos os pais têm os seus momentos altos e baixos, com momentos de orgulho pela forma como se relacionam com os filhos e como os ajudam a crescer, e momentos de embaraço, desânimo e confusão em relação à forma como agem ou se relacionam com os filhos, ou em relação à forma como a parentalidade ocorre.
Cuidar de si com a mesma consideração e gentileza com que trataria um bom amigo é aquilo a que damos o nome de autocompaixão e é aquilo que o ajudará a “não deitar a toalha ao chão” quando tudo lhe parece demasiado difícil.
Nenhum pai nega a exigência permanente da sua missão de educar um filho. Mas estarão todos bem equipados para lidar emocionalmente com essas exigências? A autocompaixão (bem como o autocuidado) é um instrumento precioso: reduz os níveis de stress e acrescenta mais satisfação à parentalidade. Quando observa alguém de quem gosta a confrontar-se com um momento de vida mais desafiante tenderá a responder sem julgar, com amabilidade, reconhecendo que a imperfeição faz parte de qualquer ser humano. É assim, da mesma forma que acolheria um amigo, que vai querer dirigir-se a si.
A autocompaixão pode ser acedida mesmo durante momentos de stress. Dificilmente conseguirá ter um momento de autocuidado (ir beber um chá com amigos, tomar um banho relaxante, ir praticar desporto…) durante a birra do seu filho porque não quer ir arrumar os brinquedos, comer as ervilhas ou vestir o casaco. A boa notícia é que pode assumir uma postura compassiva qualquer que seja a situação que está a despoletar o seu turbilhão emocional, deixando de lado a autocrítica e o julgamento.
“Mas como posso ser compassiva/o comigo nos momentos mais desafiantes?”
A forma mais simples de lhe explicar como ser compassivo consigo nos momentos desafiantes é: conectando-se com o momento presente, diga a si próprio o que diria a um grande amigo que estivesse na mesma situação, reconhecendo a humanidade comum que pode existir nas suas ações e emoções.
A parentalidade requer infinitas tentativas e erros. Às vezes comparo-a a um GPS: se a parentalidade fosse um GPS estaria frequentemente a recalcular o melhor percurso.
Sem autocompaixão, em momentos de maior desnorte, a vergonha e a culpa encontrariam terreno para se instalar, o GPS não sairia do disco riscado “a recalcular percurso”, a perseverança cairia e você não sairia do mesmo sítio.