Atividades extracurriculares: sim ou não?

Inês Afonso Marques // Outubro 9, 2023
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Atividades extracurriculares
Atividades extracurriculares

Sabemos que, por vezes, as atividades extracurriculares surgem como uma escolha, outras vezes como uma necessidade. Atividades extracurriculares: sim ou não? A minha primeira resposta é sim! Sim, com alguns, “ses” agregados.

Se for uma atividade física, sim. 

Quando só há hipótese para uma atividade extracurricular, que a escolha recaia sobre uma atividade desportiva. Sabemos que a atividade física é um dos pilares da nossa saúde; portanto, este é um excelente ponto de partida. Costumo recomendar que todas as crianças e adolescentes pratiquem uma atividade desportiva para além daquilo que já fazem em contexto escolar. Os benefícios multiplicam-se consoante a atividade – física ou não – selecionada. Benefícios motores (equilíbrio, resistência, força, coordenação….), benefícios cognitivos (capacidade de foco, decorar regras, integrar sequências e padrões…), benefícios emocionais (aprender a ganhar, aprender a perder, aprender a ser orientado e corrigido e aprender a lidar com todas as emoções que daí emergem…), benefícios sociais (cooperação, competição saudável, comunicação…) estão presentes em qualquer que seja a atividade.

Sim, se não for (mais) uma fonte de pressão para se ser o melhor, para se ganhar um lugar no pódio. 

A motivação para tal pode lá estar, claro. Contudo, a descontração e a diversão devem ser prioridade. As crianças devem estar felizes nas atividades que frequentam. E isso, curiosamente, não é incompatível com “medalhas”.

Sim, se não for uma escolha unilateral dos pais. 

“Nunca fiz ballet e queria ter feito, por isso vou inscrever-te”; “Queria ter aprendido a tocar piano e nunca tive essa possibilidade, vai para o piano”; “A moda agora é o surf, o meu filho também tem de ir.” A abordagem, que inclusivamente responsabiliza a criança pela escolha e aumenta a sua motivação para participar na atividade deve ser, por exemplo: “Para nós é importante que faças uma atividade desportiva uma vez por semana. O que gostarias de experimentar?”; “Por uma questão logística e de horários, teremos de te inscrever nalgumas atividades extra escola. O que imaginas ser mais interessante para ti?”. Isto não invalida, claro, que a escolha tenha em em consideração aspetos de horário, geográficos, financeiros que a família considere relevantes. 

Sim, se respeitar os interesses da criança. 

Este tipo de atividades podem ser convites valiosos para a criança se conhecer a ela própria, para se expressar, para se desafiar. Importa seguir os gostos, motivações e interesses das crianças. E estes podem não estar em sintonia com os interesses dos pais. E não há nada de errado nisso.

Sim, se não roubar demasiado tempo ao tempo livre, da criança e da família. 

É essencial que continue a existir tempo para cenários não estruturados, para a brincadeira livre, para a criatividade surgir e para o tempo de qualidade na família acontecer. Há efetivamente muitas crianças com agendas pesadíssimas, saindo de casa cedo e chegando a casa quando idealmente já deveriam estar a dormir. Cabe aos pais ajudar nesta reflexão com bom senso e fazer a melhor gestão possível do tema.

Sim, se não perturbar o horário de sono. 

O sono é outro dos pilares essenciais do bem-estar global do ser humano (e sobre o sono das crianças tanto haveria a dizer). Este deve ser um critério importante na seleção da atividade. As crianças precisam do seu tempo de sono para no dia seguinte conseguirem estar concentradas, conseguirem aceder à sua memória, conseguirem regular as suas emoções, conseguirem controlar o seu comportamento. Por isso, mesmo em adolescentes mais velhos, atividades que se prolongam noite dentro não deverão estar no topo das preferências. 

Sim, se a atividade não corresponder a mais tarefas que façam colagem direta com tarefas escolares. 

Mesmo quando o intuito é promover o desenvolvimento cognitivo, isso consegue-se estimulando a curiosidade e através de tarefas de natureza mais lúdica e menos académica.

E se começam a mostrar resistência? E quando eles querem desistir? 

É importante explorar o porquê, dar espaço para que a criança explique o seu ponto de vista e as suas necessidades. Muitas vezes, a vontade de desistir de uma atividade não surge da desidentificação com o que se faz, mas, sim, de variáveis emocionais – não saber lidar com a crítica, hiper exigência da criança com ela própria, impaciência, bullying … Depois, é importante incentivar a não se desistir à primeira. Em muitas situações é útil incentivar ao compromisso de manutenção da atividade até ao final daquele ano letivo. Claro que cada caso é um caso e, como referi, é verdadeiramente relevante compreender o que pode estar na génese de uma resistência ou recusa.

Acima de tudo, que as atividades extracurriculares sejam sinónimo de experiências de crescimento, em tamanho e em emoções!

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