Somos feitos de forças e fragilidades, sendo que algumas forças nos tornam frágeis e algumas fragilidades nos tornam fortes. É muito mais fácil conviver com as forças porque sentimos que nos elevam e são mais apreciadas socialmente, do que reconhecer e aprender a lidar com emoções, estados ou traços, que nos fazem sofrer e que nos colocam aos olhos dos outros como frágeis, fracos e pouco capazes. Mas na verdade, quer queiramos ou não, temos tanto de frágeis como de fortes, e quanto mais conseguirmos olhar para as fragilidades sem medo e com coragem, mais capazes estaremos para vivenciar as nossas forças.
O ser humano tem esta tendência para evitar experiências desagradáveis que o tornam vulnerável, muitas vezes até através das suas forças.
Quantos de nós mergulhamos em excesso de trabalho, às vezes, porque temos uma grande capacidade empreendedora e de eficácia (forças) para fugir de uma dor, dum problema ou de algum estado emocional que dói e nos torna vulneráveis (fragilidades)? Acredito que muitos de nós já o fizeram e que, nestes casos, é a própria força que faz aumentar a dor pela negação (fuga da dor), levando também para um caminho de exaustão.
Como sociedade e cultura ainda vemos com pena daquilo que nos faz sofrer como se pudesse existir a possibilidade de não termos fragilidades, sendo que é muitas vezes este ponto de partida de pena, vergonha e do medo da reprovação e opiniões exteriores, que não normalizam e integram esta dimensão das fragilidades.
Questionando tudo isto e partindo da verdade que todos temos fragilidades e que é a não aceitação das mesmas que nos torna efetivamente mais frágeis, que enfraquecem os nossos relacionamentos, que bloqueiam os vários contextos profissionais e que nos colocam em redomas de sofrimento isolados do mundo, vamos perceber então as verdadeiras forças das vulnerabilidades.
As verdadeiras forças das vulnerabilidades
Se pensarmos nas vezes que nos sentimos muito stressados ou muito ansiosos e tentamos esconder esse estado, vamos conseguir perceber que este esconder ainda aumentou mais tudo o que estávamos a sentir e a viver, aumentando também o medo de nos voltarmos a sentir mal em contextos semelhantes.
Se nos lembrarmos de quantas vezes nos nossos relacionamentos mais importantes e íntimos, acabámos por fingir que não nos incomodou um comportamento ou acção da outra pessoa e não o partilhámos, vamos perceber que isso nos afastou mais dela e nos tornou mais sofredores dentro de nós, do que ajudou. Multiplicando um evento por muitos o efeito pode ser ainda mais desastroso.
Também no contexto de trabalho, quantas vezes demorámos a fazer uma tarefa porque simplesmente tivemos medo de pedir ajuda e de perguntar como se fazia, tornando o processo muito mais doloroso e demorado?
São muitos os exemplos e em vários contextos, onde conseguimos perceber que quando escondemos as nossas fragilidades, dúvidas, inquietações, perspectivas ou vulnerabilidades isso nunca nos torna mais fortes, antes pelo contrário, porque ficamos envolvidos em vergonha, em excesso de preocupações, em culpa e muito mais ruminativos e stressados.
Acredito que a melhor forma de lidarmos com as emoções, como o medo, a tristeza, a raiva, a desilusão, a perda e tantas mais, que sentidas de forma recorrente podem criar estados – de ansiedade, depressão, desânimo, culpa, vergonha -, traços ou traumas é assumir que todos as sentimos e que todos precisamos de perceber que em si não são elas que nos tornam incapazes, fracos ou más pessoas. Por outro lado, quanto mais falarmos sobre o que sentimos de menos bom, mais leves e fortes nos vamos sentir depois, criando pontes, partilhas, estratégias e reflexões com aqueles que são mais importantes para nós. Por exemplo, se quando estivermos ansiosos, enviarmos uma mensagem a um amigo ou familiar a partilhar o que estamos a sentir, isso vai automaticamente fazer sentirmo-nos mais leves, criar possibilidades e soluções e tornar as nossas relações mais verdadeiras.
Quando começamos a reconhecer e a permitirmo-nos partilhar as nossas emoções mais pesadas e mais difíceis de digerir, o estado de ansiedade geral vai diminuir.
Quanto mais tentarmos afastar as emoções que nos doem, mais força elas vão ganhar. Por outro lado, quanto maior for a permissão, a liberdade e a espontaneidade para as partilhar e libertar mais mecanismos encontraremos para as ultrapassar. Alguns dos comportamentos mais destrutivos que assumimos, como comer em excesso, beber, fumar e outros tipos de adições estão relacionados com a presença da vergonha por aquilo que se está a sentir, pela dificuldade em partilhar e em pedir ajuda, e pela incapacidade de transformar emoções e momentos mais dolorosos.
Não são as vulnerabilidades e as fragilidades que nos enfraquecem, mas a forma destrutiva, envergonhada e melindrada como lidamos com elas.
Quanto mais expressão lhes dermos, mais fortes nos tornaremos.