As minhas Memórias das Árvores de Moçambique

Fátima Lopes // Março 21, 2019
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Tive a felicidade e o privilégio de viver em Moçambique, mais especificamente em Maputo, de 1977 a 1980. Tinha 8 anos quando saí de Portugal e 11 quando regressei. Esta é, sem dúvida, a fase da minha vida que me lembro melhor e das que guardo mais memórias.

É maravilhoso porque, não só tenho bem presentes os vários acontecimentos que vivi nessa época, como também tenho memórias visuais e até olfativas de tudo.

Já andei por muitos países do mundo, mas nenhum tem o cheiro e a energia de Moçambique.

Quando chegámos, nos primeiros passeios que dei com os meus pais e irmã pela cidade de Maputo, fiquei altamente impressionada com as árvores. Eu era muito baixinha para a idade e aquelas árvores que ladeavam muitas das avenidas da cidade, eram imponentes.

Para uma criança que toda a vida vivera no Barreiro, onde árvores eram coisa que não abundava, muito menos com aquele porte, aquilo era no mínimo impressionante.

Eu ia todos os dias a pé para a escola. Não sei qual era a distância. Sei que era longe e que eu levava cerca de meia hora em passo rápido. Passava por avenidas imensas pejadas de inúmeras acácias, com cores vivas e diferentes. Hoje sei que as minhas preferidas eram as rubras. Na altura só me lembro de pensar que eram lindas.

Também as ruas pequenas, onde só existiam moradias, tinham os seus passeios dominados pelas deslumbrantes acácias. As suas enormes e robustas raízes invadiam os passeios, obrigando os peões a uma verdadeira gincana. Para nós, miúdos, até isso era divertido e desafiante.

As árvores protetoras

Mas para além destas memórias associadas às árvores, tenho uma outra de uma viagem que fizemos para os arredores de Maputo. Sei que foi num fim de semana e era uma iniciativa que juntava muitas famílias portuguesas cooperantes em Moçambique. O objectivo era plantar, creio que batatas, num vasto terreno agrícola e ajudar as populações a recuperar mais rapidamente a capacidade de produzir o que precisavam para comer.

Lembro-me que quando parámos para almoçar, fomos conduzidos até uma árvore gigante, com um diâmetro de tronco enorme e cuja sombra era suficiente para todo o grupo. Tenho bem presente o quanto isso me impressionou. Como é que uma árvore só, podia albergar e proteger tanta gente do calor tórrido daquele dia? Esta ficou para mim a árvore de Moçambique. Cada vez que viajo para lugares tropicais, procuro um exemplar similar. Ainda não o encontrei.

São estas árvores mágicas de Moçambique, como os grandes embondeiros, que depois da passagem do Ciclone Idai, têm ajudado a salvar as vidas daqueles que esperam pacientemente, em cima destas árvores, que alguém os resgate.

Talvez porque a magia de Moçambique é única e só acontece quando tenho a felicidade de estar lá. Como única é esta foto tirada com a minha mãe, nesse dia da jornada de trabalho.

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