A Parentalidade pode ser exercida por qualquer pessoa que assuma um conjunto de valores e tarefas envolvidos na educação e no desenvolvimento de uma criança. E todos sabemos que uma vida com crianças nem sempre é fácil… Juntamente com os abraços e os mimos, existem situações ao longo do crescimento da criança, com as quais os pais/cuidadores têm que saber lidar. Por isso, hoje, com base na parentalidade positiva, partilho estratégias para que a sua família viva em plena harmonia e felicidade.
Muitas vezes perguntam-me o porquê de as crianças não virem com manual de instruções e a minha resposta é muito simples, não é preciso. E porquê? Porque o segredo está numa boa comunicação e no respeito pelo indivíduo.
Uma boa comunicação e o respeito são a base de qualquer relação.
Numa relação entre um adulto e uma criança, esses valores tornam-se ainda mais importantes na medida em que as mesmas afetam as emoções das crianças (e as crianças mais novas ainda estão a descobrir o que é isto de ter emoções – o que são e para que servem) e a personalidade delas também (que se desenvolve nos primeiros anos de vida do indivíduo).
O que é importante as crianças experienciarem na infância?
Para que a criança cresça numa relação positiva com os pais e seus pares, se tornem cidadãos responsáveis e sejam capazes de ultrapassar obstáculos na vida adulta, existem fatores cruciais que as crianças devem experienciar na sua infância, tais como:
- A criança deve sentir-se amada e cuidada por todos à sua volta;
- Deve crescer com diretrizes que a vão ajudar a desenvolver o controle das próprias emoções e ter confiança nas suas próprias ações;
- Viver num ambiente rico em oportunidades de exploração do mundo e que lhe permita seguir as suas paixões e interesses;
- Deve ser reconhecida e valorizada como pessoa e ser integrada em grupos;
- Ser lembrada que é totalmente correto ser da forma que é. Não apontar defeitos ao corpo ou à sua personalidade;
- Ter uma primeira experiência educativa de excelência, com educadores, professores e auxiliares que a apoiem a ultrapassar qualquer obstáculo e que lhe dêem ênfase às suas qualidades, habilidades e interesses.
Para além destes fatores, os pais devem ter em conta que as crianças gostam de saber o que estão a sentir.
O cérebro de uma criança desenvolve-se até por volta dos seus 6 anos.
Muitas crianças ainda estão neste processo de desenvolvimento e, portanto, alguns pais pensam que as crianças estão a testar os limites do adulto, mas não. Estão apenas a tentar perceber quais as ações que determinam certas emoções em vocês, pais. E é aqui que entra a parentalidade positiva e as estratégias a adotar.
Parentalidade positiva – Que estratégias adoptar?
Por exemplo: Você diz para não mexer no comando, mas a criança vai mexer. E vai mexer porquê? Porque:
- Não foi explicado à criança o porquê de você não querer que se mexa no comando. Porque estraga? Porque magoa? Porque queima a mão? A criança não sabe o porquê e, então, se lhe explicar, pode ser que na próxima vez ela não tenha essa curiosidade em mexer;
- Fazendo o contrário do que lhe foi pedido (não mexer no comando), a criança vai ter a curiosidade em mexer para perceber que emoção lhe provoca. Ou seja, a mãe/o pai/o cuidador fica zangado, irritado, triste, chora ou ri? É importante lembrar-se que a criança não o está a provocar, mas, sim, a tentar perceber as emoções que o cérebro está ainda a assimilar.
Deixo-vos aqui algumas estratégias para uma parentalidade positiva, para aplicarem em casa com os vossos filhos:
. Ouvir a criança
Muitas vezes os sentimentos das crianças são rejeitados e elas ficam muito tristes e chateadas. Por vezes, os pais ainda tentam dar uma solução lógica, mas isso parece não ser o suficiente para ajudar. Então, se apenas ouvir a explicação da criança e dizer algo simples, como, por exemplo, um “OH”, faz com que a criança se sinta entendida.
. Dar nomes aos sentimentos
A criança está triste porque um amigo hoje não foi à escola. Diga à criança que o que ela está a sentir é tristeza. Por exemplo: “Oh meu amor, consigo ver que estás triste porque o teu amigo hoje não foi à escola”.
. Fantasiar acontecimentos
Pegando o exemplo anterior, diga à criança: “Vamos acreditar que o teu amigo amanhã volta à escola. Mas, se não voltar, amanhã ligamos para casa dele e dizes que tens saudades dele”.
. Criar uma lista de regras (em conjunto enquanto casal e pais) que gostariam de ver a ser respeitadas por todos os membros da família
Essas regras devem ser colocadas num local à vista de todos e devem essencialmente ser regras positivas e não de punição.
Os pais devem ensinar como aplicar estas regras nas situações básicas do dia-a-dia e tornarem-se os modelos ideais para os seus filhos. Sabemos todos que os filhos são o reflexo dos pais. Portanto, não se pode esperar que a criança faça algo sem a referência de um adulto.
Exemplos de regras a aplicar em casa:
- Tratar todos com respeito;
- Se usar alguma coisa, colocar de volta no local corretamente;
- No caso de sujar alguma coisa, limpar;
- Falar sempre a verdade e nunca ter medo de admitir um erro.
. Evitar culpar, chamar nomes, ameaçar ou dar ordens à criança
Alguns pais têm dificuldade em controlar os nervos e a sua irritabilidade. Exprima o que sente à criança e explique-lhe o porquê de você ter ficado triste com A ou B comportamento. Diga o que o irrita realmente, mas também reforce o que adora que aconteça. Por exemplo: “Eu não gosto mesmo nada quando acabas de brincar e deixas os teus brinquedos todos espalhados no chão, mas fico bastante feliz quando te lembras e guardas os teus brinquedos”.
. Ensine em vez de punir
Se punir uma criança vai perceber que a punição não surtiu o efeito que desejava, que seria a criança comportar-se corretamente. Então, em vez de recorrer à punição, ensine a criança a ter comportamentos corretos.
. Evite dizer “Não”
- Evite dizer à criança: “Não faças isso”. Diga antes: “Gostava que parasses de fazer isso”. O ‘Não’ surge aqui como uma imposição e, por si só, tem uma conotação negativa que devemos evitar quando queremos praticar uma parentalidade positiva.
- Ofereça outras opções à criança. Por exemplo, a criança quer beber um refrigerante. Em vez de dizer: “Não bebes isso”, diga antes: “Preferes beber água ou sumo de fruta?”.
Aplicando estas estratégias e adotando uma comunicação positiva, a vida familiar torna-se mais harmoniosa, aumentando a cumplicidade entre todos os membros da família.