Ora, mesmo quando tudo parece escuro, como nestes meses de pandemia, o Senhor continua a enviar anjos para consolar a nossa solidão repetindo-nos: «Eu estou contigo todos os dias». Di-lo a ti, di-lo a mim, a todos. Está aqui o sentido deste Dia Mundial que eu quis que se celebre pela primeira vez precisamente neste ano, depois dum longo isolamento e com um voltar, ainda lento, à vida social: oxalá cada avô, cada idoso, cada avó, cada idosa – especialmente quem dentre vós está mais sozinho – receba a visita de um anjo!”
Papa Francisco
Inspirei-me neste trecho da carta que o Papa Francisco escreveu dedicado aos avôs e às avós, neste que é o I Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, para escrever este texto e chamar a atenção para a importância dos idosos e dos avós.
A importância dos idosos e dos avós
Quando falo na importância dos idosos, não é com a visão de quem olha para pessoas frágeis e já pouco capazes, de quem não se pode esperar grandes novidades ou inovações porque estão, naquilo que alguns designam, na curva descendente da vida. Nada disso. Não é essa a minha visão.
Eu tenho uma visão muito positiva dos idosos.
Eu olho para um idoso e vejo-o sempre como alguém sábio, com mais experiência de vida que eu, capaz de me aconselhar, orientar e ensinar e que me ajuda a organizar as ideias e a perceber o que é que faz sentido pensar e sonhar. Penso no idoso como um mestre capaz de me fazer perceber, se aquilo que desejo precisa de um outro tempo e/ou de outras condições. Isso significa, que vejo o idoso como alguém empoderado pelo seu conhecimento e experiência.
Eu olho para um idoso e vejo afecto, vejo amor.
Vejo capacidade de amar e disponibilidade para receber amor.
Eu gosto de pensar num idoso como alguém que está uns anos à minha frente, mas que mantém inteira a capacidade de amar a vida, de querer fazer coisas, de querer ser ouvido, visto e valorizado. Alguém que sabe o perigo que a solidão representa e que grita, muitas vezes em silêncio, que não o deixem só. O idoso sabe que a solidão é uma das maiores fontes de tristeza, porque é quando há razão para se sentir esquecido. O idoso sabe o quanto uma palavra, um sorriso ou um abraço fazem a diferença.
Que não seja inútil tanto sofrimento, mas que façamos um salto para uma nova forma de viver e descubramos, uma vez por todas, que precisamos e somos devedores uns dos outros, para que a humanidade renasça. Ninguém se salva sozinho. Devedores uns dos outros. Todos irmãos.”
Papa Francisco
Há uma série de faturas que os idosos pagaram por causa desta pandemia – os idosos foram o grupo que teve números mais elevados de mortes, perderam muitos familiares, ficaram mais sozinhos do que era habitual… – portanto, quando o Papa Francisco chama a atenção para a forma como os idosos são tratados e a forma como esta pandemia os veio castigar ainda mais, no fundo está a lembrar-nos que estas pessoas estão num lugar onde nós esperamos estar um dia. Essa é razão mais que suficiente para que sejam olhadas com doses generosas de amor, respeito e consideração.
Os idosos têm muito para nos ensinar.
Em vez de continuarmos a olhar para os idosos sempre na perspectiva, do que é que podemos fazer por estas pessoas, lembremo-nos de inverter este olhar e pensar: “E, o que é que eles podem fazer por nós?”.
Quando um avô pára para ensinar a um neto os seus trabalhos da escola, ele está a passar conhecimento. Quando um avô se senta com um neto ou uma neta para lhe contar uma história da sua infância, ele está a partilhar conhecimento, afectos, memórias. Quando um avô ensina a um neto como é que se mexe na terra, como é que se cuida de uma planta, como é que se pinta, ele está a passar conhecimento, afecto e, de novo, está a criar ligação. Então, não pensemos sempre o que é que podemos fazer para ajudar os idosos, mas olhemos também para tudo aquilo que eles podem fazer para nos ajudarem a nós. E há muito que eles podem fazer. Desde logo, ensinar-nos a amar.
Quantas vezes os idosos sabem amar melhor do que nós e esquecemo-nos disso?
Nós, que estamos a precisar tanto de voltar a esse amor, à simplicidade da ligação entre as pessoas, ao olhar olhos nos olhos, à disponibilidade para ouvir, para sentir, para dar a mão ao outro. Muitos de nós, já não o sabem fazer, mas os idosos e os avós ainda sabem porque têm a riqueza da memória. Então, valorizemos todos estes aspectos. E, neste I Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, sejamos nós o tal anjo que o Papa Francisco falava e, mesmo que já não tenhamos avós, se pudermos visitemos alguém que sabemos que nos vai receber como se fossemos seus netos.
Amar, eu amo a vida. Gosto de escrever e também de pintar. Gosto de amar e de ser amado. Os velhos morrem porque deixam de ser amados.”
Jean Guitton
Nota: Fotografia por Verónica Silva