Alimente as paixões do seu filho

Inês Afonso Marques // Julho 15, 2021
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Aquilo que entusiasma o seu filho pode não ser aquilo que o entusiasma a si. Aquilo em que o seu filho se sente simultaneamente mais capaz e mais realizado pode fugir àquilo que poderia ter idealizado para ele. Aquilo que pode ser entendido como um talento do seu filho pode esbarrar naquilo que parecem ser as supostas áreas de eleição da família ou da sociedade. Aquilo que suscita o interesse dele pode até ser de difícil entendimento para si. Sim, garanto-lhe que muitas crianças e jovens crescem formatados quanto à existências de áreas de estudo ou mesmo de lazer “boas ou más”. Os interesses das crianças, que às vezes são uma espécie de obsessão temporária, em que tudo gira em torno do mesmo tema, traduzem coisas valiosas: significa que exploram aquilo que tem algum significado para elas, não se subjugando apenas àquilo que poderá corresponder aos interesses dos pais, por exemplo; significa que, mesmo que essas paixões no futuro não se traduzam em nada aparentemente concreto, levaram aquela criança a sentir o prazer que nasce de fazer descobertas sobre um determinado assunto e poder relacioná-las com outras descobertas e outros assuntos, permitiram que aquela criança crescesse em curiosidade, em ideias, em sonhos, em talentos.

“Eu sei que ele tem uma sensibilidade para a dança extraordinária, mas preferia mesmo que investisse num desporto de grupo.”

“Sou feliz nas minhas aulas de bateria, mas os meus pais insistem que deveria antes escolher outro instrumento.”

As paixões ajudam as crianças a descobrir que acontecem boas coisas quando fazem aquilo de que gostam. 

Descobrem, ainda, que a persistência na exploração as pode conduzir à mestria, ao aprimorar dos seus talentos. Talentos esses que os preenchem, os satisfazem e os ajudam a crescer em motivação.

Na verdade, pouco importa quais são as paixões e os talentos do seu filho, desde que ele demonstre paixão por alguma coisa. Essa paixão será o suficiente para que se sinta mais motivado para traçar objetivos e assumir uma postura ativa na prossecução desses objetivos. Quanto a si, o melhor que pode fazer é acompanhar e aplaudir essas paixões, conversando com os seus medos que lhe poderão estar a dizer que a escolha é pouco convencional ou que será pouco aceite pelos outros.

Faz o que adoras e adora o que fazes. 

Esta parece ser uma fórmula de sucesso, amplamente partilhada por empreendedores de êxito. Para chegarem lá tiveram quem apoiasse as suas paixões, tiveram quem os encorajasse a explorar e lhes desse espaço para tal, tiveram quem se preocupasse mais com as competências de vida do que com as notas da escola, tiveram quem confiasse neles e os incentivasse a confiar neles próprios, tiveram quem com eles visse os obstáculos como oportunidades, tiveram quem os ajudasse a desenvolver a autocompaixão, inspiraram-se e fizeram aquilo que adoravam e em que se sentiam mais capazes, com apoio incondicional, longe de registos de superproteção.

Mentalidade de crescimento vs mentalidade fixa

Carol Dweck, psicóloga da Universidade Stanford, no seu livro “Mindset: The New Psychology of Success, realça a ideia de que as crianças, quando são reforçadas pelos percursos que fizeram, se sentem inspiradas a trabalhar mais arduamente e a querer alcançar mais. Ela mostra como o sucesso na escola, no trabalho, no desporto e nas artes pode ser vincadamente influenciado pela forma como olhamos para as nossas capacidades e talentos. Pessoas com uma mentalidade fixa têm menor probabilidade de florescer do que as que têm uma mentalidade de crescimento, pois acreditam que as capacidades podem ser trabalhadas. A confiança é reforçada quando se percebe que as conquistas (as boas notas, as medalhas, um louvor…) resultam dos seus esforços e é ainda mais reforçada quando o orgulho dos pais está lá, mesmo quando as suas conquistas são em áreas que os pais não privilegiam ou não teriam escolhido. Na mentalidade de crescimento, o erro é entendido como algo natural; ao invés, numa mentalidade fixa, o erro é visto como uma derrota, como algo irrecuperável.

Quando se fomenta uma mentalidade de crescimento, há desejo de aprender em qualquer área, e, portanto, uma tendência para:

  • abraçar desafios;
  • enfrentar contratempos;
  • ver o esforço como o caminho para a mestria;
  • aprender com o feedback, nomeadamente do que decorre de um erro;
  • se inspirar nos outros;
  • se arrumarem visões deterministas do mundo e do próprio;
  • se crescer com liberdade.

Um convite à reflexão…

Sugiro que vejam juntos “Soul”, o filme da Pixar lançado em Dezembro de 2020. É um filme fantástico que fala de interesses, de sonhos e de paixões. É uma inspiração para recalibrar prioridades. É um convite à reflexão sobre as perguntas importantes, tantas vezes esquecidas, que a vida convida a fazer. É um filme infantil que acredito até ter maior eco em si do que no seu filho, se ele ainda for pequeno. Mas o eco que tiver em si ressoará na vossa relação.

11 Dicas para fomentar as paixões e os talentos, assim como a autoconfiança do seu filho

Para fomentar as paixões e os talentos, assim como a autoconfiança do seu filho, procure:

  1. Reparar (dando atenção, elogiando, partilhando com outras pessoas) naquilo que ele faz bem;
  2. Não fazer elogios que escondem críticas (!Parabéns pela ótima nota. Isso foi sem estudar, imagina o que conseguias ter se tivesses estudado”; “O teu desenho está muito giro, mas eu experimentava acrescentar mais alguns pormenores”; “Conseguiste acabar o puzzle, mas se me tivesses ouvido teria sido mais rápido.”);
  3. Expressar tudo aquilo que valorizo nele, além do desempenho (bondade, persistência, justiça…);
  4. Tratá-lo como alguém a “aprender a ser e a fazer…” e não como “alguém incapaz de ser ou de fazer…”;
  5. Não impor as suas expectativas ou definições de sucesso;
  6. Incentivá-lo a fazer escolhas;
  7. Respeitar as escolhas dele;
  8. Dar-lhe oportunidades de praticar;
  9. Deixá-lo correr riscos;
  10. Não ativar a vergonha;
  11. Apoiá-lo e incentivá-lo em novos desafios e experiências.

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