Ainda é Maio? É que já vivi tanto...

Fátima Lopes // Maio 20, 2020
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Acordei surpreendida por ainda ser Maio. Às vezes preciso de ir ao calendário e verificar se realmente é mesmo assim.

Tal como a maior parte de vós, este ano tenho feito um crescimento em passo acelerado. Não um crescimento esperado, mas, sim, um crescimento se calhar até forçado porque as circunstâncias assim o tem obrigado.

Como é que ainda estamos só em Maio?

Meu Deus! Tanta coisa que já vivemos.

Já passámos por uma quarentena, pelo isolamento social do qual ainda estamos a fazer o desconfinamento. Já passámos pela total e absoluta ausência de contacto com quase todas as pessoas que amamos. Já passámos pelas mudanças radicais das nossas rotinas diárias, pela entrada de mil e uma novas rotinas. Já passámos por deixar de levar os filhos à escola e trazer a escola para dentro de nossas casas. Já passámos por deixar de fazer reuniões presenciais e concretizar todas pela internet. Já passámos por não ter qualquer convívio com os nossos amigos. Jantares ou almoços, passaram a ser só com os que vivem connosco. Adormecemos a vontade de dar passeios ou fazer visitas. Alguns de nós perderam alguém que amam e não nos podemos despedir como gostaríamos. Já passámos por tudo. E no final, não restam dúvidas que a nossa casa virou, efectivamente, o nosso maior templo.

Isto tudo já aconteceu e ainda estamos só em Maio. E, agora? O que é que fazemos com tantas novas experiências?

E agora?

Que aprendizagens tiramos daqui? Que ensinamentos? Há muitas coisas boas que já podemos concluir, tais como, por exemplo: a nossa casa guarda muito mais respostas do que nós imaginávamos. Afinal, nela conseguimos fazer um milhão de outras coisas que desconhecemos saber fazer em casa.

Eu descobri que afinal sou muito mais competente em áreas que não sabia ser. Consigo ocupar, numa pequena parte, o papel do professor. Se eu já era uma pessoa que admirava os professores e os educadores de infância, agora tenho muito mais consciência do valor do seu trabalho. Consigo acumular a monitorização e apoio escolar, com o teletrabalho e, apesar de ser com muito investimento, vou finalmente conseguindo agora ter tudo em dia. Levei tempo a chegar lá porque foi preciso encontrar novas estratégias e organização. Consigo também algo que me surpreendeu: uma capacidade criativa multiplicada. Parece que cada dia acordo com mais uma ideia nova, de qualquer coisa que ainda não fiz e que ainda não coloquei em prática. E isto é algo que me deixa profundamente feliz. Ou seja, como consequência de tudo o que estou a viver, fiquei com muito mais criatividade e vontade de fazer coisas novas e diferentes.

O estreitamento das relações familiares e afectivas

O estreitamento de relações e a maior aproximação ainda, com aqueles que viveram este período em casa connosco, no meu caso, com os meus filhos. Ficámos ainda mais próximos, mais unidos. Aprendemos a importância de comunicar mais vezes olhos nos olhos. Aprendemos a valorizar cada vez mais os abraços e os beijos.  Estarmos juntos passou a ser um privilégio. A gratidão ganhou terreno nas nossas vidas. Agradecer por pequenas coisas que compõem os nossos dias, como, por exemplo, “obrigada filha por este sumo de laranja que me estava mesmo a apetecer”. Tanta coisa mágica que vivemos em casa!

O confirmar quem são, realmente, os verdadeiros amigos porque para esses não há ausência, só física. De resto estão sempre à distância de uma mensagem, de um telefonema, de uma videochamada, mas sempre, sempre presentes.

Uns pais incansáveis que continuam a ser mega pais e avós mesmo nestas circunstâncias e uma família que faz sentir que afinal a distância é uma coisa relativa.

Nunca mais pensei em distância como quilómetros.

Isso nem sequer me passa pela cabeça. E a minha única irmã vive a mais de 400 km. Tudo isto são ensinamentos e oportunidades para a seguir fazermos melhor. Quando nós retomarmos muitas das coisas que ainda não podemos fazer – não é voltar à vida normal porque não vamos voltar à vida normal, a nossa vida vai passar a ser outra e eu acredito que melhor! – , seremos outras pessoas.

2020 ficará marcado como um ano de profundo crescimento

Eu fiquei ainda com uma capacidade acrescida de monitorizar pessoas, de lhes ler a alma, de as entender, de as perceber, de olhar com olhos de ver e ouvir com ouvidos de escutar. E isso são tudo mais valias, tudo passos que dei em, nem meio ano.

2020 está a ser um ano muito desafiante, está a ser uma grande oportunidade, uma gigante oportunidade. E quando me pergunto, “ainda é Maio? Meu Deus! E já vivi tanto”, aconteça o que acontecer daqui para a frente, 2020 vai ficar marcado na minha vida como um ano de profundo crescimento.

Nota: Fotografia por Verónica Silva

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