A vizinha Brígida vivia duas casas abaixo na mesma rua estreita entre muros onde quase ninguém passava.
Saía de casa manhã cedo para cuidar das terras sem ajudas lá de casa que o homem já não podia das pernas e aqueles terrenos são bravos e acidentados.
A pobreza sentia-se lá em casa a viver paredes meias com uma generosidade que traduzia nos sacos de cebolas e batatas e o garrafão de azeite que deixava com discrição junto à porta da senhora professora.
E que nada ali faltasse “era só dizer que a ser preciso era só pedir à terra que amanhava, que era ali perto, que não custava” curvada sob o peso da sachola que manobrava com aquelas mãos estragadas pelas artroses que os anos foram deixando.
À tarde, o recanto na curva da estrada era dela. Ali ficava horas a fio até que o dia se fizesse escuro e lhe dissesse que era preciso regressar.
Fazer o mesmo caminho a contar os euros que tinham rendido a venda das cerejas ou do azeite que tinha carregado no sonho de que alguém parasse e levasse aquelas “pérolas de suor” que lhe pagavam a conta da luz.
A vizinha Brígida voltava pela tarde com o mesmo olhar com que tinha saído pela madrugada. Cansada, gentil, com a grandeza dos corações nobres a largar na soleira da porta o que havia sobrado…que nem sempre as tardes solitárias na sombra do castanheiro haviam sido proveitosas…
Obrigada por ser…vizinha Brígida!