A verdade sobre a maternidade

Inês Gaya // Abril 25, 2019
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Quem pinta a maternidade como algo romântico, só está a contar metade da história.

Ser mãe foi a experiência mais transformadora que já vivi até hoje. Foi, sem dúvida, uma morte e um renascimento, um momento de profunda desconstrução e, ao mesmo tempo, uma oportunidade incrível de me observar, trabalhar em mim muitas coisas que estavam no meu inconsciente e reinventar-me, criando uma nova versão de mim mesma!

Esta experiência tornou-me, sem dúvida, uma mulher mais real e uma terapeuta mais humilde perante a magia que é ser mulher!

Mas algo que senti quando estava grávida e quando o meu filho nasceu, é que não se falava do lado desafiante da maternidade, não se partilhava sobre a profundidade desta experiência, sobre a parte emocional e de como, muitas vezes, a maternidade pode ter um lado assustador, angustiante e até doloroso.

Ninguém falava do lado angustiante da maternidade.

Quando comecei a partilhar de forma honesta a minha experiência com outras mães, muitas delas acabavam por confessar que partilhavam do mesmo sentimento e aí, percebi como era importante, e até urgente, falar sobre a maternidade de uma forma mais verdadeira, sem medo do julgamento dos outros.

Privei com muitas mães à “beira de um ataque de nervos”, mães em depressão, desesperadas por ajuda, mas a viverem todo aquele turbilhão no mais profundo silêncio…

Um silêncio pelo qual optam ainda muitas grávidas e recém mamãs, porque socialmente a maternidade é vista como “um mar de rosas” e o mundo espera que as mães sejam os seres mais felizes, impecáveis e disponíveis do universo!

O mundo espera a perfeição… E claro que a perfeição não existe, existem sim mães imperfeitas e reais, e é para elas que escrevo estas palavras:

“Querida mulher e mãe, não estás sozinha, eu também sou uma mãe imperfeita que ama do fundo do coração o seu filho e dá o seu melhor a cada dia, uma mãe que passa dias a fio de pijama sem sair de casa e sem conseguir pentear o cabelo ou até tomar um banho calmamente.

Eu também choro de cansaço e frustração quando passa o dia e vejo que não consegui fazer nem 10% do que tinha planeado… eu senti dores a amamentar e tive várias vezes vontade de desistir… eu olho para o espelho e ainda me custa aceitar todas as mudanças que o meu corpo sofreu… às vezes, tenho saudades de quem eu era antes de ser mãe, tenho saudades do tempo para mim, da liberdade e de dormir uma noite seguida…

Muitas vezes sinto saudades de fazer aquela massagem, ir de férias sozinha e ler um bom livro no silêncio…

Mulher, eu quero dizer-te que te admiro como mãe, eu honro-te e aceito-te em todas as tuas partes! Quero dizer-te que não precisas mais de te sentir culpada por, por vezes, te faltar a paciência, por te sentires exausta ou por não saberes o que fazer com o turbilhão de emoções que sentes dentro de ti.

Valida todas as tuas partes, todas as tuas emoções, partilha a tua verdade com outras mães e se precisares pede ajuda…

Tu importas, o teu bem-estar e felicidade importam e a tua verdade e integridade é o melhor presente que podes dar a ti, ao teu filho, família e a todas as mães.”

Eu sonhei ser mãe e adoro ser mãe!

Sinto-me uma privilegiada por poder conhecer esta dimensão do Amor, o meu filho foi planeado e amo-o com todas as minhas células.

É ele que arranca de mim o meu melhor sorriso, é por ele que trabalho para ser uma melhor pessoa todos os dias e, é por ele que escrevo estas palavras em verdade, por ele, por mim e por todas as mães reais e perfeitas na sua imperfeição.

É importante falar da maternidade em todas as suas facetas pois só assim todas as mães irão conseguir libertar-se da culpa e viver por inteiro esta experiência tão rica e transformadora.

É preciso criar espaço para que as mães possam expressar as suas emoções com totalidade e sem julgamentos, pois a maternidade é um processo de luz mas também de sombra, onde há um enorme potencial para o auto-conhecimento e crescimento, mas precisamos vivê-lo com presença, consciência e integridade.

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