Caros Caminhantes,
Após termos andado, nestas últimas crónicas, por terras Açorianas, eis que finalmente chegamos à maior serra de Portugal Continental: a Serra da Estrela. Hoje proponho descobrirmos um belo percurso de Faias, denominado PR13 de Manteigas.
À nossa frente, majestoso, está aquele que é um dos maiores vales glaciares da Europa, onde há cerca de 20.000 anos, forças monumentais moldaram toda esta paisagem e pressionaram a rocha granítica de tal forma, que ainda hoje se pode perfeitamente perceber por onde a massa de gelo, com cerca de 13km de comprimento e por vezes com 300m de altura, passou. Referimo-nos ao Vale do Zêzere, por ser muito perto do seu início que nasce este rio, ou Vale de Manteigas, como também é conhecido, por terminar nesta vila. Ao fundo, por trás deste maravilhoso vale e ligeiramente à sua direita estão duas das grandes sentinelas desta serra, o Cântaro Gordo e o Cântaro Magro, dois enormes penedos com várias centenas de metros de altura. Mas não é só por paisagens dramáticas que esta região é constituída. Em plena harmonia com a agricultura e pastorícia, que ainda se praticam por estas paragens, temos zonas bem verdes cujo contraste com a aridez das terras altas e o branco da neve (nas estações frias), potencia ainda mais a beleza desta região. É assim o passeio perfeito para o trinómio serra, gentes e costumes.
É neste estupendo enquadramento que iniciamos o nosso percurso por num estradão por cima da serrana vila de Manteigas, que parece minúscula perante tanta monumentalidade à sua volta. Umas centenas de metros à frente, começamos a subir e entramos numa zona florestal. A Rota das Faias é uma experiência sensitiva que vai muito para além da beleza visual, pois também somos presenteados por vegetação olfativa desde o rosmaninho, à hortelã brava, ao tomilho e à alfazema, que se fundem com a densa floresta num quadro de cores que só a natureza e as estações conseguem pintar.
Após cerca de 45 minutos a caminhar, deparamo-nos com a centenária Capela de São Lourenço, lugar de culto de reminiscências pagãs, relacionada com a adoração das árvores e do Sol. No solstício de Verão, quem está em Manteigas vê o sol nascer em S. Lourenço. À sua volta erguem-se, imponentes, um conjunto de monumentais Carvalhos com cerca de 400 anos de idade. São uma preciosa parte do passado e um testemunho vivo da história. No local existe uma placa que, para além de explicar o enquadramento e relacionamento ancestral entre a capela e os Carvalhos, tem um poema de Miguel Torga que a estes últimos é dedicado. Um pouco mais à frente da capela temos um miradouro de onde as vistas são esmagadoras. (2ª parte continua na próxima crónica).
Boas caminhadas,
Teresa Oliveira
teresaoliveira@portugalwalkhike.com