No Dia da Escrita à Mão, decidi escrever um texto para poder expressar o que sinto sobre este meu velho hábito.
Hoje podemos fazer tudo digitalmente e não gastar uma única folha de papel. A verdade é que há coisas que não consigo “confiar” ao digital. Ando sempre com blocos/cadernos onde aponto as minhas tarefas, as informações das reuniões em que participo, os projetos que estou a desenvolver e os objetivos que quero concretizar. Há um bloco para questões profissionais, um para tarefas pessoais/ familiares e outro para os apontamentos dos retiros e workshops em que participo.
Tranquiliza-me ler as páginas em papel.
Tenho a sensação que a informação se arruma mais facilmente na minha cabeça e que sou mais eficaz a concretizar o que delineei.
Escrever à mão continua a ser uma paixão para mim.
De tal forma que quando começo a pensar num novo livro, o esqueleto da história, assim como a definição das personagens, é todo feito em papel. Só depois me lanço ao computador.
Sinto que a escrita à mão me inspira.
Não sei porquê. Talvez por, desde pequena, ter gostado sempre muito de cadernos, blocos e materiais onde pudesse escrever e ter sido um bem escasso. Nos anos em que vivi em Moçambique, dos 8 aos 11, tinha dois ou três cadernos com que fazia o ano lectivo todo e não podia usar as suas páginas para nenhuma atividade lúdica, porque quando terminasse a última página era muito difícil comprar novos, simplesmente porque não existiam nas lojas.
Quando cheguei a Portugal, havia muito para comprar, mas as dificuldades económicas impunham que se poupasse os cadernos e os aproveitasse ao máximo. Resumindo, para mim passaram a ser bens que merecem todo o respeito. E quando compro ou me dão um bloco novo, já sei que não é para ficar morto numa prateleira. É, sim, para ganhar vida com aquilo que nele vou escrever.
A característica única da escrita à mão
Escrever à mão, tal como escrever no computador, exige a minha criatividade, conhecimento, intenção e organização. Só que a escrita à mão tem uma característica que é única: tem a energia do momento em que eu escrevo. A nossa letra não está sempre igual, porque o nosso estado de espírito altera-se conforme o que estamos a viver. É por isso que vou continuar a escrever à mão e a revisitar cadernos antigos, recordando momentos da vida que já passaram e que muito me ensinaram.