A Naturopatia enquanto sistema de saúde holístico e multimodal

Vasco Romãozinho // Dezembro 29, 2022
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A Naturopatia é um tipo distinto de medicina de cuidados primários que combina antigas tradições de cura com os avanços científicos mais atuais. É um sistema de saúde holístico e multimodal. 

Em Naturopatia e, por oposição a uma visão reducionista, o indivíduo é visto como  um todo, reconhecendo-se a interconectividade entre os diferentes sistemas do  corpo humano. De forma sucinta, e como escreveu Aristóteles há mais de dois mil anos atrás: 

O todo é maior do que a simples soma das suas partes.”

Aristóteles

As modalidades terapêuticas utilizadas pela Naturopatia incluem o aconselhamento  dietético naturopático, a fitoterapia, a aromaterapia, a suplementação ortomolecular, a  homeopatia, a hidroterapia, as técnicas manipulativas e a orientação sobre estilos de vida. Assim, a Naturopatia constitui-se como alternativa aos cuidados de saúde convencionais, sendo que em determinadas circunstâncias, pode também atuar de forma complementar a estes

8 Modalidades terapêuticas utilizadas pela Naturopatia:

1. Aconselhamento Dietético Naturopático 

Hoje, com tantas dietas da moda e mitos sobre saúde, é quase impossível saber por  onde começar quando se pretende adotar uma alimentação mais saudável. No entanto, a evidência científica existente não deixa margem para dúvidas sobre qual o tipo  de alimentação mais indicada para o ser humano. A mensagem deve ser clara e inequívoca: devemos reduzir o consumo de sal, açúcares adicionados e gorduras saturadas e trans, e aumentar o consumo de alimentos integrais de  origem vegetal.  

Evidência científica: 

Segundo Dong D Wang et al. JAMA Intern Med. 2016, a substituição de gorduras saturadas por  ácidos gordos polinsaturados e ácidos gordos monoinsaturados foi associada a reduções  estimadas na mortalidade total de 27% e 13%, respetivamente.  

Segundo Dagfinn Aune; Adv Nutr. 2019, em meta-análises de estudos prospectivos, foram observadas associações inversas entre a ingestão de frutas, vegetais, cereais integrais e oleaginosas e o risco de doença arterial coronariana, acidente vascular cerebral, doença cardiovascular em geral, cancro total e mortalidade por todas as causas. 

2. Fitoterapia 

O uso de plantas medicinais é tão antigo quanto a própria humanidade. A mais antiga evidência escrita do uso de plantas medicinais foi encontrada numa laje de argila suméria de Nagpur, com aproximadamente 5.000 anos. 

Os Vedas, livros sagrados do Hinduísmo datados entre 1500 a 2000 a.C., mencionam  numerosos tratamentos com plantas medicinais. O Papiro Ebers, um dos tratados médicos mais antigos e importantes que se conhece e datado de aproximadamente 1550 a.C., refere plantas medicinais como o aloé, o sene, o alho, o salgueiro, o zimbro, entre outras. As obras de Hipócrates (459-370 a.C.) contêm 300 plantas medicinais classificadas por ação  terapêutica. Tanto a Bíblia, como o livro sagrado judaico o Talmud, descrevem tratamentos com plantas  medicinais como a murta ou o incenso, entre outras. 

Na história antiga, o escritor mais proeminente sobre plantas medicinais foi Dioscórides,  médico militar do exército de Nero e pai da farmacognosia através da sua obra “De Materia Medica”, a principal fonte de informação sobre plantas medicinais desde o século I até ao final  da Idade Média e Renascimento. 

Evidência científica: 

Segundo H Gerhardt et al. Z Gastroenterol. 2001, o presente ensaio clínico randomizado e  duplo-cego comparou a eficácia e segurança do extrato de Boswellia serrata com a Mesalazina no tratamento da doença de Crohn ativa, tendo concluído que a Boswellia serrata parece ser superior à Mesalazina em termos de avaliação risco-benefício. 

Segundo S Yancheva et al. Aging Ment Health. 2009, o presente ensaio clínico randomizado e duplo-cego comparou os efeitos do Ginkgo biloba com o Donepezil em pacientes com doença de Alzheimer, tendo concluído não existir diferença significativa na eficiência entre ambos.  

3. Aromaterapia 

A aromaterapia é a prática do uso de óleos essenciais com finalidade terapêutica. 

Aromaterapia é um termo relativamente recente, tendo sido cunhado pelo químico francês René Gattefossé em 1928. No entanto, o uso de aromas perde-se no tempo, tendo feito parte integrante do quotidiano de várias civilizações

Na Índia, o compêndio Rigue Veda contém mais de 5000 fórmulas herbais e suas aplicações, sendo que muitas dessas fórmulas eram administrações de óleos essenciais (sândalo, gengibre,  mirra, etc.). No Egipto, o uso de óleos essenciais estava restringido à classe sacerdotal, sendo estes  utilizados na higiene e beleza, em rituais religiosos e para fins medicinais. Os gregos, que importaram grande parte do seu saber médico dos egípcios, e, dessa forma, a utilização de óleos essenciais, utilizavam-nos nos templos e em todas as cerimónias importantes. No Império Romano, a prática clínica com óleos essenciais era corrente, com Dioscórides a  fazer-lhes várias referências terapêuticas através da sua obra “De Materia Medica”. Na Europa da Renascença, Paracelso, médico suíço, alquimista, teólogo e filósofo, cunha a expressão quinta essência para se referir aos óleos essenciais. 

Evidência científica: 

Segundo I B Bassett et al. Med J Aust. 1990, através do presente ensaio clínico randomizado e simples-cego foi concluído que tanto o óleo essencial de Tea tree, quanto o Peróxido de Benzoíla, obtiveram uma melhoria significativa da acne leve a moderada, sendo de notar que os pacientes tratados com o óleo essencial de Tea tree, apresentaram menos efeitos adversos. 

Segundo Winai Sayorwan et al. J Med Assoc Thai. 2012, o objetivo do presente ensaio clínico foi investigar os efeitos do óleo essencial de Lavanda versus placebo sobre o sistema nervoso central, sistema nervoso autónomo e estado de espírito em humanos, sendo concluído que a utilização do óleo essencial de Lavanda em aromaterapia diminuiu significativamente a pressão arterial, frequência cardíaca e temperatura da pele, o que indica uma diminuição do estímulo autonómico e um efeito redutor do stress. 

4. Suplementação Ortomolecular 

A suplementação ortomolecular descreve a prática de prevenir e tratar doenças através da  administração de quantidades adequadas de substâncias normalmente presentes no organismo, nomeadamente as vitaminas, os minerais, os aminoácidos, os ácidos gordos, os antioxidantes, as enzimas e/ou os probióticos.  

Linus Pauling, biólogo molecular e vencedor de dois prémios Nobel em categorias distintas, o de Química em 1954 pela sua obra científica e o da Paz em 1962 pelo ativismo contra os testes  nucleares, foi quem cunhou o termo “Ortomolecular” em 1968 num artigo na revista Science. 

Evidência científica:  

Segundo Sharon L McDonnell et al. PLoS One. 2016, o objetivo do presente ensaio clínico foi investigar se a associação inversa relatada anteriormente entre a vitamina D e o risco de cancro pode ser replicada, tendo sido concluído que concentrações de vitamina D ≥40 ng/ml foram associadas a uma redução substancial no risco de todos os cancros invasivos  combinados.

Segundo Jinzhong Xiao et al. J Alzheimers Dis. 2020, através do presente ensaio clínico randomizado, duplo-cego e controlado por placebo foi concluído que a suplementação com probióticos é uma abordagem segura e eficaz para melhorar a memória em indivíduos com comprometimento cognitivo leve. 

5. Homeopatia 

A Homeopatia foi desenvolvida por Samuel Hahnemann (1755-1843), médico alemão que, insatisfeito com as práticas médicas do seu tempo, que incluíam a prescrição de metais pesados tóxicos, tais como o arsénio e o chumbo, ao estudar os efeitos nocivos que estes provocavam, descobriu que a doença podia ser tratada com quantidades muito pequenas da  substância que, em quantidades maiores, a causava. Um pouco à imagem das vacinas tradicionais.  

Hahnemann passou vários anos a testar em si mesmo e num grupo de voluntários uma ampla gama de substâncias como plantas, minerais e metais. Sendo que, para evitar efeitos prejudiciais, diluiu cada medicamento até atingir a maior diluição possível, mas que ainda produzisse uma resposta fisiológica. Essas experiências foram chamadas de provas e fazem parte dos fundamentos da medicina  homeopática

Evidência científica: 

Segundo M Weiser et al. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 1998, através do presente ensaio clínico randomizado, duplo-cego e controlado, foi concluída a eficácia e segurança do medicamento homeopático Vertigoheel vs dicloridrato de betaistina (controle ativo) no tratamento de pacientes com vertigem de várias origens. 

Segundo I R Bell et al. Rheumatology (Oxford). 2004, através do presente ensaio clínico randomizado, duplo-cego e controlado por placebo, foi concluído que a homeopatia  individualizada é significativamente melhor do que placebo na redução da dor e na melhoria  da qualidade de vida e saúde global de pessoas com fibromialgia. 

6. Hidroterapia 

A hidroterapia é a utilização da água em contacto com a pele ou mucosas, aproveitando o seu efeito mecânico e a ação da temperatura fria ou quente, para a prevenção e tratamento de  doenças. 

O uso da água como forma de tratamento é provavelmente tão antigo quanto a humanidade,  sendo o seu valor reconhecido praticamente por todas as culturas. 

Os médicos egípcios sempre deram grande importância aos tratamentos hidroterápicos. Nos cantos homéricos (1000 a.C.) fala-se de rituais de purificação com água que precediam a entrada no templo de Esculápio (ou Asclépio), o deus grego da medicina. Hipócrates (460-377 a.C.) fez amplo uso da hidroterapia, destacando o papel da pele para a desintoxicação do organismo. Sebastian Kneipp (1821-1897) foi o pai da hidroterapia moderna. 

Estimulado pelo livro do alemão Johann Siegmung Hahn, seguiu os seus métodos para auxiliar o tratamento da sua própria tuberculose quando tinha 28 anos. Mais tarde experimentou os poderes curativos da água em outros pacientes, sistematizando o  seu método hidroterapêutico. 

Evidência científica:  

Segundo Marcelo Branco et al. Eur J Phys Rehabil Med. 2016, o objetivo do presente ensaio  clínico randomizado, cego e controlado, foi avaliar a eficácia das águas quentes sulfurosas e não sulfurosas no tratamento da osteoartrite do joelho, sendo concluído que ambos os  métodos terapêuticos foram eficazes, no entanto, os banhos sulfurosos produziram efeitos mais duradouros do que os banhos de água não sulfurosa.  

Segundo Katrin Goedsche et al. Forsch Komplementmed. 2007, o objetivo do presente ensaio clínico foi investigar os efeitos das aplicações hidroterapêuticas, segundo Kneipp, na função pulmonar, gasometria, sistema imunitário e qualidade de vida de pacientes com doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), sendo concluído que as estimulações frias repetidas (afusões) podem influenciar positivamente a frequência de infeções respiratórias e melhorar o bem-estar subjetivo. 

7. Técnicas Manipulativas 

As terapias manipulativas são um conjunto de técnicas terapêuticas usadas para tratar e/ou prevenir disfunções dos tecidos musculares, conjuntivos, ósseos ou nervosos, tendo uma  história de utilização que remonta aos tempos antigos. 

A utilização das mãos como forma de cura está bem documentada no Antigo Testamento e foi apoiada por Hipócrates, que recomendou o seu uso no século 5 a.C.  

No século 2 d.C., Galeno recorria à medicina manual, nomeadamente a massagem e a  manipulação articular. Abu’Ali ibn Sina (980-1037), famoso médico árabe também conhecido por Avicena, escreveu um tratado fundamental sobre medicina onde incluiu o papel da medicina manual. O cirurgião renascentista Ambrose Pare recomendou que o tratamento da cifose torácica incluísse tração e pressão manual sobre as vértebras. O tratamento manual foi mais tarde desenvolvido na Europa por gerações de “endireitas” que  passavam a arte das técnicas manuais de um membro da família para outro. 

Evidência científica:  

Segundo Myung-Haeng Hur et al. Evid Based Complement Alternat Med. 2012, através do presente ensaio clínico, foi concluído que a massagem de aromaterapia foi significativamente mais eficaz na redução da dor menstrual em relação ao Paracetamol. 

Segundo Neşe Uysal et al. Int J Nurs Pract. 2017, o presente ensaio clínico randomizado e controlado, teve como objetivo avaliar o efeito de 2 métodos diferentes de massagem podal no controle dos sintomas em pacientes com cancro colorretal a fazerem quimio e radioterapia, sendo concluído que a massagem clássica foi eficaz na redução do nível de dor, enquanto a reflexologia podal foi eficaz na redução do nível de dor, fadiga e melhoria da qualidade de vida. 

8. Orientação sobre estilos de vida 

O poder do estilo de vida enquanto medicina foi defendido há milhares de anos atrás por Hipócrates que escreveu: “Se pudéssemos dar a cada indivíduo a quantidade certa de nutrição e exercício, nem pouco nem muito, teríamos encontrado o caminho mais seguro para a saúde”. Sendo que hoje existem dados científicos consistentes que indicam que  aproximadamente 80% das doenças crónicas e mortes prematuras poderiam ser prevenidas pela adoção de um estilo de vida saudável.  

Evidência científica:  

Segundo Stanley J Colcombe et al. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2006, através do presente  ensaio clínico, foi concluído que o exercício físico aeróbico está associado à preservação do tecido cerebral no envelhecimento humano. Além disso, estes resultados sugerem uma forte base biológica para o papel do exercício físico aeróbico na manutenção e melhoria da saúde do sistema nervoso central e funcionamento cognitivo em idosos. 

Segundo Madhuri Tolahunase et al. Oxid Med Cell Longev. 2017, através do presente ensaio  clínico, foi concluído que a intervenção de estilo de vida baseada no Yoga e Meditação, reduziu  significativamente a taxa de envelhecimento celular numa população aparentemente  saudável. 

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