Hoje, no Dia Mundial do Teatro, hesitei sobre o que escrever, numa época em que os teatros ainda estão fechados com tantos atores e técnicos sem trabalho, e sem um estatuto laboral que lhes permita um condigno apoio social. Pensei em relembrar a importância desta arte milenar no desenvolvimento das sociedades evoluídas ou até escrever sobre o que significa o teatro na minha vida e como através dele encontrei o meu caminho como homem e como artista. Depois lembrei-me de todos os atores que no último ano nos deixaram, sem aviso, sem que nos pudéssemos despedir e penso imediatamente na Cármen, na minha Cármen. Ainda não me habituei à ideia.
A Cármen, a minha Cármen. Ainda não me habituei à ideia.
Um mês antes de adormecer, foi assim que partiu enquanto lia um livro depois do almoço, falámos por telefone como tantas vezes fazíamos e a minha amiga de 96 anos, que temia sempre incomodar-me porque me achava sempre muito ocupado, falou-me do seu dia, dos seus projetos por realizar e da disciplina que viver implica. É preciso ter rotinas, fazer exercícios de memória, ler, escrever e cuidar de si e dos outros. Tenho presente a sua voz límpida, vibrante, cheia de lucidez a dizer-me, cuida de ti!
Obrigado Cármen
Sei que a Cármen dispensa as minhas palavras de reconhecimento, o seu talento e o seu contributo para a história do teatro em Portugal ficarão impressos nas palavras dos seus livros, nos registos audiovisuais dos trabalhos que realizou e na memória coletiva de um país que não a esquecerá. Mas, ainda assim, obrigado Cármen, por tudo…